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Ambientalista não era radical, afirma viúva
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
O ambientalista Francisco Anselmo Gomes de Barros, 65, o
Franselmo, que ateou fogo ao corpo no dia 12 passado durante protesto contra a instalação de usinas
de álcool no entorno do Pantanal,
"não gostava de aparecer", define
a viúva Iracema Sampaio, 67.
"Também não era radical. Ele
era religioso, mas sem radicalismo", diz Iracema, acrescentando
que jamais imaginou uma atitude
daquelas do marido, sempre calmo e envolvido com leitura.
A reportagem ouviu jornalistas,
ambientalistas e funcionários de
órgãos ambientais. Eles disseram
o mesmo sobre Franselmo.
"Como eu fui arrumar uma rival tão forte", lamenta Iracema,
casada há 34 anos. Ela se refere à
Fuconams (Fundação para Conservação da Natureza de MS),
ONG criada no fim da década de
70 por Franselmo justamente para impedir que uma usina de álcool se instalasse no Pantanal.
As manifestações deram certo,
pois em 1982 a Assembléia Legislativa do Estado proibiu destilarias na bacia do Alto Paraguai, onde fica a planície pantaneira. Lei
que desde agosto passado o governador Zeca do PT tenta derrubar na mesma Assembléia.
Franselmo foi de Salvador (BA)
para Campo Grande em 1977. Ex-cabo da Aeronáutica e ex-funcionário administrativo de uma madeireira, tornou-se jornalista e
criou a Fuconams.
Minutos antes de atear fogo ao
corpo, Franselmo entregou 17
cartas ao colega ambientalista Jorge Gonda. Numa, pediu que assumisse a presidência da Fuconams.
"Não precisa ser fanático como
eu", escreveu.
"Nada e nenhum problema me
levaria a tomar esta decisão. Só
por decisão de Deus", escreveu na
carta endereçada às três irmãs.
"Podia ter sido até uma alucinação momentânea, mas foi confirmada há mais de um mês desde
que começamos a ver este problema", acrescentou.
O problema, segundo Iracema,
é que o ambientalista percebeu
que a Assembléia poderia aprovar
em votação as usinas de álcool.
No sábado, dia do protesto, ele
saiu de casa com uma camisa de
tecido sintético (material mais inflamável) por baixo da camisa de
algodão. "Foi tudo planejado",
conclui Iracema.
Na carta a Gonda, Franselmo
confirma: "Se o óbito se der, faça o
velório na Capela da 13 [de Maio],
dá mais repercussão".
(HC)
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