São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/ENTREVISTA

Análise de segurança deve ser individual

Especialista norte-americana em segurança de vôo defende que companhias aéreas sejam avaliadas separadamente

Mary Schiavo afirma que, mesmo com os acidentes fatais dos aviões da TAM, Brasil ainda é considerado um lugar seguro para voar

DE NOVA YORK

Piloto de avião, advogada e ex-inspetora-geral do Departamento de Transportes dos Estados Unidos, Mary Schiavo defende que a segurança de vôo seja avaliada de maneira individual em cada companhia aérea. "E a TAM tem apresentado vários acidentes, acidentes com vítimas fatais", afirma ela, que é uma das mais respeitadas especialistas no assunto. Leia a seguir trechos da entrevista que foi concedida por Schiavo à Folha. (DENYSE GODOY)

 

FOLHA - De acordo com as informações disponíveis até o momento, o que se pode dizer sobre as causas do acidente?
MARY SCHIAVO -
É algo que tem se repetido: eu já trabalhei com pelo menos cinco acidentes em todo o mundo com exatamente o mesmo cenário. Quando você combina chuva forte e uma pista que não possui uma área de escape de segurança, é muito perigoso. Por isso, aqui nos EUA, as autoridades estão sugerindo aos aeroportos que instalem no final da pista uma estrutura de concreto maleável que segura o avião. Isso tem salvado vidas.

FOLHA - Quais são as suas impressões sobre o sistema de transporte aéreo brasileiro?
SCHIAVO -
O governo norte-americano analisa a segurança de voar em outros países porque os cidadãos do país pedem a sua ajuda na hora de selecionar destinos e companhias aéreas. O Brasil atualmente faz parte do grupo 1 na classificação da FAA (Administração Federal da Aviação), o mesmo nível dos EUA, da Alemanha. No entanto, essa é apenas uma parte da equação. É preciso olhar para as empresas individualmente. A TAM teve vários acidentes, acidentes fatais. Aqui, nos EUA, uma das que apresentam índices elevados de acidentes é a American Airlines -ironicamente, ela é parceira da TAM, e a lei exige que ela faça uma revisão das condições de segurança da companhia brasileira.

FOLHA - Qual seria a solução para o aeroporto de Congonhas?
SCHIAVO -
Todas as metrópoles que enfrentam o problema de um aeroporto no meio da concentração urbana, sobrecarregado com o tráfego, precisam construir outro de grande porte fora da cidade. O governo norte-americano tem um fundo de recursos para isso -e essa é a única maneira de fazer isso, porque o custo é extremamente elevado. Mesmo assim, as pessoas preferiam usar os aeroportos antigos, e agora existe uma lei que limita o tamanho das aeronaves que utilizam os aeroportos menores localizados dentro das cidades.

FOLHA - Como as famílias das vítimas devem agir neste momento no que diz respeito a distribuir as responsabilidades pelo acidente?
SCHIAVO -
Os governos exigem que as companhias aéreas tenham seguros; do contrário, no caso de uma fatalidade, elas poderiam ir à falência. A questão é: o valor é suficiente? É preciso analisar com calma.
Em alguns casos, é possível acionar na Justiça o aeroporto, a empresa, e, se for provado que houve falha mecânica, também a fabricante do avião.
Processar a indústria é algo difícil, então, recomenda-se às autoridades responsáveis pela investigação que preservem toda e qualquer prova.


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