São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/VÍTIMAS

Famílias só querem enterrar parentes

Familiares de passageiros do vôo JJ 3054 se desesperam enquanto aguardam a identificação dos corpos, que pode levar meses

Alguns saem à procura de padre, outros não conseguem deixar o hotel e há quem tenha voltado ao RS por não suportar a espera

Globo News/Reprodução
Christopher Abdalla com foto da filha Rebeca, que será homenageada em jogo do Grêmio, seu time


DANIELA TÓFOLI
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

À espera dos corpos de seus parentes, famílias atingidas pelo acidente da TAM não sabem mais o que fazer para vencer a angústia de não poder enterrá-los. Há quem saia atrás de um padre para encomendar missa, os que não têm coragem de deixar seus quartos de hotel, aqueles que surgem desesperados no IML tentando acelerar a identificação dos 196 mortos (186 no avião, mais dez em terra, segundo a TAM).
Com radiografias debaixo do braço, João Paulo, 42, primo de Fabiano Rosito Matos, 30, administrador financeiro que estava no Airbus-A320, chegou na manhã de ontem ao instituto, no centro de São Paulo, mesmo sem ter sido chamado. "Vim fazer o reconhecimento do corpo porque a gente não agüenta essa espera", dizia.
O entra-e-sai de familiares no IML era constante. A maioria passava consternada, amparada por amigos. O noivo e o irmão de Lina Barbosa Cassol, 28, jovem médica considerada uma das 20 oncologistas do mundo em desenvolvimento que contribuíram para o tratamento do câncer em 2006, não quiseram falar nada. Tinham sido convocados para um possível reconhecimento.
A tarefa de identificar corpos de um acidente tão violento não é simples. Algumas vítimas precisarão passar até por exames genéticos e a espera pode durar meses.
Para explicar o processo de identificação e tentar acalmar os parentes, o IML enviou dois legistas para o hotel Blue Tree Towers, na av. Faria Lima, zona sul de São Paulo, onde estão cerca de 200 familiares.
Porém, mesmo após a reunião, a angústia permanecia. "As informações são frágeis, não há certeza de nada. Os peritos disseram que os corpos identificados já foram liberados, mas os outros podem demorar 15 dias, um mês, três meses", relatou Luiz Moisés, 33, marido da advogada Nádia, 31.
Ele entregou aos peritos documentos, fotos e um raio-X odontológico da mulher e, diante da incerteza da identificação, decidiu voltar para Porto Alegre. "É muito difícil ficar aqui." O hotel onde ele estava hospedado era o mesmo destino da mulher, que participaria de uma convenção no local.
O taxista Jair Soares dos Santos, 53, marido da gerente de recursos humanos Marli Pedro, 51, dois filhos, parecia resignado. "A gente fica apreensivo, mas não há o que fazer. Os corpos estão em estado lastimável e a pressa pode levar a erros. Prefiro ter certeza de que vou levar o corpo certo."
Para o legisla Carlos Alberto Coelho é normal que os familiares estejam apreensivos. "Explicamos que existe um trabalho sério, desenvolvido ininterruptamente, embora as pessoas tenham a impressão que esteja muito lerdo."
Enquanto aguarda, a família de Eliane Dornelles, 33, que deixou dois filhos, partiu em busca de conforto espiritual. Seu pai, José Carlos, foi até uma igreja em Moema, zona sul, pedir ao padre uma missa. "Só Deus pode nos dar um pouco de paz no coração."


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