São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 2006

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Conhecido como Semente, suspeito já foi acusado de roubar veículo

DA REPORTAGEM LOCAL

Um portãozinho de ferro amarelo descascado dá acesso ao estreito corredor de cimento que leva à casa onde Luiz Eduardo Cirino, o Semente, 29, solteiro e sem filhos, morava com a mãe e a irmã.
Semente fazia bicos como entregador de pizzas, até que ontem ficou subitamente famoso. Rodeado por repórteres de TV e de jornais, tentava explicar o que o teria levado a matar um casal de velhinhos inofensivos da vizinhança.
Ele partiu para a execução do crime do corredor estreito: atravessou os muros dos fundos dos vizinhos, até chegar na casa de Sebastião Tavares.
"Nunca nunca recebi queixa do Semente. Ele teve problemas com a polícia, há uns cinco anos, mas eu depus a favor porque foi injustiça. O rapaz tinha uma rixa com ele, assaltou um carro e disse que foi com sua ajuda", conta o Giacomo*, dono da pizzaria vizinha.
Sobre possíveis ligações do assassino com drogas, os vizinhos são evasivos: "O apelido dele é Semente..", ri Fidelis*.
Chegou-se a suspeitar que Semente teria agido em conluio com o filho do casal, o engenheiro Rogério Tavares, 42. As suspeitas surgiram porque, num primeiro momento, Rogério recusou-se a abrir a porta para a polícia.
"Ele jamais seria capaz de uma barbárie dessas. Era prestativo, ótimo filho", garante Rodrigues*, que conhece o casal morto "há 30 anos".
Ao contrário de Semente, que era bastante popular no bairro, Rogério pouco saía.
"Ele tem depressão, toma remédio, mas é "manso'", diz Auxiliadora*, na padaria.
Dona Rosalina, vizinha cujo quintal faz um "L" com os fundos da casa de Sebastião, conta que Rogério sofre de epilepsia, "e por isso não se casou". "Ele é um amor, acompanhava sempre a mãe e a avó à missa."
Rosalina diz que, logo depois de acordar, quando preparava o café na cozinha, ouviu uma sucessão de gritos de dor: "Era como um gemido alto, repetido umas cinco vezes."
Portuguesa como Sebastião e amiga do casal há décadas, Rosalina diz que o vizinho era ministro (fiel consagrado para ajudar o pároco a ofertar a hóstia) na igreja Nossa Senhora de Fátima, no Sumaré.
"Eles distribuíam cestas básicas, arrumavam empregos, só faziam o bem", conta Rosalina, na porta de casa, uma construção térrea com fachada de mármore, esquadrias de alumínio e vidros fumê: o mesmo estilo da casa de Sebastião e Hilda, antes de ser pichada com frases agressivas dedicadas ao assassino do casal. (PAULO SAMPAIO)


*nomes fictícios


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