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MARIA INÊS DOLCI
O país das oportunidades
O Brasil é mesmo o país das
oportunidades: de ser espoliado; de meterem a mão no seu
bolso; de alguém ter a brilhante
idéia de criar impostos, taxas,
contribuições, ou de aumentar os
que já existem.
Quando pensamos já conhecer
todas "as oportunidades" de ganho indevido a partir de nossos
salários ou rendimentos, alguém
inova e nos surpreende. O troféu
"Inovação Avança no Bolso" de
2005 vai para... a Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, foi criada há
quase 39 anos, para controle e fiscalização dos mercados de seguro, de previdência privada aberta,
de capitalização e de resseguro.
Onde estava a Susep quando
consumidores foram enganados
pela seguradora Interbrazil?
Aquela que, primeiramente, conquistou grandes contratos públicos, depois quebrou e prejudicou
várias empresas, e que seu presidente depôs na Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios
sobre um suposto vínculo entre as
doações que fez a políticos e os
grandes contratos públicos que
amealhou.
Talvez os especialistas da Susep
estivessem ocupados, projetando
um reajuste de 43,4% no valor do
seguro obrigatório pago pelos
proprietários de automóveis de
passeio, de motocicletas, de ônibus e de caminhões.
Sim, aumento de quase 44% em
12 meses, enquanto a inflação do
período não chegará a 6%.
DPVAT é o apelido do Seguro
Obrigatório de Danos Pessoais
Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres. Ou seja,
tem o nobre objetivo de assegurar
a indenização de vítimas de acidentes de trânsito.
Por que 43,44%? Segundo a Susep, para aumentar o valor das
indenizações. Interessante! Tomara que essa cobrança não seja
utilizada como fonte de enriquecimento para as seguradoras...
Será que a Susep teve, na hora
de planejar esse "reajustaço", perícia semelhante à da fiscalização
da Interbrazil? Tomara que não,
porque movimentará muito,
muito dinheiro -o meu, o seu, o
nosso, como dizia um ex-integrante de equipe econômica. Será
que tamanho reajuste tem amparo legal?
Com esse índice estranho, o
DPVAT de um carro de passeio
subirá de R$ 53,06 para R$ 76,08.
Some-se a isso o IPVA, o licenciamento do carro, o seguro privado
que somos obrigados a fazer (porque não há qualquer segurança
para quem trafega ou estaciona
um carro nas maiores, e até nas
médias, cidades do Brasil).
A conta ainda não terminou.
Quase a metade do preço final de
um carro zero quilômetro vem de
impostos. Com tudo isso, ainda se
paga para estacionar na rua (na
"zona azul"), e para rodar em
muitas estradas do Brasil.
Certo, pagamos tudo isso para
financiar um transporte coletivo
confortável, limpo, moderno, e
que nos leva a todos os lugares?
Nada mais errado. Ou a pavimentação perfeita das vias urbanas para maior segurança de motoristas, de passageiros e de pedestres? Não, outra vez.
Resumo: jamais pense que as
autoridades -federais, estaduais
ou municipais- esgotaram todo
o arsenal de maldades que podem
fazer conosco. Sempre há uma
surpresa, uma nova oportunidade de nos aliviar de nosso suado
dinheirinho.
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