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JOGO
Governos estaduais alegam que perderam o poder de fiscalizar as casas de bingo com a aprovação da Lei Pelé
Estados suspendem fiscalização dos bingos
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio
Vários Estados suspenderam a
fiscalização das casas de bingo
desde a aprovação da Lei Pelé, em
25 de março último. Entre os Estados que admitem a paralisação,
estão o Pará e o Ceará. Eles alegam
que perderam o poder de fiscalizar
o bingo com a nova lei.
Desde 1994, quando a Lei Zico
legalizou o bingo no país -a pretexto de levantar recursos para o
desenvolvimento do esporte-, os
Estados eram responsáveis pela
fiscalização do jogo dentro de seus
territórios.
Cada Estado fixava suas normas
para a prática do bingo, autorizava
o funcionamento das casas de jogo
permanente, a instalação de máquinas eletrônicas e a realização
dos sorteios eventuais, como os
realizados em estádios ou em ambientes fechados, com transmissão ao vivo pela TV.
A Lei Pelé transferiu essa responsabilidade para a União, sem
especificar o ministério ou o órgão
responsável. Tampouco definiu
um procedimento para o período
de transição.
Alguns Estados, como o Rio de
Janeiro e o Paraná, continuam fiscalizando os bingos por conta própria.
No dia 29 de abril, mais de um
mês depois da aprovação da lei, o
presidente Fernando Henrique
Cardoso e o ex-ministro Extraordinário dos Esportes Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, assinaram o decreto 2.574, regulamentando a Lei Pelé.
A regulamentação trouxe uma
outra surpresa: o Indesp (Instituto
Nacional de Desenvolvimento do
Desporto) foi designado para assumir toda a responsabilidade relativa à regulamentação, ao credenciamento das entidades aptas a
explorar o bingo, à autorização de
sorteios e à fiscalização das casas
de jogo em âmbito nacional.
Com 150 funcionários -todos
em Brasília- e sem nenhuma experiência com jogos de azar, o Indesp não tem estrutura para fiscalizar o bingo em âmbito nacional.
O decreto permite que o Indesp
transfira essa responsabilidade para os Estados, mediante convênio
que tem de ser assinado individualmente com cada Estado. Sem
pessoal habilitado, o instituto ainda não conseguiu fechar o primeiro convênio, que será assinado
com Santa Catarina.
Funcionários do Indesp calculam que as negociações com todos
os 27 Estados da Federação podem
se prolongar até o final do ano.
A minuta do decreto que regulamentou a Lei Pelé previa que a fiscalização dos bingos ficaria com o
Ministério da Fazenda. Mais especificamente, com a Receita Federal. O texto foi modificado no Gabinete Civil da Presidência da República, que decidiu transferir o
encargo para o Indesp.
Procurada pela Folha, a assessoria jurídica da Presidência da República confirmou que a mudança
foi feita pelo próprio Planalto e
que se deveu a uma "decisão de
governo", por entender que a Receita Federal nada tem a ver com o
jogo. A Folha apurou que a Receita não aceitou assumir a função.
Gilmar Mendes, assessor jurídico do Gabinete Civil, diz que, se os
bingos foram autorizados para financiar o esporte, o "lógico" é
que o Indesp assuma a responsabilidade pela fiscalização.
O presidente do Indesp, Luiz Felipe Albuquerque, diz que está solicitando ao Ministério da Administração a contratação de dez especialistas em jogo de bingo e que
cogita pedir ajuda às delegacias regionais do Ministério da Educação, ao qual o Indesp está agora
vinculado.
Albuquerque diz que ainda não
sabe sequer o número de bingos
existentes no país. "Estamos
acostumados a tratar do esporte,
não de bingos", afirmou.
A Able (Associação Brasileira
das Loterias Estaduais) calcula que
existam cerca de 1.200 casas de
bingo no país. Não há estatística
oficial sobre a arrecadação dos
bingos, mas um estudo interno da
Caixa Econômica Federal calcula
que eles movimentaram perto de
R$ 1 bilhão no ano passado.
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