|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vírus causador da gripe 'incha' célula de gordura, diz pesquisa
Para professor da USP, trabalho nos EUA indica mais um causador da doença
Estudo é contestado por pesquisador de Londres, que critica busca do obeso por solução fácil em vez de se exercitar ou comer menos
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois grupos de pesquisa nos
Estados Unidos estão realizando estudos mostrando que microorganismos podem causar a
obesidade. Um faz a relação entre micróbios presentes na flora intestinal e a doença. Outro
afirma ter descoberto que o
mesmo vírus da gripe pode causar o aumento de peso. As teses
são polêmicas e há cientistas
que as contestam.
Liderada pelo médico indiano Nikhil Dhurandhar, a equipe do Centro de Pesquisa Biomédica Pennington, na Louisiana, identificou a presença do
adenovírus, que é transmitido
pelo ar e causa gripe, em grande
parte de gordos ou obesos que
participam do estudo. "Selecionamos 500 pessoas, metade
obesa; outra metade, não. Entre os obesos, 30% apresentaram o vírus e, entre os magros,
ele foi encontrado muito poucas vezes, menos que 5%", conta Dhurandhar, que criou o termo "infectobesidade".
O mesmo aconteceu em uma
pesquisa feita com 90 pares de
irmãos gêmeos. "Os que tinham adenovírus eram muito
mais gordos do que os que não
tinham, mesmo com estilo de
vida e características genéticas
muito similares."
Assim, a equipe afirma que o
adenovírus é, no mínimo, um
dos fatores que podem causar a
doença. "Percebemos que esses
vírus levam a um "inchaço" das
células adiposas, gerando a
obesidade." Os cientistas, porém, ainda não sabem por que o
adenovírus só causa a doença
em algumas pessoas. "Agora estamos centrados na produção
de uma vacina contra ele. Em
cinco ou dez anos, poderemos
prevenir essa obesidade."
Professor da Universidade de
São Paulo e fundador da Associação Brasileira para o Estudo
da Obesidade, o endocrinologista Alfredo Halpern afirma
que a descoberta pode mostrar
mais um caminho para o controle da doença. "A obesidade é
multifatorial e todo estudo é
importante", diz. "Nem toda
obesidade é infecciosa."
Ele conta que, no Brasil, cerca de 40% da população têm sobrepeso ou obesidade, índice
semelhante à média mundial.
"Independente da causa da
doença, é preciso lembrar ela só
vai se desenvolver se o ambiente for propício. Ou seja, em uma
região onde falta comida, mesmo com um vírus o paciente
não seria obeso. Já em um meio
obesogênico como o nosso, onde as pessoas se alimentam mal
e não fazem exercícios, o vírus
encontra condições para se expressar."
Pesquisador da Faculdade
Imperial de Londres, Steve
Bloom tem opinião diferente:
"Para mim, não há prova concreta de que o adenovírus pode
gerar a obesidade. A causa da
doença está clara: há milhares
de anos nosso organismo foi
acostumado a guardar energia
e hoje, sem necessidade de se
exercitar e com uma alimentação muito calórica, ele acumula
gordura."
Bloom também lembra que
as pessoas com excesso de peso
estão sempre buscando desculpas para sua condição, um vírus
por exemplo.
Mais sexy
Alheia à polêmica, que começou quando o jornal "The New
York Times" publicou os estudos no domingo passado, a modelo Andréa do Nascimento
Boschim, 28, não tem nenhum
problema em aceitar sua gordura. Com 1,70 m, 95 quilos e
manequim 50, ela ganhou nesse ano o título de "gordinha
mais sexy do Brasil" e diz que
mesmo se houvesse uma vacina
ou um tratamento contra a
obesidade, ela não gostaria de
emagrecer.
Andréa está satisfeita com
seu corpo. Seu namorado, um
sarado professor de capoeira,
também. "Sempre fui gordinha.
Na adolescência tentei fazer
dieta porque uma turma pegava no meu pé. Mas resolvi me
assumir e sou feliz assim", diz.
"Não tenho colesterol alto nem
nada. Então só farei dieta se for
por questão de saúde."
A modelo não faz parte da
maioria. Pensando nas milhares de pessoas que desejam
perder peso, um grupo da Universidade de Washington, conduzido pelo microbiologista
Jeffrey Gordon, começou a
pesquisar como os micróbios
presentes na flora intestinal
atuavam na digestão de alimentos para que os pacientes obesos tivessem uma alimentação
orientada.
Os cientistas descobriram
que, em algumas pessoas, os
micróbios facilitam a absorção
de calorias e as fazem engordar.
Não sabem, ainda, em quantos
pacientes isso ocorre nem por
quais motivos.
Mas para o meio médico, é fato que a flora intestinal tem um
papel fundamental na obesidade, já que a região é uma das
principais envolvidas na retenção (ou não) dos alimentos.
(DANIELA TÓFOLI)
Texto Anterior: Cresce o número de advogados punidos Próximo Texto: Dieta baseada na gentética define o tipo de alimentação Índice
|