São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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Elo entre líderes é investigado no RJ

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

A polícia do Rio investiga a ligação entre William da Silva Lima, 60, o Professor, preso em Bangu 3, e Júlio César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola, preso no interior de São Paulo. Eles seriam articuladores da aliança firmada entre as facções criminosas CV (Comando Vermelho), do Rio, e PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo.
Em julho, a Draco (Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas) abriu um inquérito para apurar a ligação entre os dois líderes das facções.
"Há algum tempo investigamos essa aliança. Recentemente, surgiu o informe de que Professor está envolvido. Muitos nem se lembram dele, mas a influência que tem dentro do CV é grande", disse o delegado Ricardo Hallak.
Professor é um dos fundadores do CV, cuja história ele relata no livro "Quatrocentos contra Um: uma História do Comando Vermelho", lançado há 11 anos.
Com o nome inicial de Falange Vermelha, o hoje CV foi criado nos anos 70 por um grupo de detentos do extinto presídio da Ilha Grande, onde conviveram com presos políticos encarcerados pelo regime militar.

Condenações
Sentenciado a 84 anos de prisão, Professor tem em sua ficha criminal 13 condenações por assalto a mão armada e uma por sequestro -algumas combinadas com o crime de formação de quadrilha. Também constam três fugas, conforme registra o Desipe (Departamento de Sistema Penitenciário).
Uma das diferenças entre Professor e os demais líderes do CV é que ele não controla pontos-de-venda de drogas em favelas do Rio de Janeiro.
Professor já passou por diversas penitenciárias do Estado e foi um dos primeiros presos a ingressar no presídio de segurança máxima Bangu 1, em 1988.
Mesmo fora dos holofotes da mídia, Professor desempenha papel importante dentro do CV. Uma das indicações deste poder é, de acordo com o delegado Hallak, a função de diretor da Associação Cultural de Bangu 3, exercida por Professor. Ele está no presídio desde 1997, quando foi transferido de Bangu 1, porque tinha bom comportamento.
"Ser diretor de associação mostra prestígio. O Isaías do Borel [Isaías Costa Rodrigues, outro líder do CV", por exemplo, é diretor da Associação de Esportes. Eles lidam sempre com os diretores do presídio e levam a eles as reivindicações dos presos."

Aliança
A aliança entre o CV e o PCC já não é novidade para a polícia. Em dezenas de favelas cariocas há muros pichados com as duas siglas, lado a lado. Fotos dessas pichações fazem parte do inquérito policial. A polícia também já apreendeu armas com as siglas das facções.
A Subsecretaria de Inteligência da Secretaria Estadual de Segurança adotou, neste semestre, uma medida para tentar evitar rebeliões em conjunto: é feita uma consulta diária, por telefone, sobre a situação dos três presídios de São Paulo onde estão integrantes do PCC.
Informações colhidas pela subsecretaria davam conta de um plano para uma megarrebelião nos presídios onde estão integrantes das duas facções criminosas. A ação simultânea aconteceria no último dia 6 deste mês, data do primeiro turno das eleições. A subsecretaria investiga se a megarrebelião ainda pode acontecer.


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