São Paulo, sábado, 20 de junho de 1998

Próximo Texto | Índice

SAÚDE
Segundo o Ministério da Saúde, região tem o maior crescimento do número de casos e a maior incidência da doença no país
Sul lidera o avanço da Aids no Brasil

LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

O primeiro relatório de 1998 de novos casos de Aids, divulgado ontem pelo Ministério da Saúde, indica que o Sul é a região do país onde a epidemia mais cresce.
A incidência da doença nessa região (casos por 100 mil habitantes) subiu de apenas 1,9, em 1989, para 11,5, em 1997/1998. É a maior taxa de incidência das cinco regiões.
Segundo o ministério, o número de novos casos por ano no Sul é de 1,33 por 100 mil. No Sudeste, onde há o maior número de casos notificados desde 1980, a epidemia cresce a 0,55 por 100 mil.
Essa tendência já vinha sido observada no fim do ano passado, mas foi confirmada pelos casos de doentes de Aids registrados até fevereiro deste ano.
"A epidemia está resistindo no Sul em grupos de usuários de drogas injetáveis e em heterossexuais. Por isso, decidimos fazer um plano emergencial para essa região", afirma Pedro Chequer, coordenador do Programa Nacional de Aids do ministério.
Ao todo, o Sul registrou até hoje 16.274 casos do total de 128.821 registrados no país desde 1980, segundo relatório divulgado ontem. Calcula-se que o uso de drogas seja responsável por quase 40% das novas infecções no Sul. No país, esse percentual é de 25%.
O crescimento da participação dos heterossexuais no total de casos foi o maior na região Sul do que nas outras. Subiu de 13,5% para 36,5% entre 1987 e 1997.
O plano emergencial foi traçado pelo ministério em um encontro, ocorrido em abril, que reuniu membros do ministério e representantes dos três Estados (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e de 39 municípios. Para conter a epidemia, o ministério convocou os secretários da Saúde para que intensifiquem os programas de prevenção.
A preocupação com a região Sul também pôde ser sentida no discurso do ministro José Serra, que ontem divulgou o relatório. Ele ressaltou o fato de o Brasil ter um dos melhores programas contra a epidemia da Aids no mundo, mas criticou as filas do Hospital das Clínicas de Porto Alegre.
"Eu só espero que o Rio Grande do Sul dê um jeito no Hospital das Clínicas, que é o único lugar onde há fila na emergência para Aids", disse o ministro ontem no Hospital Emílio Ribas (São Paulo).
Serra veio à cidade só para anunciar o relatório de novos dados de casos notificados, que é divulgado trimestralmente pelo ministério.
Segundo ele, em 1998, serão gastos R$ 428 milhões apenas com remédios (chamados de coquetel) contra o vírus HIV -que causa a Aids- mais R$ 228 milhões com o resto do programa. A previsão para o ano que vem é que sejam gastos apenas com remédios cerca de R$ 600 milhões.
O ministro também afirmou que pretende tentar retirar os impostos sobre a camisinha e baratear os seus custos. "Prevenção custa apenas um décimo do tratamento da Aids", disse Serra.



Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.