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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/ENTREVISTA
Análise de segurança deve ser individual
Especialista norte-americana em segurança de vôo defende que companhias aéreas sejam avaliadas separadamente
Mary Schiavo afirma que, mesmo com os acidentes fatais dos aviões da TAM, Brasil ainda é considerado um lugar seguro para voar
DE NOVA YORK
Piloto de avião, advogada e
ex-inspetora-geral do Departamento de Transportes dos Estados Unidos, Mary Schiavo defende que a segurança de vôo
seja avaliada de maneira individual em cada companhia aérea.
"E a TAM tem apresentado
vários acidentes, acidentes com
vítimas fatais", afirma ela, que é
uma das mais respeitadas especialistas no assunto.
Leia a seguir trechos da entrevista que foi concedida por
Schiavo à Folha.
(DENYSE GODOY)
FOLHA - De acordo com as informações disponíveis até o momento,
o que se pode dizer sobre as causas
do acidente?
MARY SCHIAVO - É algo que tem
se repetido: eu já trabalhei com
pelo menos cinco acidentes em
todo o mundo com exatamente
o mesmo cenário. Quando você
combina chuva forte e uma pista que não possui uma área de
escape de segurança, é muito
perigoso. Por isso, aqui nos
EUA, as autoridades estão sugerindo aos aeroportos que instalem no final da pista uma estrutura de concreto maleável
que segura o avião. Isso tem salvado vidas.
FOLHA - Quais são as suas impressões sobre o sistema de transporte
aéreo brasileiro?
SCHIAVO - O governo norte-americano analisa a segurança
de voar em outros países porque os cidadãos do país pedem
a sua ajuda na hora de selecionar destinos e companhias aéreas. O Brasil atualmente faz
parte do grupo 1 na classificação da FAA (Administração Federal da Aviação), o mesmo nível dos EUA, da Alemanha. No
entanto, essa é apenas uma
parte da equação.
É preciso olhar para as empresas individualmente. A
TAM teve vários acidentes, acidentes fatais. Aqui, nos EUA,
uma das que apresentam índices elevados de acidentes é a
American Airlines -ironicamente, ela é parceira da TAM, e
a lei exige que ela faça uma revisão das condições de segurança
da companhia brasileira.
FOLHA - Qual seria a solução para o
aeroporto de Congonhas?
SCHIAVO - Todas as metrópoles
que enfrentam o problema de
um aeroporto no meio da concentração urbana, sobrecarregado com o tráfego, precisam
construir outro de grande porte fora da cidade.
O governo norte-americano
tem um fundo de recursos para
isso -e essa é a única maneira
de fazer isso, porque o custo é
extremamente elevado.
Mesmo assim, as pessoas
preferiam usar os aeroportos
antigos, e agora existe uma lei
que limita o tamanho das aeronaves que utilizam os aeroportos menores localizados dentro
das cidades.
FOLHA - Como as famílias das vítimas devem agir neste momento no
que diz respeito a distribuir as responsabilidades pelo acidente?
SCHIAVO - Os governos exigem
que as companhias aéreas tenham seguros; do contrário, no
caso de uma fatalidade, elas poderiam ir à falência. A questão
é: o valor é suficiente? É preciso
analisar com calma.
Em alguns casos, é possível
acionar na Justiça o aeroporto,
a empresa, e, se for provado que
houve falha mecânica, também
a fabricante do avião.
Processar a indústria é algo
difícil, então, recomenda-se às
autoridades responsáveis pela
investigação que preservem toda e qualquer prova.
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