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Em segredo, filha repete a mãe e aborta também
Advogada interrompeu gravidez aos 22; ela diz lamentar, mas não se arrepende
Raquel (nome fictício), que abortou sem contar para a mãe, diz que recomendaria prática à filha adolescente caso ela ficasse grávida
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A mãe da advogada Raquel
(nome fictício), 48, fez cerca de
dez abortos, incluindo um antes de se casar.
Depois, ainda solteira, ela estava grávida de novo quando
ouviu do namorado outra sugestão de aborto. Desta vez, não
concordou e disse que teria a
criança de qualquer jeito.
Os dois se casaram e o bebê, a
irmã mais velha de Raquel, nasceu. Foi a partir de então que a
mãe da advogada se submeteu
aos outros abortos -foram pelo menos nove, um deles de
uma gestação de sete meses.
Raquel conta que a senhora
russa que fazia as interrupções
de gravidez estourou a bolsa
d'água e disse para a mãe dela
que fosse rapidamente para o
hospital, porque corria (ela
mesma) risco de morte.
Histórico
Mesmo com esse histórico,
Raquel diz que sua mãe a teria
"matado" se soubesse que
abortou aos 22 anos. A advogada lembra que namorava quando engravidou de um homem
que não queria filhos. Ela afirmou que também não considerava a possibilidade de ser mãe
naquele momento.
De família de classe média-alta, com uma vida estável, Raquel reconhece que, perto do
que a lei autoriza, seu caso era
"light". Ela não foi estuprada,
tampouco sabia se o feto era
malformado ou não (nem sequer fez exames), e tinha uma
saúde perfeita.
Ela diz que lamenta, mas não
se arrepende do que ocorreu.
O aborto foi feito em um hospital de bom nível, diz ela, mas
foi muito ruim "voltar da anestesia". A enfermeira perguntou
se ela não ia chorar. Ela chorou.
Dez anos mais tarde, já casada pela segunda vez, ela conseguiu engravidar de sua única filha, hoje com 17 anos. O pai da
menina não tinha filhos e, diferentemente do primeiro marido de Raquel, queria muito ter
aquela criança.
Ela confessa que, por um momento, pensou se de fato desejava mesmo aquela gravidez.
Ajudou muito o fato de o marido querer tanto um bebê.
Sem maturidade
Diferentemente de sua mãe,
Raquel afirma que, se sua filha
adolescente engravidasse, ela
faria tudo para a menina interromper a gestação. Não considera que a menina (ou qualquer
outra adolescente) tenha maturidade suficiente para assumir e cuidar de um filho.
A advogada conta que criou
sua filha sem avós, sozinha, e
por isso sabe que é preciso muita vontade. Ela defende que,
mesmo para um casal estruturado, a decisão de ter um filho
tem de ser muito bem avaliada.
Filho é para sempre, diz.
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