São Paulo, segunda-feira, 20 de julho de 2009

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Ministério da Saúde foca ação em casos graves

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

As mudanças recentes no protocolo de atendimento da gripe suína do Ministério da Saúde revelam como a doença vem sendo tratada cada vez mais como epidêmica no Brasil. O objetivo primordial passou a ser evitar mortes -e, não mais, impedir a todo custo a disseminação do vírus pelo país.
Em vez de tentar diagnosticar todo caso suspeito, o objetivo é tratar quem está em estado grave. Só estes são levados para hospitais de referência a fim de confirmar a presença do vírus.
O isolamento domiciliar deixou de ser recomendado a pacientes suspeitos e confirmados da gripe. A quarentena era usada para evitar que o vírus se espalhasse e contaminasse, por exemplo, parentes do doente.
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, a recomendação agora é para que a pessoa fique em casa por alguns dias, o que também é aconselhado na gripe comum. Isolamento, só hospitalar e para pacientes em estado grave.
As unidades de saúde não precisam mais investigar vínculos do paciente com o exterior ou fazer a perguntas sobre viagens. Precisam só verificar se o paciente tem uma doença respiratória grave, não importa qual, para encaminhá-lo.
Ao examinar só pacientes graves, a ideia é diminuir a morbidade e não sobrecarregar o sistema de saúde. A restrição à realização de exames foi recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
As mudanças culminaram com o anúncio, na última quinta, de que o vírus já circula no país, depois que não foi possível rastrear a origem da contaminação de uma menina de 11 anos de Osasco, que morreu em razão da gripe. O país já tem portanto a transmissão sustentada do vírus -não é mais obrigatório um vínculo com o exterior para contrair a doença.
Para o infectologista da USP, Fábio Leal, as alterações no protocolo de atendimento indicam uma "nova abordagem".
"A prevenção da transmissão é muito difícil. O objetivo era mais retardar do que evitar. Essas eram as medidas iniciais e o objetivo era preparar o sistema de saúde para o que está por vir. Criar um fluxo para que os pacientes sejam atendidos adequadamente quando os casos se complicarem e chegar a um número menor possível de mortes", afirma o médico.

Controle
Algumas ações voltadas à contenção da entrada no vírus serão mantidas. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) receberá ajuda do Exército para recolher declarações de saúde de viajantes nas fronteiras terrestres. O documento também tem de ser entregue por viajantes de voos internacionais.
Além das ações de vigilância, o governo monitora e controla o desenvolvimento do vírus no país por meio de uma rede sentinela. São 62 unidades de saúde que já monitoram a gripe comum e buscam detectar, por exemplo, as cepas do vírus que circulam para ajudar na formulação da vacina anual.
O sistema, contudo, é reconhecidamente falho segundo o próprio governo, o que desperta questionamentos sobre se o governo tem o controle sobre a real dimensão da disseminação da gripe suína no Brasil.
Também integram desse sistema de controle os exames feitos nos hospitais referência. Entretanto, os últimos balanços com o número de casos -superiores a mil- não são mais confiáveis em razão das restrições impostas pelo ministério. A OMS anunciou na última sexta que não contaria mais os casos da gripe no mundo.


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