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ADMINISTRAÇÃO
Inchaço de pelo menos R$ 10,495 bi em valores devidos à prefeitura pode caracterizar improbidade administrativa
Promotoria abre inquérito sobre maquiagem
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
O promotor Silvio Marques, secretário da Promotoria de Justiça
da Cidadania, determinou ontem
a abertura de inquérito civil para
apurar o inchaço que a Prefeitura
de São Paulo promoveu, ao longo
dos últimos dois anos, no montante que tem a receber por multas e impostos atrasados.
A dívida ativa -soma dos tais
tributos atrasados- foi inflada
em pelo menos R$ 10,495 bilhões,
conforme a Folha informou na
edição do último domingo.
Os promotores investigarão se a
diferença nos valores caracteriza
improbidade administrativa
-nesse caso, ação ou omissão,
intencional ou não, que tenha violado o dever da legalidade. O responsável pela apuração será sorteado hoje na Promotoria.
A conseqüência do inchaço dos
créditos a receber foi o aumento
artificial do patrimônio municipal, o que fez os balanços anuais
da administração petista indicarem que a prefeitura tem mais
bens e créditos do que dívidas e
obrigações. A realidade, porém, é
exatamente oposta a essa.
Segundo os balanços de 2002 e
2003, se vendesse tudo o que tem
a prefeitura conseguiria pagar
suas dívidas e ainda ficaria com
R$ 555 milhões e R$ 7,67 bilhões
em caixa, respectivamente. Cálculos feitos pela Folha, no entanto,
mostram que, de fato, as dívidas
superaram em R$ 2,969 bilhões os
bens em 2002 e em R$ 2,824 bilhões em 2003. A diferença se dá
exatamente pelo aumento artificial dos créditos da dívida ativa.
Os alertas sobre o indício de
maquiagem nos balanços patrimoniais da prefeitura aparecem
nos relatórios produzidos pelo
Tribunal de Contas do Município
(TCM) sobre a prestação de contas de 2002 e se repetem nas análises de 2003. Os auditores citam
que o inchaço produziu resultados "fictícios". Os conselheiros,
porém, aprovaram as contas da
prefeita Marta Suplicy (PT).
Em nota, a prefeitura cita a
aprovação das contas, mas não
nega a irregularidade, dizendo
apenas que foi "instaurado procedimento administrativo para
apurar os questionamentos do
TCM".
Nos estudos, os técnicos apontam que o governo municipal corrigiu a dívida por um índice desconhecido e superior ao previsto
em lei -que é o IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo)
mais 1% de juros ao mês.
À luz da legislação, a Folha refez
as atualizações monetárias incidentes sobre a dívida ativa desde
31 de dezembro de 2001, incorporando às contas novos valores devidos e delas excluindo o que foi
pago. Ao final, surgiu a diferença
de R$ 10,495 bilhões.
Um resultado negativo é politicamente desconfortável, avaliam
economistas, tributaristas e contadores. Além disso, pode tornar
tecnicamente insustentável a concessão de empréstimos e lança algum grau de incerteza sobre os
contratos.
A oposição acredita que a prefeitura tentará convencer o governo federal a abater a dívida ativa
do limite de endividamento da cidade, que passa a ter em 2005 um
teto bem inferior ao registrado
atualmente no município.
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