São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RIO

Cerca de 50 homens invadiram posto policial próximo a presídio em busca de armas e munições; dois detentos morreram ao tentar fugir

Criminosos atacam PMs e resgatam presos

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Traficantes do morro do Zinco (no Estácio, zona central do Rio de Janeiro) tentaram resgatar presos na madrugada de ontem na penitenciária Milton Dias Moreira, que integra o complexo penitenciário da Frei Caneca, próximo ao morro. A ação resultou em um intenso tiroteio. Dois presos que tentavam fugir foram mortos. Outros quatro conseguiram escapar da penitenciária.
Em menos de dez dias, foi a terceira tentativa de fuga ou rebelião ocorrida em presídios fluminenses. Nas três ações, houve cinco mortes no total.
A ação começou por volta da 1h. Cerca de 50 traficantes do Zinco armados com fuzis renderam policiais militares do PPC (Posto de Policiamento Comunitário). Eles roubaram as armas e as munições dos PMs para usá-las no resgate.
Em seguida, os criminosos fizeram vários disparos contra a guarita onde ficam PMs que fazem a vigilância externa do complexo penitenciário.
Depois disso, os traficantes se aproximaram do muro da penitenciária Milton Dias Moreira e atiraram três pistolas, duas granadas e duas teresas (cordas artesanais) para um grupo de presos que havia cerrado as celas e esperava no pátio.
Os agentes penitenciários e PMs perceberam a ação e começaram a trocar tiros com traficantes e com presos que receberam as armas. Quatro presos conseguiram fugir. Eles subiram o muro de cerca de 7 m de altura usando as teresas jogadas pelos cúmplices.
Dois outros detentos, que também subiam pelas corda, foram baleados e morreram. O presídio foi cercado e o restante dos presos que estava fora das celas retornou para as galerias.

Bope
Policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do Batalhão de Choque foram chamados. Eles ainda trocaram tiros com os traficantes do Zinco.
De acordo com a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, a tentativa de resgate foi comandada pelo traficante Irapuan David Lopes, o Gangan, um dos líderes da facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos) e chefe do tráfico no morro do Zinco.
Gangan pretendia resgatar cúmplices do Milton Dias Moreira. A unidade, que tem capacidade para 1.200 presos, abriga 1.171 detentos vinculados à ADA.
Os presos mortos foram identificados como Alecsandro da Silva Souza, 28, o Lequinho, e Renato de Souza Xavier Moura, 31, o Pará. Os dois atuariam no morro de São Carlos, que também é vizinho ao complexo e dominado por Gangan.

Críticas
Marcelo Freixo, presidente da ONG Conselho da Comunidade, que fiscaliza os presídios, criticou a ação dos agentes penitenciários e da polícia para conter a fuga. "Os policiais militares que trabalham nas guaritas e na vigilância externa dos presídios não são treinados para a função e atiram para matar", declarou.
O subsecretário de Administração Penitenciária, Aldney Peixoto, afirmou que foi aberta uma sindicância interna para apurar a conduta dos agentes. Ele disse que os guardas não usam munições letais, apenas balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.

Obras
Segundo o Núcleo de Inteligência da Secretaria de Administração Penitenciária, o número de tentativas de fuga tem crescido nos últimos dois meses porque vários presídios estão em obra.
Os presos estariam tentando fugir antes que a reforma das unidades- que as tornariam mais seguras- seja concluída.
O coordenador de segurança da Secretaria de Administração Penitenciária, Sauler Sakalen, disse que rebeliões e fugas no complexo da Frei Caneca só acabarão no dia em que os presídios forem retirados do local.
"O ideal é que não houvesse unidades prisionais na Frei Caneca. O complexo é rodeado por cinco morros e os moradores têm contato visual com os presos", afirmou.
A secretaria informou que no máximo em oito meses desativará todo o complexo, que abriga quatro presídios e dois hospitais.
Serão construídas novas unidades em Bangu (bairro da zona oeste), Japeri (a 63 km do Rio) e Campos dos Goytacazes (a 278 km do Rio).


Texto Anterior: Há 50 anos: Sai hoje o acordo sobre a Indochina
Próximo Texto: Estado vive onda de rebeliões e tentativas de fuga
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.