São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2004

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CANDELÁRIA PAULISTA

Após ataque a moradores de rua, prefeitura e Estado trocam acusações; Marta Suplicy manda coroas de flores

Polícia não tem pistas dos autores do crime

DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia de São Paulo ainda não tem pistas sobre os responsáveis pelos ataques a moradores de rua ocorridos na madrugada de ontem. O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, disse, no início da noite, em entrevista ao programa "Brasil Urgente", da TV Bandeirantes, que nenhuma hipótese pode ser descartada.
De acordo com o secretário, o responsável pelos crimes "pode até ser um psicopata, alguém com um problema mental".
Durante todo o dia de ontem, o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que investiga o caso, trabalhou com o número de oito agredidos.
Só às 21h a assessoria da Secretaria da Segurança confirmou que os dois homens internados na Santa Casa também seriam vítimas do mesmo ataque -mais de 12 horas após eles terem sido internados. A Secretaria Municipal da Assistência Social, porém, já informava, à tarde, que eram dez as vítimas dos ataques.
Na tarde de ontem, o delegado Luis Fernando Lopes Teixeira, do DHPP, destacou que nenhuma hipótese estava descartada e classificou os crimes de "barbárie".
Teixeira afirmou que a polícia havia localizado duas testemunhas, que ainda precisariam ser ouvidas oficialmente. Uma delas, porém, já declarou não se lembrar de nada por estar embriagada.
Na TV, porém, o secretário Abreu Filho chegou a afirmar que "não é incomum, entre moradores de rua, que haja homicídios entre eles". Segundo ele, "há homicídios até em disputas por cobertores, pois os moradores de rua não têm freio limitório [sic], seus limites são loucos".
Logo depois, no entanto, disse não acreditar que tenha sido este o caso. "O que é incomum é essa série." Ele prometeu que vai investigar e esclarecer o caso.

Bate-boca
O ataque acabou provocando novo bate-boca entre a candidata à reeleição Marta Suplicy (PT) e o secretário estadual da Segurança Pública. A prefeitura divulgou nota com críticas à ação do Estado, comandado pelo PSDB, partido de José Serra, principal adversário da petista na disputa.
"É um dever do Estado proteger as pessoas da violência e da criminalidade. Este brutal assassinato evidencia as terríveis carências em matéria de segurança pública e exige que todos assumam seu lugar no combate contra esse flagelo. Só a união de todos pode dar um basta na onda de crimes, seqüestros, assaltos e assassinatos que tomaram conta do dia-a-dia dos brasileiros", diz a nota oficial.
No final da noite de ontem, a secretaria divulgou nota rebatendo as acusações da prefeitura. "O trabalho de combate à criminalidade está sendo feito. Ressaltamos que a retirada dos menores e moradores de rua é atribuição da prefeitura, cabendo à polícia a obrigação legal de prender criminosos."
Disse ainda que o trabalho de policiamento ostensivo na região central reduziu em 36% os homicídios na região no começo do ano. Na nota, também afirma que a PM tenta encaminhar os moradores de rua, mas "não há albergues disponíveis". A informação é contestada pela prefeitura.
Três coroas de flores em nome da prefeita foram colocadas ontem, no começo da noite, nos mesmos lugares onde os moradores de rua foram assassinados durante a madrugada anterior.
As coroas levavam faixas com a inscrição "assassinados pela intolerância", além do nome de Marta, que é candidata à reeleição.
Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura de São Paulo, as coroas foram compradas e colocadas nos locais das mortes por uma decisão particular de Marta, sem envolvimento da administração municipal.


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