São Paulo, sábado, 20 de novembro de 2010

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Diagnóstico por imagem cresce, mas acesso é desigual, diz IBGE

SUS, que atende 75% da população, tem apenas 40% das máquinas de diagnóstico do país

Concentração de equipamentos no setor privado, conveniado ou não ao sistema oficial, preocupa pesquisadores

DENISE MENCHEN
DO RIO

O número de equipamentos de diagnóstico por imagem deu um salto de 27,4% no país entre 2005 e 2009, revelou ontem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O acesso da população a esses recursos, porém, ainda é muito desigual - juntas, as unidades de saúde públicas e privadas conveniadas ao SUS, que atendem cerca de 75% da população, dispõem de apenas 40% do total de aparelhos.
O pesquisador Marco Andreazzi, do IBGE, diz que, enquanto o SUS oferece seis aparelhos de tomografia computadorizada por um milhão de habitantes, nos planos de saúde essa proporção chega a 44,3 para cada um milhão de usuários. Na média nacional, a disponibilidade é de 15,8, acima da do Canadá (12,7) e do Reino Unido (7,6), que também têm sistemas universais de saúde.
Na ressonância magnética, o contraste se repete. A taxa no SUS é de 1,9 aparelho por milhão de habitantes. Já nos planos de saúde, sobe para 19,8 por milhão.
"Nós temos hoje no país uma saúde suplementar que oferece acesso a serviços de diagnose de alta tecnologia numa intensidade superior à de vários países do mundo e temos uma oferta do SUS que está muito abaixo disso", diz Andreazzi. "O que se conclui é que o país compra esses equipamentos numa proporção bastante razoável, mas o acesso a esses serviços é bastante diferenciado."

DOIS PESOS
Para pesquisadores, a consequência é sentida por todos: de um lado, parte da população que depende do SUS fica sem acesso a exames que poderiam diagnosticar de forma precoce doenças como o câncer; de outro, quem tem plano de saúde corre risco de ser submetida a exames excessivos, expondo-se de forma desnecessária à radiação.
"A clínica que compra equipamento de alta tecnologia precisa fazer o máximo de exames possível para que o produto possa se financiar", diz o coordenador de pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense, Túlio Brandão. "Isso interfere na prescrição desses procedimentos".
A coordenadora do Laboratório de Economia Política da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ligia Bahia, aponta ainda o risco de o sistema público de saúde ficar "refém" do setor privado. Segundo o IBGE, 76,1% dos aparelhos para diagnóstico por imagem pertencem à rede privada, conveniada ou não ao SUS.
"É bastante problemático, porque o SUS fica sem muita capacidade de negociação e tem que pagar o que o prestador exigir", diz.


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