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FONTE DA JUVENTUDE
Combate aos radicais livres figura entre os mais modernos métodos contra degeneração celular
Alimentação é arma contra envelhecimento
MARILIZ PEREIRA JORGE
DA REVISTA DA FOLHA
O mundo era ainda uma criança
e o imaginário da humanidade já
alimentava a fantasia de interferir
na engrenagem da vida: encarar a
seqüência do nascer-crescer-envelhecer-morrer sempre foi, no
mínimo, melancólico -nenhum
problema com a primeira metade
da equação, tudo contra a irreversibilidade da segunda. Tem mesmo que ser assim?
Bruxos, alquimistas e seus hoje
sucessores, os cientistas, sempre
sonharam descobrir que não. Não
por acaso, empresas de biotecnologia com nomes sugestivos
-Rejuvenon, LifeGen Technologies, Longenity, Elixir Pharmaceuticals- investem milhões em
pesquisa atrás da sonhada "pílula
da juventude".
Os estudos seguem diferentes
rumos, mas o foco não poderia
ser mais básico: a célula. Achar
um modo de impedir sua degeneração e morte e perpetuar sua duplicação pode significar desvendar os mecanismos do envelhecimento, não apenas ajudando a
evitar o surgimento de várias
doenças relacionadas à idade como prolongando a juventude.
Uma corrente significativa trabalha na teoria do médico americano Denham Harman, desenvolvida na década de 1950, que coloca o envelhecimento como uma
guerra entre dois exércitos, o dos
radicais livres contra os oxidantes, o primeiro de ataque, o segundo de defesa, ambos produzidos
pelo próprio organismo e nas atividades cotidianas.
Combustível
Radicais livres são subprodutos
do oxigênio, o mesmo combustível que nos mantêm vivos, e surgem após sua combustão, fazendo jogo duplo: ao mesmo tempo
em que atuam como soldados na
destruição de agentes invasores
infecciosos, funcionam como
"terroristas" quando atacam as
próprias células, provocando sua
degeneração e morte.
De sua luta permanente contra
os oxidantes, a "polícia" formada
por enzimas e outras substâncias
químicas, resulta o estresse oxidativo, mortos e feridos que vão se
acumulando no organismo ao
longo dos anos. Segundo a americana Jean Carper, estima-se que,
aos 50 anos, 30% da nossa proteína celular tenha sido convertida
em lixo oxidativo.
Assim, enquanto a pílula dos
sonhos não dá o ar da graça, os
partidários da corrente apostam
no que é possível: tentar debilitar
o exército agressor e reforçar o
defensor, reduzindo a produção/
ingestão de radicais livres e aumentando a de antioxidantes. Como? Evitando hábitos e condições
ambientais negativas e, principalmente, abusando de substâncias
antioxidantes.
Há quem acredite, como o médico americano Michael Roizen,
do RealAge Institute, que uma alimentação correta por si só teria
esse poder, desde que ingerida
nas quantidades certas. "Tente
comer diariamente quatro porções de frutas, cinco de vegetais,
duas de cereais integrais e de uma
a três porções de derivados de leite desnatado, mais duas porções
de proteína", aconselha Roizen.
Para outra legião, os nutrientes
essenciais só poderão ser encontrados em doses eficazes de suplementos, vendidos nas farmácias.
O próprio Denham Harman, que
completa 90 anos em fevereiro e
continua na ativa, não deixa de tomar suas pílulas. Mas boa parte
dos que jogam nesse time prefere
ser cautelosa. "Não há dúvidas de
que há benefícios, mas ninguém
deveria tomar suplementos sem
orientação", diz Kose Horibe, da
Academia Brasileira de Medicina
Antienvelhecimento.
Para Paulo Olzon Monteiro da
Silva, chefe de clínica médica da
Unifesp e especialista em doenças
oxidativas, a polêmica da suplementação tem uma explicação
simples. De um lado, sabe-se as
doses diárias que os indivíduos
precisam para exercer suas funções básicas e vitais. "O problema
é que a medicina não conseguiu
estabelecer que doses são necessárias para que esses nutrientes
tenham um poder antioxidante",
esclarece.
Testes
Horibe explica que ainda não há
testes que possam mostrar o nível
de estresse oxidativo do organismo, mas que há exames que mostram deficiências de minerais e vitaminas. São os praticados pela
controvertida medicina ortomolecular. "Esses resultados aliados
a um exame clínico completo que
inclui testes cognitivos, de força
física, estresse, insônia e impotência, por exemplo, podem credenciar o profissional a receitar suplementos", explica Horibe.
Para os opositores, a medicina
ortomolecular ainda deve provas
científicas de que realmente funciona; de seus pacientes, requer
um bolso muito bem abastado.
"Ainda é muito caro", reconhece
o dermatologista e especialista em
medicina ortomolecular Amilton
Macedo. "Os pacientes gastam de
R$ 300 a R$ 1.200 por mês em suplementos. E tem mais, ninguém
vive só de pílula. As pessoas precisam aprender a comer. Uma mudança na alimentação já seria um
passo enorme no combate ao envelhecimento", aconselha.
Do outro lado, Olzon, da Unifesp, faz coro: "Mudar o estilo de
vida e ter uma alimentação rica
em nutrientes e antioxidantes me
parece uma medida mais real e
bastante eficiente no combate aos
radicais livres e ao envelhecimento." Que tal fazer o possível, enquanto o sonho não vem?
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