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Cooperativa sofre rejeição
DA REPORTAGEM LOCAL
Catadores "autônomos" e cooperativados trabalham muito e
ganham quase a mesma coisa. A
principal diferença: quem está sozinho reclama de exploração, mas
rejeita o modelo de cooperativa;
quem está na associação se diz satisfeito com o que recebe e valoriza o treinamento e o apoio.
Everaldino Ribeiro de Sousa, 43,
catador há cinco anos, é um dos
que não querem entrar para cooperativa, mesmo achando que é
explorado. "Não é bom receber
por mês", justifica.
A carroça de Sousa é uma das 20
que são cedidas pelo dono de um
ferro-velho na Barra Funda (centro) que não quis se identificar
porque não tem alvará. Ele reclama que, com a concorrência, o
preço dos produtos caiu.
Fábio Amorim de Almeida, 25,
e Maurício Severiano Duarte, 21,
vendem o papel que catam à noite
para o mesmo depósito, que fica
próximo a uma cooperativa de catadores. Eles também dizem preferir trabalhar por conta própria.
Ambos afirmam ganhar até R$
80 por semana e querem deixar a
profissão. "Uma vez fui comprar
um tênis e, na hora de fazer o crediário, não tive coragem de dizer
que era carroceiro e escrevi "depositário", que é quem pega o papelão e vende logo para quem recicla", conta Duarte.
"Quando a gente trabalha na
rua, sozinho, é muito mais fácil se
desestruturar e se envolver com
álcool e drogas", afirma Carlos
Roberto Fabrício, 48, o "Carlinhos", ex-presidente fundador da
Coopamare (Cooperativa de Catadores de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis) e atual diretor-tesoureiro da entidade.
A Coopamare foi a primeira
cooperativa de catadores do Brasil, criada em 89 por um grupo
que trabalhava e vivia nas ruas.
Hoje, a maioria dos 82 membros têm casa e normas rígidas de
conduta, como não beber e não
faltar às reuniões semanais.
"Com o meu trabalho, contribuo para a limpeza da cidade e
para a natureza", diz Carlos Alberto Santana, 40, catador há oito
anos e membro da Coopamare.
"Na cooperativa, as pessoas se
dão mais valor, tudo é discutido
em conjunto e há cursos de treinamento. Por isso é melhor", afirma Santana, que passou a catar
papel quando perdeu o emprego
de porteiro, mas diz que não voltaria ao antigo posto.
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