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Mãe diz que não autorizou volta de Nayara
Em entrevista à Rede Globo, mãe disse ter ficado surpresa quando viu filha subir as escadas; declaração confirma o que pai havia dito
Corregedoria da Polícia Militar ainda vai apurar se condução da operação pelo Gate teve falha que possa ter colocado vidas em risco
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Andrea Rodrigues Araújo,
mãe de Nayara Rodrigues da
Silva, 15, disse ontem que não
autorizou o retorno da filha ao
apartamento onde ela havia sido mantida refém. A declaração
foi dada à Rede Globo e confirma o que o pai já havia dito. "Fiquei surpresa quando ela passou pelas escadas", disse a mãe
que, no momento, estava com
os policiais e acompanhava tudo pela TV.
No sábado, em entrevista coletiva, o coronel Eduardo José
Félix, comandante do Batalhão
de Choque da Polícia Militar de
São Paulo, disse que a mãe havia autorizado que a menina
entrasse no prédio para negociar com Lindemberg Fernandes Alves. Segundo ele, o combinado era que a menina e o irmão (amigo de Lindemberg)
não entrassem no apartamento, parando a uma distância segura. "A mãe autorizou, e o grupo analisou. Até onde ela iria,
não ia ter risco nenhum. O que
ocorreu é que o irmão parou
[antes de chegar à porta], e ela
não", disse.
Delegado
A Polícia Civil isentou o Gate
(Grupo de Ações Táticas Especiais) da PM na morte de Eloá e
concluiu que quem atirou nela
e em Nayara, ambas com 15
anos, foi mesmo Lindemberg.
"Todos os disparos [com munição letal] ocorridos no apartamento foram feitos por Lindemberg. Apenas um disparo
de calibre 12 de borracha foi feito pela PM", afirmou o delegado-seccional de Santo André,
Luiz Carlos dos Santos
Segundo ele, todos projéteis
encontrados pela Polícia Técnico-Científica são compatíveis com o calibre 32, a arma
usada por Lindemberg.
A Polícia Civil, no entanto,
ainda não sabe dizer se o tiro
que matou Eloá foi dado antes
ou depois de a PM invadir.
A PM diz que explodiu a porta do imóvel e entrou apenas
quando escutou o tiro. A perícia
e a própria Nayara poderão esclarecer o fato. A menina só poderá prestar depoimento quando receber alta.
Jornalistas que estavam no
local no momento da invasão-
e alguns moradores que conversaram com a reportagem-
dizem que só ouviram disparos
após a derrubada da porta.
Homicídio doloso
"Nada indica que a tática usada pela PM tenha levado a menina à morte. São duas coisas
distintas, o crime e a tática",
afirmou ontem o delegado-seccional de Santo André.
Segundo o delegado, após a
invasão, os policiais militares
do Gate só fizeram um disparo
com bala de borracha em direção à Lindemberg e erraram.
Eloá levou dois tiros, na cabeça e na virilha, e Nayara, um,
na boca. Foram retirados projéteis do abdômen de Eloá e do
maxilar de Nayara.
Por conta da dúvida sobre
quando a ordem dos fatos, a Polícia Civil apura, paralelamente, a ação da PM, apesar desse
não ser o foco da sua investigação. Oficialmente, a Corregedoria da PM apura se negociação e invasão foram corretas.
"O que estamos apurando no
inquérito são os crimes cometidos principalmente pelo jovem", disse Santos. "Falha técnica, de ordem administrativa,
é outra história. O inquérito vai
trazer para o seu cerne tudo o
que aconteceu. (...) Mas do
evento morte da menina, há
um grande culpado: Lindemberg."
O jovem será indiciado por
homicídio doloso pela morte de
Eloá e duas tentativas de homicídio contra Nayara e o sargento da Força Tática da PM Atos
Antonio Valeriano. Ele foi o
primeiro PM a tentar negociar
a libertação dos reféns.
O ex-namorado de Eloá também poderá ser indiciado por
uma terceira tentativa de homicídio, contra o sargento
Daylson Moreira, do Gate, que
teve seu escudo perfurado. Ele
ainda vai responder por cárcere
privado e por colocar a vida de
outras pessoas em risco.
A cadeia
Mesmo preso numa cela isolada dos demais presos no CDP
(Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros (zona oeste de
SP), Lindemberg é ameaçado
de morte.
Na cadeia, Lindemberg alternava momentos de choro e de
introspecção na cela em que está preso sozinho no CDP.
À noite, outros presos bateram panelas na grade contra a
presença dele. Mulheres de
presos que visitaram os maridos no sábado saíram de lá dizendo que, se permanecesse no
local, Lindemberg seria morto
pelos detentos.
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