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Tiros substituem música na rua de Clementina
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Nas décadas de 1960 e 1970, a
rua Acaú, no Engenho Novo,
zona norte do Rio, recebia amigos da cantora Clementina de
Jesus (1901-1987) para encontros musicais e mesa de pastéis,
"especialidade" culinária da
sambista. Hoje, está numa das
principais linhas de tiros de
traficantes rivais na cidade.
Composta por casario antigo,
a via está entre os morros São
João e dos Macacos, palco do
conflito entre bandidos que
culminou na queda de um helicóptero da Polícia Militar.
Segundo moradores, traficantes exigem que, das 19h às
8h, os pedestres andem pela
rua de paralelepípedo -equidistante dos dois lados. Caminhar na calçada mostraria filiação a alguma facção rival.
"Isso começou há uns três
anos. É obra de traficante drogado, que usa crack, e quer fazer regras", diz o vendedor
G.M., 27, há sete no local, que
pede para não ser identificado.
Algumas casas apresentam
marcas de tiros, remendadas
com concreto sem pintura.
"As pessoas não pintam mais
as casas. Rebocam de qualquer
jeito. Ninguém vai investir
num patrimônio aqui", afirma
o aposentado Manoel, 73, que
não quis dar o sobrenome.
Com medo de represálias,
conversas com repórteres são
ainda mais incomuns. "Meu
amigo, não posso falar com você. Eu sei que é o seu trabalho,
mas o perigo é meu", disse um
morador, ao recusar entrevista.
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