São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Com a chegada do inverno, médicos recomendam evitar variação térmica e exercícios em locais poluídos

Ar frio e seco eleva casos de infecções

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Rinite, sinusite, faringite, laringite, bronquite, traqueíte. O inverno tem início oficial hoje à noite, mas a temporada das "ites" já começou. Consultórios e ambulatórios médicos estão lotados de vítimas de inflamações típicas do tempo frio, poluído e seco.
Em geral, são as gripes e resfriados que fazem com que os vírus e as bactérias se instalem no aparelho respiratório e, a partir dali, disparem infecções para diferentes destinos, do nariz aos pulmões, das amídalas aos ouvidos.
A previsão dos médicos é que o número de casos dessas "ites" aumente 50% neste período.
Além do clima seco do inverno -que dificulta a dispersão dos poluentes-, é cada vez mais freqüente o aquecimento de ambientes internos, o que também deixa o ar mais seco e, muitas vezes, poluído por alérgenos (agentes capazes de produzir alergia), como poeira, pêlos de animais, fumaça de cigarro, entre outros.
"É a trinca maldita: ar seco, frio e poluído", define o pneumologista Clystenes Soares Silva, coordenador do pronto-atendimento de pneumologia do Hospital São Paulo, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). O ar seco impede que o catarro seja fluído e expelido. Ao ficar espesso e preso, favorece as infecções.
A inalação de poluentes também altera as funções protetoras da mucosa e dos cílios nasais, encarregados de impedir a entrada da sujeira. Com o comprometimento desses mecanismos, bactérias e vírus penetram mais facilmente pelas vias respiratórias.
Uma das recomendações médicas é evitar a prática de exercícios físicos em locais poluídos ou em lugares fechados onde há pessoas gripadas. Durante os exercícios, a pessoa inala mais ar e, com ele, maior carga de poluentes.
"A associação de ar frio e ar poluído irrita a mucosa nasal, o que propicia as inflamações", diz Hélio Romaldini, pneumologista do hospital Albert Einstein e professor da Unifesp.
A dona-de-casa Yara Thum, 57, conhece esse risco, mas prefere corrê-lo a parar com as caminhadas na avenida Sumaré (zona oeste de São Paulo).
"Não é o lugar ideal, mas é o que eu tenho perto de casa. Acho melhor do que ir a uma academia. Caminho há quase 20 anos e nunca peguei uma gripe", disse ela.
A variação térmica -sair de um ambiente frio e entrar em outro quente ou vice-versa- também pode agravar os sintomas em pessoas que já tenham uma doença respiratória crônica. No Brasil, estima-se que 10% da população tenha asma. E 15% dos fumantes sofrem de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), a quinta maior causa de mortalidade.
Segundo Silva, nos últimos três meses houve um aumento de 35% de consultas por doenças respiratórias, em relação ao período de verão, no ambulatório que coordena. Ele alerta que as pessoas com doenças crônicas precisam, sob orientação médica, ajustar a medicação à condição climática. "O paciente que não controla a doença sofre mais", diz.
O pneumologista Romaldini afirma que desde março está ocorrendo um aumento dos casos de rinossinusites (inflamação do nariz). "Muitas dessas pessoas nem tinham um problema respiratório anterior associado."
As crianças tendem a ser mais atingidas em razão da falta de maturidade do sistema imunológico, que as deixa mais sensíveis a doenças e alergias, afirma o otorrinolaringologista Renato Abissamra, do Hospital Sírio Libanês.
Ele diz que o público infantil e adulto jovem tem sido mais vitimado pelas gripes do que o idoso, que nos últimos seis anos vem sendo imunizado em campanhas públicas de vacinação.


Texto Anterior: Acidente: Após inundação, equipes buscam 20
Próximo Texto: Médico indica beber muita água no inverno
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.