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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/ALTERNATIVAS
Lula autoriza Infraero a vender ações
Estatal que administra aeroportos poderá ter participação de investidores, segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo
Abertura de capital seria,
inclusive, uma forma de o
governo trocar o comando
da empresa, sem desgastes
nem pressões políticas
COLUNISTA DA FOLHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sinal verde ontem para abertura do capital da
Infraero (estatal que administra os aeroportos), mantendo o
controle acionário com o governo e admitindo a venda do
restante das ações a investidores privados, conforme informou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Com a medida, o governo deflagra dois processos para tentar enfim reagir à crise aérea
que já persiste há dez meses e
que chegou ao auge com a queda do Airbus-A320 da TAM, na
terça: ampliar as fontes de investimentos no setor e abrir caminho para o que Bernardo
chama de "choque de gestão".
As mudanças necessitam de
um novo estatuto, para permitir a inclusão de representantes
dos acionistas privados na direção e no conselho da Infraero.
As alterações seriam, inclusive,
uma forma de trocar o comando da empresa sem desgastes
nem pressões políticas.
A idéia existe na estatal desde
2005 e foi até formalizada por
meio de sugestão de projeto de
lei, encaminhado pelos então
ministros da Defesa, José Alencar, e da Fazenda, Antonio Palocci Filho, ao presidente Lula.
Entre os motivos que impediram que a idéia prosperasse
estava a oposição sindical, que
considerava a capitalização por
meio de abertura de capital
uma "privatização branca" e
chegou a fazer abaixo-assinados nos aeroportos.
Para o Sina (Sindicato Nacional dos Aeroportuários), a
abertura não é a melhor solução, porque a Infraero tem uma
função social. "Dos 68 aeroportos, só 11 dão lucro e subsidiam
os demais. O investidor privado
não vai querer subsidiar, vai
querer só o lucro", diz Francisco Lemos, diretor do sindicato.
A retomada da discussão sobre a venda de parte das ações
da Infraero é, na avaliação de
especialistas, uma tentativa do
governo de desviar o foco da
principal questão que está por
trás da tragédia com o vôo da
TAM e da crise aérea. "A questão é bem mais ampla e tem a
ver com competência e responsabilidade de gerenciar aeroportos", afirma a economista
Amaryllis Romano, da consultoria Tendências.
Para ela, apesar do apelo comercial que a empresa pode representar pelo seu tamanho, o
interesse por ações da Infraero
não deveria ser grande se houvesse uma oferta hoje.
Com o monopólio do setor, a
empresa administra 68 aeroportos, onde circularam, no
ano passado, 102,2 milhões de
passageiros. Os 1,9 milhão de
pousos e decolagens registrados em 2006 representam 97%
do movimento do transporte
aéreo regular no Brasil.
A estatal administra ainda
estações de apoio e terminais
de carga. Em 2006, teve R$
2,036 bilhões de receitas operacionais e R$ 1,693 bilhão de
despesas. Ainda assim, teve
prejuízo de 135,3 milhões, influenciado pela provisão de dívidas vencidas do grupo Varig.
Recursos
Em reunião no Palácio do
Planalto, ontem, Lula também
autorizou a área econômica a
discutir com o BNDES formas
de financiar reformas no setor
aéreo que podem somar R$ 20
bilhões em cinco anos.
Paulo Bernardo já conversou
com o presidente da Anac
(Agência Nacional de Aviação
Civil), Milton Zuanazzi, para
elencar as prioridades de investimentos e ontem já tinha enviado representantes do Planejamento para discutir recursos
no BNDES, no Rio de Janeiro.
(ELIANE CANTANHÊDE, HUMBERTO MEDINA e SHEILA D'AMORIM)
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