São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/CAUSAS

Para TAM, avião pode pousar com defeito no sistema de freios

O Airbus-A320 teve problema, 4 dias antes do acidente que provocou a morte de 196 pessoas, no reversor do lado direito

No acidente do Fokker-100 da TAM em 1996, as investigações apontaram problemas no reversor direito como principal causa

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Airbus-A320 que se acidentou na terça-feira em Congonhas, provocando a morte de pelo menos 196 pessoas, voava com um problema mecânico detectado quatro dias antes.
A TAM soube na sexta-feira de um defeito no reversor -que auxilia a frenagem- do lado direito do avião prefixo PT-MPK. Ela decidiu, então, pela lacração do equipamento e liberação da aeronave para funcionar com esse instrumento operante só do lado esquerdo.
A companhia aérea diz que os manuais da Airbus autorizam que se continue voando nessas condições durante dez dias.
No acidente do Fokker-100 da TAM em 1996, que matou 99 pessoas, as investigações apontaram problemas no reversor direito como principal causa.
Oficiais da Aeronáutica também afirmaram que a mesma aeronave que se acidentou na terça tinha enfrentado dificuldades para pousar em Congonhas na véspera devido à pista escorregadia -assim como pelo menos outras quatro, incluindo uma da Pantanal.
O avião, na ocasião, vinha do aeroporto de Confins, em Belo Horizonte. O "Jornal Nacional", da TV Globo, diz que a aeronave parou quase no final da pista. A TAM diz que nenhum incidente grave foi relatado.
Especialistas ouvidos pela Folha dizem que a falha no reversor potencializa os riscos quando associada a outros problemas, como a pista escorregadia de Congonhas. Para eles, só a falha mecânica não causaria um acidente desse porte (leia texto na C 3).

Pista contaminada
Ruy Amparo, vice-presidente técnico da TAM, disse ao "JN" que os manuais da Airbus permitem que a empresa libere a operação da aeronave por dez dias mesmo que os dois reversores estejam inoperantes.
Em seguida, afirmou que "não há alteração de performance" da aeronave sem esse sistema, "exceto em pistas muito contaminadas". Amparo afirmou que as pistas contaminadas seriam "embaixo de chuva muito forte", mas que esse "não era caso declarado" em Congonhas no dia do acidente.
Segundo ele, esse avião foi investigado três meses antes do acidente e não foi constatada "nenhuma pane significativa", que poderia "alterar os padrões de vôo significativamente".
Em nota divulgada ontem à noite, a TAM admitiu a desativação do reversor direito do Airbus depois do defeito constatado no dia 13. Afirma que tudo foi feito em condições previstas pelos manuais de manutenção da fabricante Airbus e aprovado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
O comunicado diz que esse procedimento "não configura qualquer obstáculo ao pouso da aeronave" e que essa informação foi dada pelo presidente da empresa, Marco Antonio Bologna, e pelo vice-presidente técnico, Ruy Amparo, em entrevista coletiva anteontem.
Na entrevista, Amparo, ao ser questionado se poderia ter ocorrido problema semelhante ao do acidente de 1996, afirmou: "O reversor direito estava travado, em condições previstas dentro das normas desse tipo de avião e que não coloca qualquer obstáculo ao pouso previsto em Congonhas".
Já Bologna disse que "os manuais da Airbus mostram que reversor não era requerido para este pouso".
Na nota, a TAM diz que "a empresa reafirma que não teve registro de qualquer problema mecânico neste avião no dia 16 de julho [segunda-feira]" e que, conforme dito na entrevista coletiva, a aeronave "não tinha registro de nenhum problema de manutenção anterior".
Os relatos recebidos pelo Comando da Aeronáutica e pela Anac reforçaram a possibilidade de que a principal causa do acidente tenha sido a falha mecânica do Airbus.
A Aeronáutica confirmou que a imagem filmada do pouso em Congonhas registra um "clarão" na turbina esquerda do jato e acrescentou dados à informação de que uma turbina estaria impulsionando a aeronave para a frente (como em procedimento de decolagem) e outra para trás (de pouso) -e daí a virada do avião para a esquerda antes da colisão.
O piloto, segundo essa hipótese, pousou normalmente, mas uma das turbinas não resistiu à grande elevação de potência exigida para frear.
Com isso, teria havido uma "explosão do compressor", gerando um clarão ou, como definiu José Carlos Pereira, presidente da Infraero, uma "fumaça forte" no lado esquerdo.


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