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Renda dos 10% mais pobres caiu no ano passado, diz FGV
Recuo na renda dessa parcela da população foi de 5,2%, segundo dados da Pnad
Com isso, o número de brasileiros que deixaram
de ser miseráveis em 2007, 1,5 milhão de pessoas,
foi o menor desde 2004
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
A renda dos 10% mais pobres
da população caiu 5,2% no ano
passado, segundo estudo divulgado ontem pela FGV (Fundação Getulio Vargas) com base
nos dados da Pnad (Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE.
Essa queda de renda da população mais pobre teve efeitos
nos indicadores de miséria e
pobreza, segundo a FGV. O número de brasileiros que cruzaram a linha da miséria foi o menor desde 2004.
Mesmo assim, cerca de 1,5
milhão de brasileiros deixaram
de ser miseráveis em 2007, segundo os critérios da FGV (indivíduos com renda familiar
per capita inferior ao valor calculado para o seu Estado e que
varia de acordo ao custo de vida
das diferentes regiões; a média
nacional é de R$ 127).
Em 2007, 18,11% dos brasileiros podiam ser considerados
miseráveis. Em 2006, eram
19,8%. A redução do percentual
foi de 5,5% -contra 15% verificados entre 2006 e 2005.
Segundo o critério utilizado
pelas metas do milênio da ONU
(Organização das Nações Unidas) e pelo Banco Mundial (indivíduos que vivem com menos
de US$ 1 por dia, ajustados pelo
poder de compra do dólar de
acordo com o país), o percentual de brasileiros que vivem na
pobreza extrema chegou a subir: de 4,69% em 2006 para
4,94% no ano passado.
"Apesar de não repetirmos o
resultado de 2006, considero
que os avanços na redução da
desigualdade continuam sendo
fantásticos. Se os anos 90 foram a década da estabilização, a
atual década é a da redução da
desigualdade", diz o economista Marcelo Neri, responsável
pelo Centro de Pesquisas Sociais da FGV.
A redução do ritmo de melhora nos indicadores de miséria e pobreza está relacionada
com o aumento do número de
brasileiros sem qualquer tipo
de rendimento (de 1,2% da população em 2006 para 1,8% no
ano passado) e podem ser atribuídos a três fatores, segundo o
pesquisador.
O primeiro: efeito de um
questionário especial sobre
renda e políticas sociais aplicado pelo IBGE na Pnad de 2006.
Como o questionário não foi
usado no ano passado, pode ter
havido "ruído" na comparação
entre os anos.
O segundo fator: houve aumento do emprego formal, com
carteira assinada, e redução das
possibilidades de trabalho informal para essa população extremamente pobre, exatamente a que mais depende de biscates. A maior formalização, portanto, contribuiu para a perda
de renda dos 10% mais pobres,
segundo o pesquisador.
O terceiro está relacionado
ao Bolsa Família: no ano passado, não houve expansão do programa de transferência de renda (em 2006, 2 milhões de famílias foram incluídas). Segundo a diretora do cadastro único
de programas sociais do governo federal, Lúcia Modesto, o
Bolsa Família encontra dificuldades para atingir a fatia mais
pobre da população: "São os excluídos dos excluídos, uma população que a gente precisa ir
atrás, o que é uma tarefa difícil:
por isso estamos trabalhando
com os municípios para identificar esses bolsões de pobreza".
Classe C em alta
Já a emergente classe C brasileira permanece em expansão, de acordo com a FGV. O levantamento mostra que as faixas intermediárias tiveram os
maiores percentuais de crescimento de renda no ano passado: mais de 5%.
Isso fez com que o percentual
de brasileiros na chamada classe C subisse de 45% para 47%.
O critério da FGV estabelece
que famílias com renda total de
R$ 1.064 a R$ 4.591 podem ser
consideradas de classe C.
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