São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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Vírus causador da gripe 'incha' célula de gordura, diz pesquisa

Para professor da USP, trabalho nos EUA indica mais um causador da doença

Estudo é contestado por pesquisador de Londres, que critica busca do obeso por solução fácil em vez de se exercitar ou comer menos

DA REPORTAGEM LOCAL

Dois grupos de pesquisa nos Estados Unidos estão realizando estudos mostrando que microorganismos podem causar a obesidade. Um faz a relação entre micróbios presentes na flora intestinal e a doença. Outro afirma ter descoberto que o mesmo vírus da gripe pode causar o aumento de peso. As teses são polêmicas e há cientistas que as contestam.
Liderada pelo médico indiano Nikhil Dhurandhar, a equipe do Centro de Pesquisa Biomédica Pennington, na Louisiana, identificou a presença do adenovírus, que é transmitido pelo ar e causa gripe, em grande parte de gordos ou obesos que participam do estudo. "Selecionamos 500 pessoas, metade obesa; outra metade, não. Entre os obesos, 30% apresentaram o vírus e, entre os magros, ele foi encontrado muito poucas vezes, menos que 5%", conta Dhurandhar, que criou o termo "infectobesidade".
O mesmo aconteceu em uma pesquisa feita com 90 pares de irmãos gêmeos. "Os que tinham adenovírus eram muito mais gordos do que os que não tinham, mesmo com estilo de vida e características genéticas muito similares."
Assim, a equipe afirma que o adenovírus é, no mínimo, um dos fatores que podem causar a doença. "Percebemos que esses vírus levam a um "inchaço" das células adiposas, gerando a obesidade." Os cientistas, porém, ainda não sabem por que o adenovírus só causa a doença em algumas pessoas. "Agora estamos centrados na produção de uma vacina contra ele. Em cinco ou dez anos, poderemos prevenir essa obesidade."
Professor da Universidade de São Paulo e fundador da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade, o endocrinologista Alfredo Halpern afirma que a descoberta pode mostrar mais um caminho para o controle da doença. "A obesidade é multifatorial e todo estudo é importante", diz. "Nem toda obesidade é infecciosa."
Ele conta que, no Brasil, cerca de 40% da população têm sobrepeso ou obesidade, índice semelhante à média mundial. "Independente da causa da doença, é preciso lembrar ela só vai se desenvolver se o ambiente for propício. Ou seja, em uma região onde falta comida, mesmo com um vírus o paciente não seria obeso. Já em um meio obesogênico como o nosso, onde as pessoas se alimentam mal e não fazem exercícios, o vírus encontra condições para se expressar."
Pesquisador da Faculdade Imperial de Londres, Steve Bloom tem opinião diferente: "Para mim, não há prova concreta de que o adenovírus pode gerar a obesidade. A causa da doença está clara: há milhares de anos nosso organismo foi acostumado a guardar energia e hoje, sem necessidade de se exercitar e com uma alimentação muito calórica, ele acumula gordura."
Bloom também lembra que as pessoas com excesso de peso estão sempre buscando desculpas para sua condição, um vírus por exemplo.

Mais sexy
Alheia à polêmica, que começou quando o jornal "The New York Times" publicou os estudos no domingo passado, a modelo Andréa do Nascimento Boschim, 28, não tem nenhum problema em aceitar sua gordura. Com 1,70 m, 95 quilos e manequim 50, ela ganhou nesse ano o título de "gordinha mais sexy do Brasil" e diz que mesmo se houvesse uma vacina ou um tratamento contra a obesidade, ela não gostaria de emagrecer.
Andréa está satisfeita com seu corpo. Seu namorado, um sarado professor de capoeira, também. "Sempre fui gordinha. Na adolescência tentei fazer dieta porque uma turma pegava no meu pé. Mas resolvi me assumir e sou feliz assim", diz. "Não tenho colesterol alto nem nada. Então só farei dieta se for por questão de saúde."
A modelo não faz parte da maioria. Pensando nas milhares de pessoas que desejam perder peso, um grupo da Universidade de Washington, conduzido pelo microbiologista Jeffrey Gordon, começou a pesquisar como os micróbios presentes na flora intestinal atuavam na digestão de alimentos para que os pacientes obesos tivessem uma alimentação orientada.
Os cientistas descobriram que, em algumas pessoas, os micróbios facilitam a absorção de calorias e as fazem engordar. Não sabem, ainda, em quantos pacientes isso ocorre nem por quais motivos.
Mas para o meio médico, é fato que a flora intestinal tem um papel fundamental na obesidade, já que a região é uma das principais envolvidas na retenção (ou não) dos alimentos. (DANIELA TÓFOLI)


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