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Para socióloga, "única diretriz pública é a do enfrentamento"
Jacqueline Muniz diz que governo do Rio só tem "metas numéricas" na segurança
Segundo ela, helicóptero é inadequado para combate ao tráfico e "não produz superioridade'; Secretaria de Segurança não comenta
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
O governo do Estado do Rio e
a Secretaria de Segurança não
têm "diretrizes explícitas" do
que pretendem, "só metas numéricas, quantitativas", diz a
socióloga Jacqueline Muniz.
Professora do mestrado em
direito da Universidade Cândido Mendes, no Rio, ela é especialista em segurança pública e
autora da tese de doutorado
"Ser Policial É Sobretudo uma
Razão de Ser".
Para Jacqueline Muniz, a
"única diretriz pública é a do
enfrentamento". A Secretaria
de Segurança não comentou.
FOLHA - Como a senhora analisa a
política de segurança no Rio?
JACQUELINE MUNIZ - Não há diretrizes explícitas, os princípios
não estão claros. Só há metas
numéricas, quantitativas.
Quais são os objetivos? Não
tem os fins. E o que se tem [de
orientação] produz contradição e tensão entre os meios
[materiais] e os modos como se
faz, dando a impressão de que a
polícia está despreparada. Não
tem uma política clara, pactuada. A única diretriz pública é a
do enfrentamento.
FOLHA - A que se refere quando fala de contradição?
JACQUELINE - Ao uso de helicópteros como arma policial de
combate em operações em favelas. Helicóptero deve ser
usado apenas em ações de resgate, observação e monitoramento. É o governo que escolhe politicamente os meios e
estratégias a serem usados. A
polícia paga o preço que não é
só dela. A fatura é de todos.
Ninguém se responsabiliza, é
difuso. O que se vê é produto de
decisão do governo.
FOLHA - A culpa é do governo?
JACQUELINE - Quando se compra um helicóptero, uma unidade móvel de assalto, de combate, arrisca-se o policial e o cidadão no chão. Os policiais podem morrer. Nada é inesperado. Dá a impressão de que foram pegos de surpresa. Chorar
no túmulo do policial e do cidadão já está ficando cínico. O policial não tem condições de estabilidade e precisão para atirar lá de cima, de onde todos
são iguais. O improviso se conflita com a doutrina da academia, e os agentes ficam submetidos aos fins políticos e sob
questionamento permanente.
FOLHA - O helicóptero não resulta
em superioridade tática?
JACQUELINE - Não pode ter tiro
sem endereço. Perde-se a precisão e a responsabilidade sobre o tiro, que diferencia um
policial. O helicóptero é inadequado e não produz superioridade, vive recebendo tiro. Não
queremos helicópteros que
caiam nem que policiais ou cidadãos morram.
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