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CDHU mantém 382 apartamentos fechados há 1 ano
Conjunto do Ipiranga, na zona sul, é um dos vários casos em
que obras foram concluídas, mas não puderam ser ocupadas
SP tem deficit habitacional
estimado em 880 mil
moradias; 70% dos que vivem
em situação precária estão na
região metropolitana
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Quatro prédios construídos
pelo governo do Estado, num
total de 382 apartamentos, estão prontos há quase um ano no
Ipiranga, zona sul de São Paulo,
sem que tenham sido ocupados
por moradores até agora.
Para quem passa pelo n.º 525
da rua Leais Paulistanos, o estranhamento é inevitável diante das centenas de janelas fechadas. Os comentários, também. "Que desperdício!", "E eu
aqui pagando aluguel...", "Olha
o prédio do Serra!" foram algumas das frases ouvidas pela reportagem da Folha quando esteve no local semana passada.
O empreendimento no Ipiranga, que custou aos cofres
públicos R$ 18,4 milhões, é um
de vários casos de prédios
construídos pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Urbano do Estado) que permanecem vazios
ou só parcialmente ocupados.
O governo diz que, desde
2007, vem "represando" a entrega de conjuntos habitacionais a fim de regularizar a situação dos terrenos -normalmente doados por prefeituras.
Alega ainda que, desde então,
só entrega as chaves quando os
beneficiários estão com sua documentação regularizada, com
financiamento aprovado, para
evitar que elas se mudem sem
que tenham o título de propriedade do imóvel.
São Paulo tem um deficit habitacional estimado em 880
mil moradias, de acordo com
dados da própria CDHU e da
Fundação Seade. A maioria das
pessoas sem habitação ou que
vivem em condições precárias
está na região metropolitana
do Estado -cerca de 70%.
Nos últimos anos, o governo
estadual vem descumprindo
sistematicamente a meta de
entregas de apartamentos definida na lei orçamentária. De
2005 até o ano passado, o governo deixou de entregar quase
68 mil unidades habitacionais.
Pintura desgastada
"Passo aqui em frente há dez
meses. Acho estranho isso aí ficar parado com tanta gente
precisando de lugar para morar", diz a fiscal de loja Eneuda
Barbosa Silva, 34, moradora da
favela Heliópolis.
"Ocuparam um espaço só
que ninguém está usufruindo",
diz Anderson Matias, 25, colega
de trabalho de Eneuda que
também mora em Heliópolis.
"A pintura do prédio já está
até ficando preta", afirma José
Sebastião de Lira, proprietário
de uma perfumaria que fica em
frente ao conjunto da CDHU.
As obras do conjunto começaram em 2006. Inicialmente,
houve uma polêmica quanto à
demanda que o empreendimento iria atender: era destinado a moradores de cortiço,
mas, depois, a CDHU definiu
que os prédios fariam parte de
um programa de moradia para
funcionários públicos.
Segundo a assessoria da Secretaria de Estado da Habitação, o conjunto aguarda apenas
o Habite-se, cujo pedido foi
protocolado em fevereiro na
prefeitura. Os apartamentos,
no entanto, ainda não foram
comercializados. A pasta informou que não há previsão para
ocupação dos apartamentos.
O atraso na comercialização,
diz o governo, ocorreu porque
os financiamentos seriam feitos pela Nossa Caixa, que acabou vendida para o Banco do
Brasil. A CDHU, então, transferiu o negócio para a Caixa Econômica Federal, que está analisando agora os financiamentos.
Essa é a mesma alegação do
governo para o caso do conjunto habitacional do Parque Bristol, zona sul, na divisa com o
ABC paulista. Prontos há cerca
de dois anos, os seis prédios,
que abrigam 387 apartamentos, têm ocupação de só 30%.
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