São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/ALTERNATIVAS

Lula autoriza Infraero a vender ações

Estatal que administra aeroportos poderá ter participação de investidores, segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo

Abertura de capital seria, inclusive, uma forma de o governo trocar o comando da empresa, sem desgastes nem pressões políticas

COLUNISTA DA FOLHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sinal verde ontem para abertura do capital da Infraero (estatal que administra os aeroportos), mantendo o controle acionário com o governo e admitindo a venda do restante das ações a investidores privados, conforme informou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Com a medida, o governo deflagra dois processos para tentar enfim reagir à crise aérea que já persiste há dez meses e que chegou ao auge com a queda do Airbus-A320 da TAM, na terça: ampliar as fontes de investimentos no setor e abrir caminho para o que Bernardo chama de "choque de gestão".
As mudanças necessitam de um novo estatuto, para permitir a inclusão de representantes dos acionistas privados na direção e no conselho da Infraero. As alterações seriam, inclusive, uma forma de trocar o comando da empresa sem desgastes nem pressões políticas.
A idéia existe na estatal desde 2005 e foi até formalizada por meio de sugestão de projeto de lei, encaminhado pelos então ministros da Defesa, José Alencar, e da Fazenda, Antonio Palocci Filho, ao presidente Lula.
Entre os motivos que impediram que a idéia prosperasse estava a oposição sindical, que considerava a capitalização por meio de abertura de capital uma "privatização branca" e chegou a fazer abaixo-assinados nos aeroportos.
Para o Sina (Sindicato Nacional dos Aeroportuários), a abertura não é a melhor solução, porque a Infraero tem uma função social. "Dos 68 aeroportos, só 11 dão lucro e subsidiam os demais. O investidor privado não vai querer subsidiar, vai querer só o lucro", diz Francisco Lemos, diretor do sindicato.
A retomada da discussão sobre a venda de parte das ações da Infraero é, na avaliação de especialistas, uma tentativa do governo de desviar o foco da principal questão que está por trás da tragédia com o vôo da TAM e da crise aérea. "A questão é bem mais ampla e tem a ver com competência e responsabilidade de gerenciar aeroportos", afirma a economista Amaryllis Romano, da consultoria Tendências.
Para ela, apesar do apelo comercial que a empresa pode representar pelo seu tamanho, o interesse por ações da Infraero não deveria ser grande se houvesse uma oferta hoje.
Com o monopólio do setor, a empresa administra 68 aeroportos, onde circularam, no ano passado, 102,2 milhões de passageiros. Os 1,9 milhão de pousos e decolagens registrados em 2006 representam 97% do movimento do transporte aéreo regular no Brasil.
A estatal administra ainda estações de apoio e terminais de carga. Em 2006, teve R$ 2,036 bilhões de receitas operacionais e R$ 1,693 bilhão de despesas. Ainda assim, teve prejuízo de 135,3 milhões, influenciado pela provisão de dívidas vencidas do grupo Varig.

Recursos
Em reunião no Palácio do Planalto, ontem, Lula também autorizou a área econômica a discutir com o BNDES formas de financiar reformas no setor aéreo que podem somar R$ 20 bilhões em cinco anos.
Paulo Bernardo já conversou com o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Milton Zuanazzi, para elencar as prioridades de investimentos e ontem já tinha enviado representantes do Planejamento para discutir recursos no BNDES, no Rio de Janeiro. (ELIANE CANTANHÊDE, HUMBERTO MEDINA e SHEILA D'AMORIM)


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