São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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"Autônomos" resistem a cooperativa

DA REPORTAGEM LOCAL

Everaldino Ribeiro de Sousa, 43, é o último catador a chegar ao ferro-velho para pesar e vender o material que coletou durante todo o dia. São 18h, faz frio, e ele sua. Acha que conseguiu 200 kg em papel, ferro e papelão. Diz que ganha geralmente R$ 15 por dia.
A carroça é cedida pelo atravessador, e Sousa reclama que a balança "é viciada", mas resigna-se: "E tem outro jeito?".
Há cinco anos, ele acorda às 6h, pega o trem em Francisco Morato (Grande SP) e vai até a Barra Funda (zona oeste de SP) para catar lixo. Assim sustenta os três filhos.
Mesmo achando que poderia ganhar mais, o catador diz que não pensa em entrar para uma cooperativa. "Não é bom receber por mês", justifica. O dono do ferro-velho, que não quis se identificar porque não tem alvará, reclama que, com a concorrência, o preço dos produtos caiu.
Fábio Amorim de Almeida, 25, e Maurício Severiano Duarte, 21, vendem o papel que catam à noite para o mesmo depósito, que fica próximo a uma cooperativa de catadores. Eles conhecem o esquema, mas não querem se associar.
Ambos, que dizem ganhar até R$ 80 por semana, querem deixar a profissão. Almeida lembra que trabalha nas ruas desde os 13; e Duarte, desde os 11, ajudando a mãe.
"Uma vez fui comprar um tênis que custava uns R$ 200. Na hora de fazer o crediário, não tive coragem de dizer que era carroceiro e escrevi "depositário", que é quem pega o papelão e vende logo para quem recicla", conta Duarte.



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