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RIO
Cerca de 50 homens invadiram posto policial próximo a presídio em busca de armas e munições; dois detentos morreram ao tentar fugir
Criminosos atacam PMs e resgatam presos
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Traficantes do morro do Zinco
(no Estácio, zona central do Rio
de Janeiro) tentaram resgatar presos na madrugada de ontem na
penitenciária Milton Dias Moreira, que integra o complexo penitenciário da Frei Caneca, próximo
ao morro. A ação resultou em um
intenso tiroteio. Dois presos que
tentavam fugir foram mortos.
Outros quatro conseguiram escapar da penitenciária.
Em menos de dez dias, foi a terceira tentativa de fuga ou rebelião
ocorrida em presídios fluminenses. Nas três ações, houve cinco
mortes no total.
A ação começou por volta da 1h.
Cerca de 50 traficantes do Zinco
armados com fuzis renderam policiais militares do PPC (Posto de
Policiamento Comunitário). Eles
roubaram as armas e as munições
dos PMs para usá-las no resgate.
Em seguida, os criminosos fizeram vários disparos contra a guarita onde ficam PMs que fazem a
vigilância externa do complexo
penitenciário.
Depois disso, os traficantes se
aproximaram do muro da penitenciária Milton Dias Moreira e
atiraram três pistolas, duas granadas e duas teresas (cordas artesanais) para um grupo de presos
que havia cerrado as celas e esperava no pátio.
Os agentes penitenciários e PMs
perceberam a ação e começaram
a trocar tiros com traficantes e
com presos que receberam as armas. Quatro presos conseguiram
fugir. Eles subiram o muro de cerca de 7 m de altura usando as teresas jogadas pelos cúmplices.
Dois outros detentos, que também subiam pelas corda, foram
baleados e morreram. O presídio
foi cercado e o restante dos presos
que estava fora das celas retornou
para as galerias.
Bope
Policiais do Bope (Batalhão de
Operações Especiais) e do Batalhão de Choque foram chamados.
Eles ainda trocaram tiros com os
traficantes do Zinco.
De acordo com a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, a tentativa de resgate foi comandada pelo traficante Irapuan
David Lopes, o Gangan, um dos
líderes da facção criminosa ADA
(Amigo dos Amigos) e chefe do
tráfico no morro do Zinco.
Gangan pretendia resgatar
cúmplices do Milton Dias Moreira. A unidade, que tem capacidade para 1.200 presos, abriga 1.171
detentos vinculados à ADA.
Os presos mortos foram identificados como Alecsandro da Silva
Souza, 28, o Lequinho, e Renato
de Souza Xavier Moura, 31, o Pará. Os dois atuariam no morro de
São Carlos, que também é vizinho
ao complexo e dominado por
Gangan.
Críticas
Marcelo Freixo, presidente da
ONG Conselho da Comunidade,
que fiscaliza os presídios, criticou
a ação dos agentes penitenciários
e da polícia para conter a fuga.
"Os policiais militares que trabalham nas guaritas e na vigilância
externa dos presídios não são treinados para a função e atiram para
matar", declarou.
O subsecretário de Administração Penitenciária, Aldney Peixoto, afirmou que foi aberta uma
sindicância interna para apurar a
conduta dos agentes. Ele disse que
os guardas não usam munições
letais, apenas balas de borracha e
bombas de gás lacrimogêneo.
Obras
Segundo o Núcleo de Inteligência da Secretaria de Administração Penitenciária, o número de
tentativas de fuga tem crescido
nos últimos dois meses porque
vários presídios estão em obra.
Os presos estariam tentando fugir antes que a reforma das unidades- que as tornariam mais seguras- seja concluída.
O coordenador de segurança da
Secretaria de Administração Penitenciária, Sauler Sakalen, disse
que rebeliões e fugas no complexo
da Frei Caneca só acabarão no dia
em que os presídios forem retirados do local.
"O ideal é que não houvesse
unidades prisionais na Frei Caneca. O complexo é rodeado por
cinco morros e os moradores têm
contato visual com os presos",
afirmou.
A secretaria informou que no
máximo em oito meses desativará
todo o complexo, que abriga quatro presídios e dois hospitais.
Serão construídas novas unidades em Bangu (bairro da zona
oeste), Japeri (a 63 km do Rio) e
Campos dos Goytacazes (a 278
km do Rio).
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