|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SP não tem nenhuma presa por aborto
O procedimento é crime previsto no Código Penal; as penas vão de 1 a 10 anos de prisão, a depender da circunstância
No país, Secretaria de Políticas para as Mulheres e Ministério da Justiça dizem não ter dados sobre mulheres presas por abortar
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há nenhuma mulher em
São Paulo cumprindo pena por
aborto, segundo levantamento
da Secretaria da Administração
Penitenciária, órgão responsável pela custódia das 6.159 mulheres presas no Estado.
O aborto é crime previsto em
cinco dos 361 artigos do Código
Penal brasileiro, de 1940. As penas vão de um a dez anos de prisão, dependendo das circunstâncias. A interrupção voluntária da gravidez é permitida apenas nos casos de estupro e de
risco de vida para a mãe.
O Ministério da Saúde estima que 1 milhão de abortos
clandestinos ocorram no país
todos os anos. A OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que, a cada grupo de cem mulheres brasileiras, com idades
entre 15 e 49 anos, ao menos 3,7
praticam aborto.
Polêmica, a descriminalização do aborto voltou ao debate
no país quando o ministro da
Saúde, José Gomes Temporão,
que assumiu em março, defendeu a realização de um plebiscito sobre o assunto. "Milhares
de mulheres morrem todos os
anos por fazer abortos em situações inseguras", disse.
Protestos
Após as declarações, o ministro foi alvo de protestos. Em
Fortaleza (CE), por exemplo,
faixas foram colocadas em um
evento do qual participava com
os seguintes dizeres: "O ministério é da Saúde ou da morte?"
O próprio papa Bento 16, que
esteve recentemente no país,
fez um duro ataque à descriminalização do aborto, apoiando a
excomunhão dos políticos que
a defendem. "O direito de matar um inocente é incompatível
com estar em comunhão com o
corpo de Cristo", disse.
Segundo pesquisa Datafolha,
publicada no início de abril,
65% dos brasileiros se opõem à
mudança da lei, 16% sustentam
que o aborto deve ser permitido
em mais situações do que as
previstas na lei e só 10% advogam pela descriminalização.
Falta de dados
Se em São Paulo não há mulher presa por aborto, no país
não há números conclusivos.
Tanto a Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres como o Ministério da Justiça dizem não dispor de dados.
"Para tratar de um assunto
como a descriminalização do
aborto, precisamos trabalhar
com dados objetivos; a inexistência de números prejudica a
discussão", analisa o jurista Damásio de Jesus, que, durante 26
anos, atuou no Ministério Público, onde "não chegou a ver
mais do que dois ou três julgamentos por aborto".
Um dos poucos casos de prisão relatados pelas autoridades
à Folha foi no último dia 10,
em Salvador, na Bahia (leia texto nesta página).
Para o promotor Carlos Cardoso, assessor de Direitos Humanos da Procuradoria de Justiça de SP, o aborto é cercado
por "hipocrisia" no Brasil.
"Só chegam à polícia os casos
de aborto que envolvem as pobres e as miseráveis, que são
mulheres obrigadas a procurar
lugares impróprios e sofrem as
conseqüências. As mulheres
das classes média e alta têm dinheiro e buscam locais e médicos especializados", diz.
Cardoso, que defende a realização do plebiscito, entende
que a lei tem de ser cumprida e
quem realiza aborto ilegalmente precisa ser processado, apesar de admitir que "há uma certa tolerância da polícia e do
próprio Ministério Público"
em relação ao procedimento.
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: "Não tinha a menor condição de criar mais um", diz empregada Índice
|