São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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Especialistas alertam para risco de falências e fusões na rede privada

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

As instituições de ensino superior privadas devem enfrentar falências e fusões nos próximos anos, de acordo com especialistas. Entre os que endossam esse diagnóstico estão o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, o presidente da Abmes (Associação Brasileira das Mantenedoras do Ensino Superior), Edson Franco, e o ex-reitor da USP Roberto Leal Lobo, que apresenta hoje, no Congresso Internacional de Educação, uma palestra sobre o planejamento estratégico das instituições como forma de combate da atual crise que acomete o setor.
"Ao contrário do que se pensa, isso não é um perigo nacional", diz Lobo. "A concorrência é positiva. O risco é que, sem uma boa avaliação, o aluno fica sem parâmetros e acaba escolhendo a faculdade pelo preço", explica. "Aí, o ensino vira commodity [produto de importância comercial]."
Nos últimos dez anos, o número de estabelecimentos privados de ensino superior aumentou 116% -pulou de 666, em 1992, para 1.442, em 2002. Por outro lado, nesse período, o perfil do estudante da rede particular mudou: é cada vez maior o montante daqueles com renda inferior a cinco salários mínimos.
Impossibilitados de arcar com as mensalidades, esses estudantes apelam para a inadimplência (que atingiu 25% no final de 2003, segundo a Abmes) ou desistem do curso, agravando os 37,4% de vagas ociosas do setor, segundo Ryon Braga, especialista em ensino superior, que afirma já existirem muitos estabelecimentos endividados no setor.
Para ele, a melhor ilustração da crise é o fato de 73 instituições de ensino superior privadas terem conseguido autorização do MEC para funcionar mas, em três anos, não terem formado uma só turma pela baixa procura de seu processo seletivo. "Há excesso de instituições nos lugares errados."

Mercado
O que deve regular o excedente e a má adaptação das instituições privadas é o próprio mercado.
"Com isso há quatro guerras em curso", afirma Franco, da Abmes. "A guerra de preço, com a queda de mensalidades para ganhar da concorrência, a guerra de recursos humanos, com a transferência de professores de uma instituição para outra, a guerra da mídia, que ganha quem tem verba para TV e anúncios de vestibular, e a guerra de qualidade, a única que se ganha de verdade."
Liane Aureliano, uma das fundadoras da Faculdade de Campinas, concorda com Franco. "As escolas de excelência atuam num mercado especial, no qual não existe crise nem muita competição", diz. "A Facamp remunera bem seus professores e não preenche todas as suas vagas se não houver alunos bons para elas. É provável que nossa taxa de lucro seja menor num mercado que se revelou altamente rentável, mas, por outro lado, quase não temos inadimplência."
Para o presidente da Abmes, a falência de instituições e as fusões de tantas outras é um caminho inevitável. "Aconteceu até com os bancos. Com certeza ocorrerá no ensino superior em breve. O governo federal foi prudente ao segurar o crescimento do setor."
Lobo diz que a ampliação de vagas no setor público, a redução de custos sem comprometer a qualidade, a ampliação do Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) e a busca de alternativas para a cobrança de mensalidades fazem parte do cardápio básico de soluções.


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