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"Não tinha a menor condição de criar mais um", diz empregada
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Sem carteira assinada, uma
empregada doméstica que recebe R$ 100 por mês em Salvador contou à Polícia Civil que
tomou três comprimidos de
um remédio para abortar seu
terceiro filho "porque luta para
sustentar duas crianças".
Solteira, Maria de Fátima Alves da Cruz, 23, foi presa no último dia 10 -um dia depois da
chegada do papa Bento 16 ao
Brasil-, sob a acusação de ter
abortado. Ela vai responder pelo crime em liberdade, mas pode ser condenada a até três
anos de prisão.
"Não sei o que passou por minha cabeça, só sei que não tinha
a menor condição de criar mais
um filho", afirmou ela, em depoimento à polícia.
Maria de Fátima é mãe de
dois meninos -um de quatro e
outro de seis anos.
A empregada, que mora numa casa de 40 metros quadrados sem infra-estrutura na periferia de Salvador, disse que
contou com a ajuda do namorado para abortar. "Tinha seis
meses de gravidez, mas não
queria ter o filho. Sei de todas
as dificuldades que passo para
criar meus dois filhos, mas estou arrependida", afirmou, no
depoimento à polícia.
Após o aborto, Maria de Fátima enrolou o feto em um saco
plástico. Em seguida, pediu para um sobrinho de 14 anos "enterrar o material", o que foi feito em um terreno baldio a menos de 20 metros da casa dela.
"Tudo foi feito à noite para ninguém perceber", disse.
Um cachorro que revirava lixo encontrou o saco. Dois vizinhos viram o feto e acionaram a
polícia. A identificação da mãe
foi rápida. Após perguntarem
no bairro quem estava grávida
na rua, agentes da 6ª Delegacia
de Salvador localizaram Maria
de Fátima. "Ela se entregou
quando mostrei a foto do feto
que fiz pelo celular. Não perguntamos mais nada, ela começou a chorar", disse o investigador João Gomes.
À delegada, a empregada doméstica disse que não usa nenhum anticoncepcional.
"Não tenho dinheiro para nada", afirmou. Após deixar a delegacia, Maria de Fátima foi levada a um hospital -dois dias
depois do aborto, ela ainda perdia sangue.
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