São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Não tinha a menor condição de criar mais um", diz empregada

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Sem carteira assinada, uma empregada doméstica que recebe R$ 100 por mês em Salvador contou à Polícia Civil que tomou três comprimidos de um remédio para abortar seu terceiro filho "porque luta para sustentar duas crianças".
Solteira, Maria de Fátima Alves da Cruz, 23, foi presa no último dia 10 -um dia depois da chegada do papa Bento 16 ao Brasil-, sob a acusação de ter abortado. Ela vai responder pelo crime em liberdade, mas pode ser condenada a até três anos de prisão.
"Não sei o que passou por minha cabeça, só sei que não tinha a menor condição de criar mais um filho", afirmou ela, em depoimento à polícia.
Maria de Fátima é mãe de dois meninos -um de quatro e outro de seis anos.
A empregada, que mora numa casa de 40 metros quadrados sem infra-estrutura na periferia de Salvador, disse que contou com a ajuda do namorado para abortar. "Tinha seis meses de gravidez, mas não queria ter o filho. Sei de todas as dificuldades que passo para criar meus dois filhos, mas estou arrependida", afirmou, no depoimento à polícia.
Após o aborto, Maria de Fátima enrolou o feto em um saco plástico. Em seguida, pediu para um sobrinho de 14 anos "enterrar o material", o que foi feito em um terreno baldio a menos de 20 metros da casa dela. "Tudo foi feito à noite para ninguém perceber", disse.
Um cachorro que revirava lixo encontrou o saco. Dois vizinhos viram o feto e acionaram a polícia. A identificação da mãe foi rápida. Após perguntarem no bairro quem estava grávida na rua, agentes da 6ª Delegacia de Salvador localizaram Maria de Fátima. "Ela se entregou quando mostrei a foto do feto que fiz pelo celular. Não perguntamos mais nada, ela começou a chorar", disse o investigador João Gomes.
À delegada, a empregada doméstica disse que não usa nenhum anticoncepcional.
"Não tenho dinheiro para nada", afirmou. Após deixar a delegacia, Maria de Fátima foi levada a um hospital -dois dias depois do aborto, ela ainda perdia sangue.


Texto Anterior: SP não tem nenhuma presa por aborto
Próximo Texto: Falsa enfermeira é detida por dar remédio para mulher abortar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.