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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/VÍTIMAS
Famílias só querem enterrar parentes
Familiares de passageiros do vôo JJ 3054 se desesperam enquanto aguardam a identificação dos corpos, que pode levar meses
Alguns saem à
procura de padre, outros não
conseguem deixar o hotel e
há quem tenha voltado ao
RS por não suportar a espera
Globo News/Reprodução
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Christopher Abdalla com foto da filha Rebeca, que será homenageada em jogo do Grêmio, seu time |
DANIELA TÓFOLI
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
À espera dos corpos de seus
parentes, famílias atingidas pelo acidente da TAM não sabem
mais o que fazer para vencer a
angústia de não poder enterrá-los. Há quem saia atrás de um
padre para encomendar missa,
os que não têm coragem de deixar seus quartos de hotel, aqueles que surgem desesperados
no IML tentando acelerar a
identificação dos 196 mortos
(186 no avião, mais dez em terra, segundo a TAM).
Com radiografias debaixo do
braço, João Paulo, 42, primo de
Fabiano Rosito Matos, 30, administrador financeiro que estava no Airbus-A320, chegou
na manhã de ontem ao instituto, no centro de São Paulo, mesmo sem ter sido chamado. "Vim
fazer o reconhecimento do corpo porque a gente não agüenta
essa espera", dizia.
O entra-e-sai de familiares
no IML era constante. A maioria passava consternada, amparada por amigos. O noivo e o irmão de Lina Barbosa Cassol,
28, jovem médica considerada
uma das 20 oncologistas do
mundo em desenvolvimento
que contribuíram para o tratamento do câncer em 2006, não
quiseram falar nada. Tinham
sido convocados para um possível reconhecimento.
A tarefa de identificar corpos
de um acidente tão violento
não é simples. Algumas vítimas
precisarão passar até por exames genéticos e a espera pode
durar meses.
Para explicar o processo de
identificação e tentar acalmar
os parentes, o IML enviou dois
legistas para o hotel Blue Tree
Towers, na av. Faria Lima, zona
sul de São Paulo, onde estão
cerca de 200 familiares.
Porém, mesmo após a reunião, a angústia permanecia.
"As informações são frágeis,
não há certeza de nada. Os peritos disseram que os corpos
identificados já foram liberados, mas os outros podem demorar 15 dias, um mês, três meses", relatou Luiz Moisés, 33,
marido da advogada Nádia, 31.
Ele entregou aos peritos documentos, fotos e um raio-X
odontológico da mulher e,
diante da incerteza da identificação, decidiu voltar para Porto
Alegre. "É muito difícil ficar
aqui." O hotel onde ele estava
hospedado era o mesmo destino da mulher, que participaria
de uma convenção no local.
O taxista Jair Soares dos Santos, 53, marido da gerente de
recursos humanos Marli Pedro, 51, dois filhos, parecia resignado. "A gente fica apreensivo, mas não há o que fazer. Os
corpos estão em estado lastimável e a pressa pode levar a erros. Prefiro ter certeza de que
vou levar o corpo certo."
Para o legisla Carlos Alberto
Coelho é normal que os familiares estejam apreensivos.
"Explicamos que existe um trabalho sério, desenvolvido ininterruptamente, embora as pessoas tenham a impressão que
esteja muito lerdo."
Enquanto aguarda, a família
de Eliane Dornelles, 33, que
deixou dois filhos, partiu em
busca de conforto espiritual.
Seu pai, José Carlos, foi até
uma igreja em Moema, zona
sul, pedir ao padre uma missa.
"Só Deus pode nos dar um pouco de paz no coração."
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