São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2007

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Oficial não sabe regras do ar, diz controlador

Presidente da associação dos controladores, Wellington Rodrigues disse que FAB realizou uma "caça às bruxas" contra a categoria

Procurada, a Aeronáutica não se manifestou; declarações foram feitas durante encontro em Istambul, na Turquia

LEILA SUWWAN
ENVIADA ESPECIAL A ISTAMBUL

O presidente da ABCTA (Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo), Wellington Rodrigues, disse ontem que o Comando da Aeronáutica promoveu uma "caça às bruxas" contra a categoria e que é preciso desmilitarizar o setor porque os chefes são aviadores que "não entendem nada da dinâmica" da atividade.
Além disso, indicou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não estaria bem informado pela FAB da real situação da crise. Disse que havia "indicações" de que um acidente aéreo poderia acontecer antes da colisão entre o boeing da Gol e o jato da ExcelAire, em setembro do ano passado.
O comando da Aeronáutica foi procurado por telefone, mas não tinha se manifestado até a conclusão desta edição.
Rodrigues, que é primeiro-sargento e atua como instrutor e supervisor, fez as afirmações em uma apresentação ontem a cerca de 200 controladores de vários países em Istambul, onde ocorre a conferência da Ifatca (Federação Internacional das Associações dos Controladores de Tráfego Aéreo).
"Nossos chefes e superiores são todos aviadores militares que não entendem nada sobre a dinâmica do controle de tráfego aéreo e muitas vezes tomam decisões e dão ordens contraditórias às regras do ar. Mas, como somos militares, somos obrigados a cumprir as ordens", disse Rodrigues.
"Precisamos profissionalizar o serviço de controle de tráfego aéreo no Brasil, e a única forma é torná-lo civil", completou.
Ele descreveu a angústia e o medo no Cindacta-1 (Brasília) no dia do acidente. Controladores expressaram incredulidade com as dificuldades e a estrutura militar.
Durante a reunião, a única pergunta foi da delegação da República Dominicana: "O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é o comandante das Forças Armadas? Qual foi o papel dele nisso tudo?"
Rodrigues respondeu que o presidente não está bem informado sobre a situação dos controladores. "O problema é que quem passa as informações ao presidente é a Força Aérea. Se o presidente não fizer algo, vamos ter que concordar em negociar com os militares", disse.
"Os controladores brasileiros aguardam uma transição para um órgão civil e o reconhecimento da profissão. Mas o governo não demonstra urgência. Ao contrário, o comando militar começou uma caça às bruxas, rastreando os representantes da categoria e punindo com transferências arbitrárias, prisão e até expulsão das atividades", disse Rodrigues.
Ele confirmou a operação-padrão (seguimento estrito das normas) e a instauração de três IPMs contra ele, Edleuso Sousa (diretor da associação) e Carlos Trifilio (presidente da Federação Brasileira das Associações dos Controladores de Tráfego Aéreo) sobre o motim do dia 30. Rodrigues é também alvo de investigação militar por conta da operação-padrão realizada no fim do ano passado.
Ele disse também que o comando militar responsabilizou os controladores pelas panes de equipamentos durante a crise. "Fomos publicamente massacrados e acusados de sabotadores", afirmou.


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