São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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Mãe diz que não autorizou volta de Nayara

Em entrevista à Rede Globo, mãe disse ter ficado surpresa quando viu filha subir as escadas; declaração confirma o que pai havia dito

Corregedoria da Polícia Militar ainda vai apurar se condução da operação pelo Gate teve falha que possa ter colocado vidas em risco

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Andrea Rodrigues Araújo, mãe de Nayara Rodrigues da Silva, 15, disse ontem que não autorizou o retorno da filha ao apartamento onde ela havia sido mantida refém. A declaração foi dada à Rede Globo e confirma o que o pai já havia dito. "Fiquei surpresa quando ela passou pelas escadas", disse a mãe que, no momento, estava com os policiais e acompanhava tudo pela TV.
No sábado, em entrevista coletiva, o coronel Eduardo José Félix, comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar de São Paulo, disse que a mãe havia autorizado que a menina entrasse no prédio para negociar com Lindemberg Fernandes Alves. Segundo ele, o combinado era que a menina e o irmão (amigo de Lindemberg) não entrassem no apartamento, parando a uma distância segura. "A mãe autorizou, e o grupo analisou. Até onde ela iria, não ia ter risco nenhum. O que ocorreu é que o irmão parou [antes de chegar à porta], e ela não", disse.

Delegado
A Polícia Civil isentou o Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) da PM na morte de Eloá e concluiu que quem atirou nela e em Nayara, ambas com 15 anos, foi mesmo Lindemberg.
"Todos os disparos [com munição letal] ocorridos no apartamento foram feitos por Lindemberg. Apenas um disparo de calibre 12 de borracha foi feito pela PM", afirmou o delegado-seccional de Santo André, Luiz Carlos dos Santos
Segundo ele, todos projéteis encontrados pela Polícia Técnico-Científica são compatíveis com o calibre 32, a arma usada por Lindemberg.
A Polícia Civil, no entanto, ainda não sabe dizer se o tiro que matou Eloá foi dado antes ou depois de a PM invadir.
A PM diz que explodiu a porta do imóvel e entrou apenas quando escutou o tiro. A perícia e a própria Nayara poderão esclarecer o fato. A menina só poderá prestar depoimento quando receber alta.
Jornalistas que estavam no local no momento da invasão- e alguns moradores que conversaram com a reportagem- dizem que só ouviram disparos após a derrubada da porta.

Homicídio doloso
"Nada indica que a tática usada pela PM tenha levado a menina à morte. São duas coisas distintas, o crime e a tática", afirmou ontem o delegado-seccional de Santo André.
Segundo o delegado, após a invasão, os policiais militares do Gate só fizeram um disparo com bala de borracha em direção à Lindemberg e erraram.
Eloá levou dois tiros, na cabeça e na virilha, e Nayara, um, na boca. Foram retirados projéteis do abdômen de Eloá e do maxilar de Nayara.
Por conta da dúvida sobre quando a ordem dos fatos, a Polícia Civil apura, paralelamente, a ação da PM, apesar desse não ser o foco da sua investigação. Oficialmente, a Corregedoria da PM apura se negociação e invasão foram corretas.
"O que estamos apurando no inquérito são os crimes cometidos principalmente pelo jovem", disse Santos. "Falha técnica, de ordem administrativa, é outra história. O inquérito vai trazer para o seu cerne tudo o que aconteceu. (...) Mas do evento morte da menina, há um grande culpado: Lindemberg."
O jovem será indiciado por homicídio doloso pela morte de Eloá e duas tentativas de homicídio contra Nayara e o sargento da Força Tática da PM Atos Antonio Valeriano. Ele foi o primeiro PM a tentar negociar a libertação dos reféns.
O ex-namorado de Eloá também poderá ser indiciado por uma terceira tentativa de homicídio, contra o sargento Daylson Moreira, do Gate, que teve seu escudo perfurado. Ele ainda vai responder por cárcere privado e por colocar a vida de outras pessoas em risco.

A cadeia

Mesmo preso numa cela isolada dos demais presos no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros (zona oeste de SP), Lindemberg é ameaçado de morte.
Na cadeia, Lindemberg alternava momentos de choro e de introspecção na cela em que está preso sozinho no CDP.
À noite, outros presos bateram panelas na grade contra a presença dele. Mulheres de presos que visitaram os maridos no sábado saíram de lá dizendo que, se permanecesse no local, Lindemberg seria morto pelos detentos.

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