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Diagnóstico por imagem cresce, mas acesso é desigual, diz IBGE
SUS, que atende 75% da população, tem apenas 40% das máquinas de diagnóstico do país
Concentração de equipamentos no setor privado, conveniado ou não ao sistema oficial, preocupa pesquisadores
DENISE MENCHEN
DO RIO
O número de equipamentos de diagnóstico por imagem deu um salto de 27,4%
no país entre 2005 e 2009, revelou ontem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). O acesso da população a esses recursos, porém, ainda é muito desigual
- juntas, as unidades de saúde públicas e privadas conveniadas ao SUS, que atendem cerca de 75% da população, dispõem de apenas 40%
do total de aparelhos.
O pesquisador Marco Andreazzi, do IBGE, diz que, enquanto o SUS oferece seis
aparelhos de tomografia
computadorizada por um milhão de habitantes, nos planos de saúde essa proporção
chega a 44,3 para cada um
milhão de usuários. Na média nacional, a disponibilidade é de 15,8, acima da do Canadá (12,7) e do Reino Unido
(7,6), que também têm sistemas universais de saúde.
Na ressonância magnética, o contraste se repete. A taxa no SUS é de 1,9 aparelho
por milhão de habitantes. Já
nos planos de saúde, sobe
para 19,8 por milhão.
"Nós temos hoje no país
uma saúde suplementar que
oferece acesso a serviços de
diagnose de alta tecnologia
numa intensidade superior à
de vários países do mundo e
temos uma oferta do SUS que
está muito abaixo disso", diz
Andreazzi. "O que se conclui
é que o país compra esses
equipamentos numa proporção bastante razoável, mas o
acesso a esses serviços é bastante diferenciado."
DOIS PESOS
Para pesquisadores, a consequência é sentida por todos: de um lado, parte da população que depende do SUS
fica sem acesso a exames que
poderiam diagnosticar de
forma precoce doenças como
o câncer; de outro, quem tem
plano de saúde corre risco de
ser submetida a exames excessivos, expondo-se de forma desnecessária à radiação.
"A clínica que compra
equipamento de alta tecnologia precisa fazer o máximo de
exames possível para que o
produto possa se financiar",
diz o coordenador de pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal
Fluminense, Túlio Brandão.
"Isso interfere na prescrição
desses procedimentos".
A coordenadora do Laboratório de Economia Política
da Saúde da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Ligia Bahia, aponta ainda o risco de o sistema público de
saúde ficar "refém" do setor
privado. Segundo o IBGE,
76,1% dos aparelhos para
diagnóstico por imagem pertencem à rede privada, conveniada ou não ao SUS.
"É bastante problemático,
porque o SUS fica sem muita
capacidade de negociação e
tem que pagar o que o prestador exigir", diz.
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