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África discrimina mulher com Aids
enviado especial ao Rio
Mulheres africanas com Aids
compõem hoje o retrato mais dramático e cruel da epidemia. São
vistas como uma ameaça, não como vítimas. Em Uganda, como em
muitos países da África Negra, os
homens se recusam a fazer testes e
não informam suas mulheres
quando estão contaminados.
Oficialmente, há seis mulheres
ugandenses infectadas ou doentes
para cada homem. Quase todas pegaram a doença em relações sexuais com seus maridos.
Quando um homem morre de
Aids, a mulher perde as propriedades e até os filhos para a família do
marido. As viúvas infectadas, que
tentam se casar novamente, são
chamadas de ``assassinas de homens''.
Ao contrário, se é a mulher que
morre primeiro, a família do viúvo
providencia rapidamente outra
``mulher''. Essa mulher também
acabará infectada, porque no casamento poucos homens aceitam
usar preservativo.
Este cenário difícil de ser imaginado foi relatado por Beatrice Were no 8º Encontro Internacional
Mulher e Saúde que termina hoje
no Rio. Beatrice, 28, assistente social, coordena uma rede de comunidades de mulheres com Aids em
Uganda e representa o movimento
em toda a África. Ela é portadora
do HIV e perdeu o marido com
Aids há seis anos. Tem dois filhos,
mas não sabe se estão infectados.
Segundo Beatrice, Uganda tem
oficialmente 1,5 milhão de soropositivos e doentes de Aids entre seus
18 milhões de habitantes. Comparado com o Brasil, onde haveria
perto de 500 mil portadores e
doentes, a incidência em Uganda é
30 vezes maior.
Beatrice acredita que em seu país
o número deva ser muito maior,
pois só há um centro de testes no
país -na capital Kampala.
As mulheres aparecem em número tão maior porque muitas
passam por exames quando ficam
grávidas. Identificadas como infectadas, as mulheres são discriminadas, isoladas e vistas como culpadas no meio em que vivem.
As redes de mulheres com Aids
foram criadas para tentar reverter
essa situação.
``Nós, que temos HIV, somos as
únicas que podemos barrar o crescimento da epidemia'', diz Beatrice. ``Se convencermos os homens
a usar preservativo, os casos diminuirão'', diz.
``Fomos contaminadas em relações consideradas normais pela
sociedade. Não devemos nos sentir
culpadas ou envergonhadas.''
(AB)
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