São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/MEDO

Receoso, passageiro troca avião por ônibus para SP

No Rio de Janeiro e em Porto Alegre, alta procura faz empresas aumentarem frota

No Rio, a procura pela viagem rodoviária para SP aumentou tanto que as empresas colocaram 30 ônibus extras por dia

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ainda vai levar tempo para que a movimentação de passageiros em Congonhas volte ao normal, na opinião de funcionários e passageiros que estiveram ontem no aeroporto.
"Os pilotos, que eram uns brincalhões, agora andam calados", diz Eunice Alves, que há quatro anos dirige microônibus que transporta tripulações.
Enquanto isso, em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, quem vem para São Paulo começa a engrossar filas nas rodoviárias.
No Rio de Janeiro, a procura pela viagem rodoviária para São Paulo aumentou tanto que as empresas colocaram 30 ônibus extras por dia em suas linhas. Na rodoviária Novo Rio, a procura por passagens para SP subiu 30% em relação a 2006.
Nesse trajeto, diariamente 83 ônibus saem do Rio e 87 chegam de São Paulo. A empresa 1001 abriu 12 horários extras hoje e 18 no domingo, quando a procura deve crescer.
A gerente de recursos humanos Fernanda Rodrigues, 33, achou que seria mais rápido viajar de ônibus. "Entre ficar um dia inteiro no aeroporto e viajar seis horas de ônibus, a melhor opção é a segunda."
O acidente com o Airbus A-320 da TAM teve impacto na decisão da servidora pública, Suzana Lage Drumond, 46.
Ela preferiu vir por terra porque a agência onde comprou sua passagem aérea de retorno ao Rio indicou o ônibus como melhor alternativa. "Não consegui falar com a TAM porque ninguém me dava resposta. Gastei uma fortuna de táxi porque, na confusão, tudo parou."
Muitos gaúchos ficaram receosos de ir de avião para São Paulo e trocaram o aeroporto pela rodoviária. Em Porto Alegre, a distância de 1.109 km até São Paulo, que leva até 18 horas para ser percorrida de ônibus, não desanimou passageiros.
Por causa disso, empresas que fazem o trajeto tiveram que disponibilizar mais ônibus para as viagens. A viação Penha colocou dois carros extras na rodoviária para fazer o percurso até São Paulo. Normalmente são três ônibus, que levam, em média, 120 passageiros por dia.
O diretor da Penha na rodoviária de Porto Alegre, Luiz Santos, disse que houve aumento da demanda pelo trecho nesta semana, superior ao esperado no período de férias. Ele diz que 80 pessoas compraram passagem para São Paulo ontem, e os dois ônibus adicionais saíram de Porto Alegre lotados.

Sem medo de voar
Nem todos os passageiros desistiram de Congonhas, mas os que iriam voar ontem estavam receosos. Ana Odélia, que retornava à Bahia, levou fotos, tiradas de seu celular, do prédio atingido pelo avião. "Minha mãe pediu para ir de ônibus. Se não tivesse compromisso, iria."
"Não dá para deixar de voar", diz Alexandre Cantella, que embarcou com o filho para o Rio, rumo ao Pan.
Janaína, aeromoça há seis meses, esteve anteontem no vôo da TAM de Porto Alegre para São Paulo, que transportou familiares das vítimas do acidente. Ontem, estava em Congonhas para voltar a voar.
"O difícil foi atender os familiares, a gente está acostumada a sorrir. Eu disse que estava lá para ajudá-los no que fosse necessário, mas desabei quando cheguei em casa", disse. (FERNANDO BARROS DE MELLO, DIANA BRITO, SIMONE IGLESIAS, FLÁVIO ILHA, JOÃO CARLOS MAGALHÃES E MARI TORTATO)


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