São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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Vítima deve evitar reações extremas

DA REPORTAGEM LOCAL

Nem rebeldia nem submissão total. As reações extremas podem ter consequências graves para a vítima durante o sequestro ou até cinco anos depois dele.
Para o psiquiatra Eduardo Ferreira Santos, supervisor do serviço de psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo, a vítima tem de colaborar com os sequestradores, mas não pode ceder demais.
"A submissão total afeta a auto-estima e a personalidade", disse Santos, que coordena um programa do HC de tratamento psicológico gratuito a vítimas de sequestro. "É pela submissão total que geralmente surgem os problemas psicológicos", afirmou.
Ele é contra a idéia de elaborar um manual de sobrevivência do sequestrado. Para o médico, a vítima tem de manter a calma para avaliar a situação e reagir de acordo com as circunstâncias. "Não se pode afrontar o sequestrador, mas também não se pode parecer desesperado", disse.
Embasado no depoimento de 60 vítimas acompanhadas hoje pelo programa, Santos afirma que os sequestrados devem colaborar no sequestro e que o engenheiro civil Fernando (nome fictício) agiu certo. "Ele tem de agir assim, embora seja uma situação absurda", afirmou o psiquiatra.
Segundo ele, o sequestro pode desencadear um trauma psicológico -chamado de estresse pós-traumático- num prazo de até cinco anos depois do incidente.
O melhor remédio, segundo ele, é falar sobre o assunto. "Tudo que se esconde debaixo do tapete vai apodrecer debaixo do tapete. Vai começar a cheirar mal, e aí não adianta mais", afirmou o médico.
Das 60 pessoas acompanhadas pelo programa, 40 foram vítimas de sequestro relâmpago e o restante, de sequestro tradicional. Segundo o psiquiatra, o sequestro relâmpago pode causar tanto ou mais traumas psicológicos do que o tradicional.
"Na maioria dos casos, a vítima do sequestro relâmpago é mulher e jovem, tem pouca estrutura psicológica para aguentar esse tipo de violência. No sequestro tradicionais, as vítimas são mais velhas e estão mais preparadas para suportar essa situação", disse.
Para o pesquisador Túlio Kahn, a colaboração é o melhor caminho, mas é preciso evitar a intimidade. "A vítima pode ficar sabendo demais da quadrilha e isso pode comprometer a sua situação", afirmou Kahn.


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