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COMPORTAMENTO
Com o uso prolongado, "pílula do amor" perde efeito, levando usuários a associá-la a outras substâncias
93% misturam ecstasy com outras drogas
DA REPORTAGEM LOCAL
Cai o mito da droga do amor, o
ecstasy. Seus efeitos mais procurados -bem-estar e aumento do
desejo sexual- cada vez mais parecem precisar de um empurrãozinho de outras substâncias ilícitas e até mesmo do Viagra, medicamento para disfunção erétil.
"Há uma conseqüência evidente no uso prolongado de ecstasy:
quanto mais o usuário toma, menos sentirá seus efeitos considerados agradáveis e prazerosos", explica Dartiu Xavier, coordenador
do Proad (Programa de Orientação e Assistência a Dependentes),
ligado à Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo).
"Isso pode explicar o fato de as
pessoas hoje misturarem ecstasy
com outras drogas e com o Viagra, que funciona como uma garantia de potência na hora do ato
sexual", diz o coordenador.
Segundo um estudo sobre padrões de uso de ecstasy realizado
pelo Instituto de Psicologia da
USP (Universidade de São Paulo)
e publicado na Revista Brasileira
de Psiquiatria em 2003, 93,3% dos
usuários de ecstasy associam a pílula do amor a outras drogas psicoativas, como maconha, LSD,
cocaína e anfetamina, o que, segundo o estudo, aumenta o risco
de reações tóxicas.
O consumo da droga foi detectado em jovens de classe média alta e, segundo o estudo, mais do
que frustração e insatisfação, seu
uso combinado está associado
"simplesmente a um experimento hedonista".
Para o psicanalista Tales Ab'Saber, do Instituto Sedes Sapientiae,
esse tipo de comportamento é
próprio da atual cultura do excesso e do consumo, que é um convite permanente à excitação.
"Toma-se de tudo. É um caldeirão no qual o sujeito usa uma droga para atenuar o efeito colateral
de outra e assim por diante", diz o
psicólogo Murilo Battisti, autor de
um estudo sobre uso de ecstasy.
Ele chama a atenção para o fato
de os profissionais de pronto-atendimento de hospitais e centros de saúde ainda estarem despreparados para lidar, em casos
de emergência, com os possíveis
efeitos dos coquetéis de drogas
consumidos atualmente.
Muitas especulações já foram
feitas sobre os componentes do
ecstasy. Isso porque pesquisas internacionais detectaram que as
pílulas vendidas no início dos
anos 90 poderiam conter de açúcar a estricnina (veneno).
Kit de pureza
Nos Estados Unidos e na Europa, organizações de redução de
danos chegaram a criar kits de
teste de qualidade da droga -um
líquido que, em contato com uma
pequena lasca da pílula de ecstasy,
resulta em uma cor que indica o
grau de pureza e as substâncias
diferentes do MDMA (o princípio
ativo do ecstasy) presentes -para evitar danos ainda maiores aos
usuários da droga.
No Brasil, uma pesquisa inédita,
concluída neste ano, verificou a
composição de alguns comprimidos de ecstasy que circularam no
país entre 1996 e 2002. As amostras analisadas eram oriundas de
25 apreensões feitas pelo Denarc
(Departamento de Investigações
sobre Narcóticos) e foram testadas pelo farmacêutico bioquímico Silvio Lapachinske, 40, autor
do estudo realizado com o Departamento de Análises Toxicológicas da USP. O resultado apontou
para um alto grau de pureza das
amostras, mas para uma grande
variação da quantidade do psicoativo em cada comprimido.
Das 25 amostras analisadas, 21
continham apenas MDMA (metilenodioximetanfetamina, o princípio ativo do ecstasy), uma continha MDMA e cafeína, uma era
feita de MDEA (metilenodioxietilanfetamina, substância análoga
do MDMA), uma continha apenas metanfetamina e outra somente anfetamina. Tanto a metanfetamina quanto a anfetamina
são ainda mais tóxicas que o princípio ativo original do ecstasy.
"Apesar de 84% das amostras
serem de MDMA, elas apresentam uma variação quantitativa
grande", explica Lapachinske.
"Entre pílulas com o mesmo logotipo, uma tinha 30,9 miligramas
de MDMA e outra tinha 92,7 miligramas do psicoativo", diz.
Segundo ele, isso pode indicar
falta de rigor na produção, além
de tentativas dos laboratórios de
falsificar "marcas" já conhecidas,
no mercado de drogas, por sua
potência.
(FERNANDA MENA)
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