São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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Cooperativa sofre rejeição

DA REPORTAGEM LOCAL

Catadores "autônomos" e cooperativados trabalham muito e ganham quase a mesma coisa. A principal diferença: quem está sozinho reclama de exploração, mas rejeita o modelo de cooperativa; quem está na associação se diz satisfeito com o que recebe e valoriza o treinamento e o apoio.
Everaldino Ribeiro de Sousa, 43, catador há cinco anos, é um dos que não querem entrar para cooperativa, mesmo achando que é explorado. "Não é bom receber por mês", justifica.
A carroça de Sousa é uma das 20 que são cedidas pelo dono de um ferro-velho na Barra Funda (centro) que não quis se identificar porque não tem alvará. Ele reclama que, com a concorrência, o preço dos produtos caiu.
Fábio Amorim de Almeida, 25, e Maurício Severiano Duarte, 21, vendem o papel que catam à noite para o mesmo depósito, que fica próximo a uma cooperativa de catadores. Eles também dizem preferir trabalhar por conta própria.
Ambos afirmam ganhar até R$ 80 por semana e querem deixar a profissão. "Uma vez fui comprar um tênis e, na hora de fazer o crediário, não tive coragem de dizer que era carroceiro e escrevi "depositário", que é quem pega o papelão e vende logo para quem recicla", conta Duarte.
"Quando a gente trabalha na rua, sozinho, é muito mais fácil se desestruturar e se envolver com álcool e drogas", afirma Carlos Roberto Fabrício, 48, o "Carlinhos", ex-presidente fundador da Coopamare (Cooperativa de Catadores de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis) e atual diretor-tesoureiro da entidade.
A Coopamare foi a primeira cooperativa de catadores do Brasil, criada em 89 por um grupo que trabalhava e vivia nas ruas.
Hoje, a maioria dos 82 membros têm casa e normas rígidas de conduta, como não beber e não faltar às reuniões semanais.
"Com o meu trabalho, contribuo para a limpeza da cidade e para a natureza", diz Carlos Alberto Santana, 40, catador há oito anos e membro da Coopamare.
"Na cooperativa, as pessoas se dão mais valor, tudo é discutido em conjunto e há cursos de treinamento. Por isso é melhor", afirma Santana, que passou a catar papel quando perdeu o emprego de porteiro, mas diz que não voltaria ao antigo posto.


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