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FRIO
Governo gaúcho desativa ronda noturna, que tirava desabrigados das ruas; prefeitura não assume o serviço
Estado e município não querem recolher indigente
LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre
Uma divergência política deixará dezenas de indigentes desabrigados nas noites de inverno de
Porto Alegre. A desativação por
parte do governo gaúcho e a recusa da prefeitura em assumir o serviço cancelaram a ronda noturna.
Ronda noturna é o programa social que recolhe pessoas pobres
nas noites frias, fornecendo-lhes
alimentação, acomodação e agasalhos. Tradicionalmente, a atribuição pelo serviço é do governo
do Estado. No inverno de 97, foram abrigados 83 indigentes.
Divergências
A STAS (Secretaria Estadual do
Trabalho, da Cidadania e Assistência Social) já anunciou a desativação do serviço, sob a alegação
de que há divergências quanto à
competência legal para a sua execução. Governo e prefeitura discutem desde o ano passado a quem
deve ser atribuída a responsabilidade pela "ronda noturna".
O governo quer repassar a incumbência para a prefeitura, que,
por intermédio da presidente da
Fesc (Fundação de Educação Social e Comunitária), Ana Paula
Costa, reage: "A responsabilidade
pela desativação é exclusivamente
do Estado".
A Fesc mantém o Atendimento
Social de Rua, programa que funciona durante todo o ano, com
atuação mais educativa do que
emergencial, executada por sete
funcionários. Não há serviço específico de busca nas ruas durante o
inverno. Apenas de abrigo.
O órgão enviou ontem ao governo uma proposta de que lhe sejam
repassados R$ 19.198,80. O governo interpretou que, com isso, haveria a adoção da ronda por parte
da prefeitura. A Fesc, porém, informou não estar se referindo ao
serviço de busca, mas apenas à
ampliação de 50 vagas nos albergues já existentes.
Segundo o governo, a Lei Orgânica da Assistência Social, aprovada em 1993, municipaliza o serviço. O governo estaria, portanto,
há cinco anos executando uma tarefa que não é de incumbência
sua. A camionete que realizava o
serviço já foi entregue a outra instituição, e o Abrigo Maria Flor
Vieira (53 vagas) foi transferido
para a Febem (Fundação Estadual
do Bem Estar do Menor).
O presidente do MJDH (Movimento de Justiça e Direitos Humanos) do Rio Grande do Sul, Jair
Krischke, culpou a situação "caótica" dos desassistidos ao fato de
eles não votarem nem influenciarem na opinião pública. Por isso,
segundo ele, há desinteresse das
autoridades no momento em que
se aproximam as eleições.
"Estamos cansados de brigar
sobre esse assunto. A situação que
está se criando é absurda. Se qualquer pessoa morrer na rua durante este inverno, vamos entrar com
um processo por crime de responsabilidade contra o governador
Antônio Britto (PMDB) e o prefeito Raul Pont (PT)", afirmou
Krischke à Agência Folha.
Qualidade
Conforme o MJDH, pelo menos
240 pessoas vivem pelas ruas de
Porto Alegre.
"Não aguento mais ouvir falar
que Porto Alegre tem a melhor
qualidade de vida do Brasil. Como
ficam essas pessoas? Se elas vivessem no Rio ou em Recife, tudo
bem. Poderiam andar de calção o
ano inteiro", disse Krischke.
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