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Hospital reintegra vítimas à escola
DA REPORTAGEM LOCAL
A equipe do hospital estadual
de São Mateus (zona leste de São
Paulo) desenvolveu um programa de reintegração de crianças vítimas de queimadura à vida escolar. Depois de meses de internação, a dor de um paciente queimado pode ter ido embora, mas o
desafio maior está na hora da alta.
Cicatrizes não deixam esquecer
o que aconteceu, e a curiosidade
alheia é um tormento, principalmente para quem está na escola.
No programa do hospital, as
crianças são instruídas a dar dicas
de prevenção contra queimaduras aos colegas, em uma palestra
no colégio, com a ajuda de desenhos em cartazes. Também são
estimuladas a aproveitar a ocasião
para responder às dúvidas dos
companheiros de classe sobre o
que aconteceu com elas.
"A pele é o que nos protege. O
queimado se sente muito desguarnecido. É uma dor que se
perpetua", disse a psicóloga Sueli
Tedesco Telerman, do serviço de
queimados do hospital.
A idéia veio das queixas feitas
pelas próprias crianças, que reclamavam das perguntas alheias.
"Vários não queriam retornar
para a escola, e nós invertemos o
jogo", disse Raul Telerman, supervisor da unidade de queimados. "Eles passaram a ter algo para contar e alguns saem mais fortalecidos", afirmou Sueli. "Querendo ou não, existe o estigma da
beleza, temos de dar às crianças
algum instrumento."
A experiência começou no ano
passado e parece ter ajudado na
prevenção de novos acidentes. Segundo Telerman, houve uma
queda de 12% na média de 70 casos novos de queimadura por mês
registrada até 1999.
Pelo menos 22 crianças já foram
treinadas. Das 40 escolas da região, 18 já aceitaram as "aulas" do
grupo. A estudante Livia Maria de
Araújo, 10, estava na cozinha de
sua casa quando foi queimada no
tórax e no rosto por acidente com
água quente. A mãe, a cozinheira
Maria do Carmo Sales do Nascimento, 40, inclinava uma panela
com a água quando a tampa caiu e
o líquido quente atingiu Livia.
A menina já deu sua palestra na
classe. Ela disse que não tem mais
vergonha e que, finalmente, os colegas não perguntam mais.
"Ela estava muito retraída e ficou mais à vontade", disse a mãe.
Das 15 internações mensais do
hospital, 44,8% são por líquidos
inflamáveis e 29,2%, por escaldos.
Queimaduras por fogo, eletricidade, gás e metal são outras causas.
Franciele Cassiana de Araújo, 6,
foi atingida por café quente no tórax também dentro de casa. Por
causa da idade, ainda não participa do programa do hospital. Ela
diz que não gosta de brincar nem
com os irmãos. Segundo a mãe, a
dona-de-casa Rosilda Santos Soares, 40, a menina ficou muito mais
introvertida depois do acidente.
A psicóloga disse que a possibilidade de maus-tratos é sempre
investigada quando há casos de
queimadura. As situações suspeitas são encaminhadas aos conselhos tutelares.
(FL)
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