São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2008

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Renda dos 10% mais pobres caiu no ano passado, diz FGV

Recuo na renda dessa parcela da população foi de 5,2%, segundo dados da Pnad

Com isso, o número de brasileiros que deixaram de ser miseráveis em 2007, 1,5 milhão de pessoas, foi o menor desde 2004

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

A renda dos 10% mais pobres da população caiu 5,2% no ano passado, segundo estudo divulgado ontem pela FGV (Fundação Getulio Vargas) com base nos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE.
Essa queda de renda da população mais pobre teve efeitos nos indicadores de miséria e pobreza, segundo a FGV. O número de brasileiros que cruzaram a linha da miséria foi o menor desde 2004.
Mesmo assim, cerca de 1,5 milhão de brasileiros deixaram de ser miseráveis em 2007, segundo os critérios da FGV (indivíduos com renda familiar per capita inferior ao valor calculado para o seu Estado e que varia de acordo ao custo de vida das diferentes regiões; a média nacional é de R$ 127).
Em 2007, 18,11% dos brasileiros podiam ser considerados miseráveis. Em 2006, eram 19,8%. A redução do percentual foi de 5,5% -contra 15% verificados entre 2006 e 2005.
Segundo o critério utilizado pelas metas do milênio da ONU (Organização das Nações Unidas) e pelo Banco Mundial (indivíduos que vivem com menos de US$ 1 por dia, ajustados pelo poder de compra do dólar de acordo com o país), o percentual de brasileiros que vivem na pobreza extrema chegou a subir: de 4,69% em 2006 para 4,94% no ano passado.
"Apesar de não repetirmos o resultado de 2006, considero que os avanços na redução da desigualdade continuam sendo fantásticos. Se os anos 90 foram a década da estabilização, a atual década é a da redução da desigualdade", diz o economista Marcelo Neri, responsável pelo Centro de Pesquisas Sociais da FGV.
A redução do ritmo de melhora nos indicadores de miséria e pobreza está relacionada com o aumento do número de brasileiros sem qualquer tipo de rendimento (de 1,2% da população em 2006 para 1,8% no ano passado) e podem ser atribuídos a três fatores, segundo o pesquisador.
O primeiro: efeito de um questionário especial sobre renda e políticas sociais aplicado pelo IBGE na Pnad de 2006. Como o questionário não foi usado no ano passado, pode ter havido "ruído" na comparação entre os anos.
O segundo fator: houve aumento do emprego formal, com carteira assinada, e redução das possibilidades de trabalho informal para essa população extremamente pobre, exatamente a que mais depende de biscates. A maior formalização, portanto, contribuiu para a perda de renda dos 10% mais pobres, segundo o pesquisador.
O terceiro está relacionado ao Bolsa Família: no ano passado, não houve expansão do programa de transferência de renda (em 2006, 2 milhões de famílias foram incluídas). Segundo a diretora do cadastro único de programas sociais do governo federal, Lúcia Modesto, o Bolsa Família encontra dificuldades para atingir a fatia mais pobre da população: "São os excluídos dos excluídos, uma população que a gente precisa ir atrás, o que é uma tarefa difícil: por isso estamos trabalhando com os municípios para identificar esses bolsões de pobreza".

Classe C em alta
Já a emergente classe C brasileira permanece em expansão, de acordo com a FGV. O levantamento mostra que as faixas intermediárias tiveram os maiores percentuais de crescimento de renda no ano passado: mais de 5%.
Isso fez com que o percentual de brasileiros na chamada classe C subisse de 45% para 47%. O critério da FGV estabelece que famílias com renda total de R$ 1.064 a R$ 4.591 podem ser consideradas de classe C.


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