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Conhecido como Semente, suspeito já foi acusado de roubar veículo
DA REPORTAGEM LOCAL
Um portãozinho de ferro
amarelo descascado dá acesso
ao estreito corredor de cimento
que leva à casa onde Luiz
Eduardo Cirino, o Semente, 29,
solteiro e sem filhos, morava
com a mãe e a irmã.
Semente fazia bicos como
entregador de pizzas, até que
ontem ficou subitamente famoso. Rodeado por repórteres
de TV e de jornais, tentava explicar o que o teria levado a matar um casal de velhinhos inofensivos da vizinhança.
Ele partiu para a execução do
crime do corredor estreito:
atravessou os muros dos fundos dos vizinhos, até chegar na
casa de Sebastião Tavares.
"Nunca nunca recebi queixa
do Semente. Ele teve problemas com a polícia, há uns cinco
anos, mas eu depus a favor porque foi injustiça. O rapaz tinha
uma rixa com ele, assaltou um
carro e disse que foi com sua
ajuda", conta o Giacomo*, dono
da pizzaria vizinha.
Sobre possíveis ligações do
assassino com drogas, os vizinhos são evasivos: "O apelido
dele é Semente..", ri Fidelis*.
Chegou-se a suspeitar que
Semente teria agido em conluio
com o filho do casal, o engenheiro Rogério Tavares, 42. As
suspeitas surgiram porque,
num primeiro momento, Rogério recusou-se a abrir a porta
para a polícia.
"Ele jamais seria capaz de
uma barbárie dessas. Era prestativo, ótimo filho", garante
Rodrigues*, que conhece o casal morto "há 30 anos".
Ao contrário de Semente,
que era bastante popular no
bairro, Rogério pouco saía.
"Ele tem depressão, toma remédio, mas é "manso'", diz Auxiliadora*, na padaria.
Dona Rosalina, vizinha cujo
quintal faz um "L" com os fundos da casa de Sebastião, conta
que Rogério sofre de epilepsia,
"e por isso não se casou". "Ele é
um amor, acompanhava sempre a mãe e a avó à missa."
Rosalina diz que, logo depois
de acordar, quando preparava o
café na cozinha, ouviu uma sucessão de gritos de dor: "Era como um gemido alto, repetido
umas cinco vezes."
Portuguesa como Sebastião e
amiga do casal há décadas, Rosalina diz que o vizinho era ministro (fiel consagrado para
ajudar o pároco a ofertar a hóstia) na igreja Nossa Senhora de
Fátima, no Sumaré.
"Eles distribuíam cestas básicas, arrumavam empregos, só
faziam o bem", conta Rosalina,
na porta de casa, uma construção térrea com fachada de mármore, esquadrias de alumínio e
vidros fumê: o mesmo estilo da
casa de Sebastião e Hilda, antes
de ser pichada com frases
agressivas dedicadas ao assassino do casal.
(PAULO SAMPAIO)
*nomes fictícios
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