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Escutas flagram esquema de assassinatos
Quadrilha comandada por ex-fuzileiro é responsável por ao menos 4 mortes, diz PF
Por telefone, ele anunciava ao chefe, o contraventor Fernando Iggnácio,
o êxito dos atentados dizendo apenas "bingo"
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
O braço armado da quadrilha
do contraventor Fernando Iggnácio, formado por PMs liderados pelo ex-fuzileiro naval
Marcos Paulo Moreira da Silva,
o Marquinhos Sem Cérebro, foi
responsável por ao menos quatro mortes e dois atentados durante um mês de escuta da Polícia Federal, entre setembro e
outubro. A guerra travada por
Iggnácio e seu rival Rogério Andrade já soma mais de 50 mortes, em oito anos. Iggnácio está
preso desde outubro na Polinter, em Niterói. Sem Cérebro
está detido no 1º Distrito Naval.
Apesar de pagar pelas mortes, Iggnácio, em gravação autorizada pela Justiça Federal,
diz que "é obrigação [do funcionário] zelar pelo patrimônio da
empresa", o que implica eliminar rivais e destruir caça-níqueis do inimigo. Quando uma
morte é concluída, eles anunciam dizendo "bingo" nas gravações. Conforme a denúncia
do Ministério Público Federal,
Iggnácio tem "absoluto domínio final de todos esses crimes".
A primeira tentativa de assassinato relatada ocorreu em
8 de setembro, em Realengo,
contra um homem identificado
como Mima, que teria participado do quebra-quebra de máquinas de Iggnácio dias antes.
Mima foi atacado a tiros, mas
só se feriu. Menos de dez minutos depois, Sem Cérebro ligou
para Iggnácio e disse apenas
"bingo". Um minuto depois, retornou afirmando para "cancelar a última informação".
O cabo PM Gilmar Simão, assassinado a tiros quando acabara de depor na 4ª DPJM (Delegacia de Polícia Judiciária Militar), em 10 de outubro, foi outra
vítima. O grupo descobriu que
Simão, também acusado de
participar da chacina da Baixada (29 mortos em março de
2005), participara de um tiroteio em Anchieta em que pessoas do grupo de Iggnácio haviam se ferido. Mais uma vez
Marquinhos ligou para Iggnácio dizendo apenas "bingo".
Dias depois, em 21 de outubro, foi a vez de Manoel dos
Santos Filho ser morto, pois estaria destruindo máquinas.
"Diz então que ficou R$
12.500 [o pagamento aos assassinos]. Diz que se quiserem dar
alguma coisa mais, tira do bolo
de vocês. Mas diz para ele: "O
nosso amigo mandou lembrar
que é obrigação zelar pelo patrimônio da empresa, isso é só
um presente"." A declaração
gravada pela PF é de Iggnácio,
em telefonema com Ulisses Rezende, seu número dois.
R$ 6 milhões mensais
Iggnácio ganhava cerca de R$
6 milhões por mês com mais de
10 mil máquinas de caça-níqueis espalhadas pela zona oeste do Rio, segundo a PF.
As contas bancárias da organização já estão bloqueadas pela Justiça, a pedido da PF e do
Ministério Público Federal. Essa medida imobiliza a ação dos
integrantes que não foram presos, na avaliação desses órgãos.
A documentação relativa às
contas ainda não foram analisadas pela PF, que ainda não
tem idéia do valor congelado.
A Folha não conseguiu localizar os advogados de Iggnácio
e de Marquinhos Sem Cérebro.
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