São Paulo, terça-feira, 20 de outubro de 2009

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Para socióloga, "única diretriz pública é a do enfrentamento"

Jacqueline Muniz diz que governo do Rio só tem "metas numéricas" na segurança

Segundo ela, helicóptero é inadequado para combate ao tráfico e "não produz superioridade'; Secretaria de Segurança não comenta

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O governo do Estado do Rio e a Secretaria de Segurança não têm "diretrizes explícitas" do que pretendem, "só metas numéricas, quantitativas", diz a socióloga Jacqueline Muniz. Professora do mestrado em direito da Universidade Cândido Mendes, no Rio, ela é especialista em segurança pública e autora da tese de doutorado "Ser Policial É Sobretudo uma Razão de Ser". Para Jacqueline Muniz, a "única diretriz pública é a do enfrentamento". A Secretaria de Segurança não comentou.

FOLHA - Como a senhora analisa a política de segurança no Rio?
JACQUELINE MUNIZ
- Não há diretrizes explícitas, os princípios não estão claros. Só há metas numéricas, quantitativas. Quais são os objetivos? Não tem os fins. E o que se tem [de orientação] produz contradição e tensão entre os meios [materiais] e os modos como se faz, dando a impressão de que a polícia está despreparada. Não tem uma política clara, pactuada. A única diretriz pública é a do enfrentamento.

FOLHA - A que se refere quando fala de contradição?
JACQUELINE
- Ao uso de helicópteros como arma policial de combate em operações em favelas. Helicóptero deve ser usado apenas em ações de resgate, observação e monitoramento. É o governo que escolhe politicamente os meios e estratégias a serem usados. A polícia paga o preço que não é só dela. A fatura é de todos. Ninguém se responsabiliza, é difuso. O que se vê é produto de decisão do governo.

FOLHA - A culpa é do governo?
JACQUELINE
- Quando se compra um helicóptero, uma unidade móvel de assalto, de combate, arrisca-se o policial e o cidadão no chão. Os policiais podem morrer. Nada é inesperado. Dá a impressão de que foram pegos de surpresa. Chorar no túmulo do policial e do cidadão já está ficando cínico. O policial não tem condições de estabilidade e precisão para atirar lá de cima, de onde todos são iguais. O improviso se conflita com a doutrina da academia, e os agentes ficam submetidos aos fins políticos e sob questionamento permanente.

FOLHA - O helicóptero não resulta em superioridade tática?
JACQUELINE
- Não pode ter tiro sem endereço. Perde-se a precisão e a responsabilidade sobre o tiro, que diferencia um policial. O helicóptero é inadequado e não produz superioridade, vive recebendo tiro. Não queremos helicópteros que caiam nem que policiais ou cidadãos morram.


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