São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Reciclar o lixo é dever do cidadão

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Reciclar o próprio lixo tornou-se um dever do cidadão ecologicamente consciente. Deixar de separar os materiais reutilizáveis, mais do que mero desleixo, passou a constituir uma infração moral na maior parte do mundo civilizado.
E a razão é muito simples, quase intuitiva: quanto mais reciclarmos, menos energia e recursos naturais teremos de utilizar, aliviando o planeta da enorme sobrecarga que já lhe impomos.
Assim, o exercício de apartar latas e garrafas do lixo orgânico converteu-se em uma ação transcendente, um gesto de solidariedade para com as próximas gerações.
O problema com esse raciocínio é que nem todo projeto de reciclagem se sustenta. Embora existam evidências de que a reutilização é a forma mais eficiente de dispor dos restos produzidos por lares -em 83% dos casos, segundo estudo da Universidade Técnica da Dinamarca-, há situações em que faz mais sentido mandar tudo para um lixão ou até mesmo para um incinerador.
Tudo depende de como se faz essa conta -e da ideologia de quem a executa.
A reciclagem das latinhas de alumínio, por exemplo, não deixa espaço para dúvidas: economiza-se 95% da energia que seria utilizada para processar nova bauxita.
Só que nem todos os casos são assim tão evidentes. A economia energética com vidro e papelão é bem menor, ficando entre 5% e 30%.
O ganho potencial pode, portanto, ser facilmente revertido pelos custos de coleta, como o segundo caminhão que a prefeitura manda para apanhar os recicláveis, os gastos de propaganda necessários para ensinar a população a segregar todo o seu lixo, etc.
No mais, que peso econômico atribuir a itens difíceis de ponderar como a poluição evitada ou a qualidade dos empregos gerados/destruídos?
Um dos poucos consensos é que, para a reciclagem realmente valer a pena, é preciso melhorar tanto o design das embalagens como a eficiência do processamento.
Neste último quesito, São Paulo deixa muito a desejar. Enquanto o prefeito Gilberto Kassab acena só agora com a obrigatoriedade da segregação para grandes geradores de lixo -o que os EUA e a Europa fizeram décadas atrás-, cidades de ponta, como San Francisco, já voltaram para a coleta única (não segregada) e usinas de alta tecnologia que separam muito mais lixo a menor custo.


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