São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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CDHU mantém 382 apartamentos fechados há 1 ano

Conjunto do Ipiranga, na zona sul, é um dos vários casos em que obras foram concluídas, mas não puderam ser ocupadas

SP tem deficit habitacional estimado em 880 mil moradias; 70% dos que vivem em situação precária estão na região metropolitana

CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro prédios construídos pelo governo do Estado, num total de 382 apartamentos, estão prontos há quase um ano no Ipiranga, zona sul de São Paulo, sem que tenham sido ocupados por moradores até agora.
Para quem passa pelo n.º 525 da rua Leais Paulistanos, o estranhamento é inevitável diante das centenas de janelas fechadas. Os comentários, também. "Que desperdício!", "E eu aqui pagando aluguel...", "Olha o prédio do Serra!" foram algumas das frases ouvidas pela reportagem da Folha quando esteve no local semana passada.
O empreendimento no Ipiranga, que custou aos cofres públicos R$ 18,4 milhões, é um de vários casos de prédios construídos pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado) que permanecem vazios ou só parcialmente ocupados.
O governo diz que, desde 2007, vem "represando" a entrega de conjuntos habitacionais a fim de regularizar a situação dos terrenos -normalmente doados por prefeituras.
Alega ainda que, desde então, só entrega as chaves quando os beneficiários estão com sua documentação regularizada, com financiamento aprovado, para evitar que elas se mudem sem que tenham o título de propriedade do imóvel.
São Paulo tem um deficit habitacional estimado em 880 mil moradias, de acordo com dados da própria CDHU e da Fundação Seade. A maioria das pessoas sem habitação ou que vivem em condições precárias está na região metropolitana do Estado -cerca de 70%.
Nos últimos anos, o governo estadual vem descumprindo sistematicamente a meta de entregas de apartamentos definida na lei orçamentária. De 2005 até o ano passado, o governo deixou de entregar quase 68 mil unidades habitacionais.

Pintura desgastada
"Passo aqui em frente há dez meses. Acho estranho isso aí ficar parado com tanta gente precisando de lugar para morar", diz a fiscal de loja Eneuda Barbosa Silva, 34, moradora da favela Heliópolis.
"Ocuparam um espaço só que ninguém está usufruindo", diz Anderson Matias, 25, colega de trabalho de Eneuda que também mora em Heliópolis.
"A pintura do prédio já está até ficando preta", afirma José Sebastião de Lira, proprietário de uma perfumaria que fica em frente ao conjunto da CDHU.
As obras do conjunto começaram em 2006. Inicialmente, houve uma polêmica quanto à demanda que o empreendimento iria atender: era destinado a moradores de cortiço, mas, depois, a CDHU definiu que os prédios fariam parte de um programa de moradia para funcionários públicos.
Segundo a assessoria da Secretaria de Estado da Habitação, o conjunto aguarda apenas o Habite-se, cujo pedido foi protocolado em fevereiro na prefeitura. Os apartamentos, no entanto, ainda não foram comercializados. A pasta informou que não há previsão para ocupação dos apartamentos.
O atraso na comercialização, diz o governo, ocorreu porque os financiamentos seriam feitos pela Nossa Caixa, que acabou vendida para o Banco do Brasil. A CDHU, então, transferiu o negócio para a Caixa Econômica Federal, que está analisando agora os financiamentos.
Essa é a mesma alegação do governo para o caso do conjunto habitacional do Parque Bristol, zona sul, na divisa com o ABC paulista. Prontos há cerca de dois anos, os seis prédios, que abrigam 387 apartamentos, têm ocupação de só 30%.


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