São Paulo, terça-feira, 20 de outubro de 2009

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Tiros substituem música na rua de Clementina

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Nas décadas de 1960 e 1970, a rua Acaú, no Engenho Novo, zona norte do Rio, recebia amigos da cantora Clementina de Jesus (1901-1987) para encontros musicais e mesa de pastéis, "especialidade" culinária da sambista. Hoje, está numa das principais linhas de tiros de traficantes rivais na cidade.
Composta por casario antigo, a via está entre os morros São João e dos Macacos, palco do conflito entre bandidos que culminou na queda de um helicóptero da Polícia Militar.
Segundo moradores, traficantes exigem que, das 19h às 8h, os pedestres andem pela rua de paralelepípedo -equidistante dos dois lados. Caminhar na calçada mostraria filiação a alguma facção rival.
"Isso começou há uns três anos. É obra de traficante drogado, que usa crack, e quer fazer regras", diz o vendedor G.M., 27, há sete no local, que pede para não ser identificado.
Algumas casas apresentam marcas de tiros, remendadas com concreto sem pintura.
"As pessoas não pintam mais as casas. Rebocam de qualquer jeito. Ninguém vai investir num patrimônio aqui", afirma o aposentado Manoel, 73, que não quis dar o sobrenome.
Com medo de represálias, conversas com repórteres são ainda mais incomuns. "Meu amigo, não posso falar com você. Eu sei que é o seu trabalho, mas o perigo é meu", disse um morador, ao recusar entrevista.


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