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ANÁLISE
Reciclar o lixo é dever do cidadão
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Reciclar o próprio lixo tornou-se um dever do cidadão
ecologicamente consciente.
Deixar de separar os materiais
reutilizáveis, mais do que mero
desleixo, passou a constituir
uma infração moral na maior
parte do mundo civilizado.
E a razão é muito simples,
quase intuitiva: quanto mais
reciclarmos, menos energia e
recursos naturais teremos de
utilizar, aliviando o planeta da
enorme sobrecarga que já lhe
impomos.
Assim, o exercício de apartar
latas e garrafas do lixo orgânico
converteu-se em uma ação
transcendente, um gesto de solidariedade para com as próximas gerações.
O problema com esse raciocínio é que nem todo projeto de
reciclagem se sustenta. Embora existam evidências de que a
reutilização é a forma mais eficiente de dispor dos restos produzidos por lares -em 83% dos
casos, segundo estudo da Universidade Técnica da Dinamarca-, há situações em que faz
mais sentido mandar tudo para
um lixão ou até mesmo para
um incinerador.
Tudo depende de como se faz
essa conta -e da ideologia de
quem a executa.
A reciclagem das latinhas de
alumínio, por exemplo, não
deixa espaço para dúvidas: economiza-se 95% da energia que
seria utilizada para processar
nova bauxita.
Só que nem todos os casos
são assim tão evidentes. A economia energética com vidro e
papelão é bem menor, ficando
entre 5% e 30%.
O ganho potencial pode, portanto, ser facilmente revertido
pelos custos de coleta, como o
segundo caminhão que a prefeitura manda para apanhar os
recicláveis, os gastos de propaganda necessários para ensinar
a população a segregar todo o
seu lixo, etc.
No mais, que peso econômico atribuir a itens difíceis de
ponderar como a poluição evitada ou a qualidade dos empregos gerados/destruídos?
Um dos poucos consensos é
que, para a reciclagem realmente valer a pena, é preciso
melhorar tanto o design das
embalagens como a eficiência
do processamento.
Neste último quesito, São
Paulo deixa muito a desejar.
Enquanto o prefeito Gilberto
Kassab acena só agora com a
obrigatoriedade da segregação
para grandes geradores de lixo
-o que os EUA e a Europa fizeram décadas atrás-, cidades de
ponta, como San Francisco, já
voltaram para a coleta única
(não segregada) e usinas de alta
tecnologia que separam muito
mais lixo a menor custo.
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