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FOCO
Quilombolas vivem espera pela terra
Há 1 ano comunidade no interior de SP foi reconhecida como dona da área, mas falta o título
EMILIO SANT'ANNA
ENVIADO ESPECIAL A
SALTO DE PIRAPORA (SP)
"A falecida nossa mãe só
fez foi esperar." Marcos Norberto de Almeida, 50, não é
homem de muito falar. Vez
ou outra, porém, olha para o
irmão Jovenil Rosa, 53, e lembra que o tempo deles também está passando.
Há um ano -Dia da Consciência Negra, como hoje-, o
clima no quilombo Cafundó,
em Salto de Pirapora, a 144
km de São Paulo, era outro.
Em 20 de novembro de
2009, Regina Aparecida Pereira, 52, mulher de Marcos,
recebeu do presidente Lula o
certificado de reconhecimento da comunidade como área
de interesse social.
Trata-se do documento necessário para que o título de
propriedade dos 219 hectares
seja emitido em nome da comunidade. "Desde então, nada aconteceu", diz Regina.
Enquanto esperam, a cultura se perde. No Cafundó, a
cupópia -adaptação de línguas africanas- já foi a segunda língua. Hoje, apenas
Marcos, Jovenil e mais um irmão falam o dialeto.
"O título é o reconhecimento de um direito, torna
mais fácil o acesso ao crédito
[rural]. Por outro lado, as políticas públicas de Estado podem e devem ser implementadas independentemente
do título", afirma Rolf Hackbart, presidente do Incra.
Os moradores têm outra
preocupação. O certificado
vale por dois anos. Nesse período, as ações de avaliação,
notificação e desapropriação
das terras invadidas no local
devem ser implementadas.
Messias Luís do Prado, 70,
é um dos posseiros que devem sair. "A terra é deles
mesmo. Mas comprei esse
terreno e nunca me disseram
quanto vou receber", afirma.
Segundo o Incra, até o final do ano, quem tem de deixar a área será informado. A
propriedade da terra será validada dentro do prazo do
certificado, diz Hackbart.
De acordo com o Itesp
(Fundação Instituto de Terras do Estado de SP), das 53
comunidades quilombolas
paulistas, 27 já foram reconhecidas pelo órgão e seis receberam o título de posse.
Para Marcos, isso diz pouco. "Nossa luta é não morrer
como nossos pais morreram,
sem ver a terra virar deles."
FOLHA.com
Veja imagens de Cafundó
folha.com.br/ct833212
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