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BARBARA GANCIA
Colunista tá se achando
Qualquer um pode viver o
seu dia de "Tássia", de rainha
da cocada preta ou de
bacana do bairro Peixoto
EU SOU A RAINHA da cocada preta, o fino da bossa, a bacanona
do bairro Peixoto e a Vitória
de Samotrácia do Itaim Bibi. Tudo
isso e mais um pouco.
Ao menos, foi com essa bola toda
que terminei de ler, na última terça-feira, ao e-mail enviado diretamente
do gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República,
pela doutora Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte, secretária-adjunta da Senad (Secretaria Nacional
Antidrogas).
Em sua gentil mensagem, que trazia anexo um convite para a cerimônia de abertura da 10ª Semana Nacional Antidrogas, a doutora Paulina
dizia o seguinte: "Depois da publicação da sua coluna [que falava sobre a
combinação de jovens, álcool e direção], o projeto de lei proibindo a
venda de bebidas alcoólicas nas estradas, que havia sido derrubado pelo Senado, voltou à Câmara dos Deputados e foi aprovado. É uma vitória e tanto".
A cerimônia para a qual a doutora
me convidou, ocorrida ontem em
Brasília, contou com a presença do
presidente da República, que aproveitou a ocasião para sancionar a lei
de número 13/2008 proibindo a
venda de bebidas alcoólicas nas rodovias federais.
Diga a verdade, nobre leitor: no
meu lugar você também não estaria
se sentindo o general da banda? Pois
o e-mail da dra. Paulina mostra que
o Congresso nem sempre age à revelia dos nossos anseios e que qualquer um pode ter seu dia de "Tássia"
ou de rainha da cocada preta.
Nesse caso, foi a resposta dos leitores da Folha, identificados com o
que escrevi, que acabou levando o
Congresso a rever a decisão do Senado. Ou seja, sob pressão da opinião pública, eles dançam conforme a nossa música, sim senhor.
É preciso que a gente esteja atenta a isso para enfrentar as batalhas
que virão. Continua a ser debatido
no Congresso o projeto de lei que
pretende mudar o conceito de bebida alcoólica no país, para efeitos
de uso e propaganda. No e-mail
que me enviou, a doutora Paulina
contou que, ao longo da semana,
iria participar de uma audiência
pública com deputados a fim de
discutir essa importante questão.
No último sábado, a festa junina
do colégio Santa Cruz teve uma
marca de cerveja entre seus patrocinadores. O pai de uma aluna, que
não quis se identificar, disse que, a
pedido dele, a filha comprou bebida sem problemas durante a festa.
Fazendo jus ao nome, o diretor
de marketing da cerveja patrocinadora da festa, Marcel Sacco, que
também tem filhos matriculados
no Santa Cruz, mostrou-se enfastiado com a indignação dos pais.
Disse ele que a discussão da presença da cerveja na festa é "xiita" e
questionou: "Será que também não
é ruim o consumo de chocolate, de
salgadinhos? Se a gente for dizer
que paçoca faz mal porque é muito
gordurosa, vamos entrar numa
loucura sem fim".
Eu me pergunto como alguém
que dirige um departamento de
marketing pode usar de uma argumentação tão ordinária sobre o
produto que promove. Será que o
senhor Sacco desconhece as estatísticas dos acidentes de trânsito?
Será que ele nunca se dignou a ler
algum estudo sobre o impacto do
álcool nos jovens? É justamente
para não sermos mais submetidos
a esse tipo de raciocínio oportunista que a mobilização da turma do
bom senso deve continuar. Adiante, doutora Paulina!
barbara@uol.com.br
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