São Paulo, quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

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Segundo PF, policial aposentado vendia munição a traficantes do Rio

Quadrilha foi descoberta em operação que teve 6 presos e 41 armas apreendidas

LUISA BELCHIOR
MÁRCIA BRASIL
DA SUCURSAL DO RIO

A Polícia Federal prendeu ontem seis integrantes de uma quadrilha acusada de fabricar e traficar munições para facções criminosas -principalmente o CV (Comando Vermelho)- que controlam a venda de drogas em morros e favelas do Estado. Entre os presos está o escrivão aposentado da PF Cláudio Coelho, que também já foi policial da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes). Coelho, que é instrutor de tiro prático e foi campeão dessa modalidade em competições da PF, é suspeito de ser o principal membro da quadrilha.
Na operação, batizada de Toca, uma alusão a Coelho, a PF encontrou, em uma área residencial em Vila Valqueire (zona oeste), 41 armas -pelo menos 15 das quais longas, a maioria em situação legal e de colecionadores. A PF afirmou não saber a origem das armas.
Até a conclusão desta edição, a PF disse que também havia contabilizado 1.700 cartuchos de munição (de calibres 9, 38, 380, 762, 556, .30, .40 e .45), 7.000 espoletas, 1 kg de pólvora, uma máquina de lavar espoletas, 20 carregadores, 2,5 kg de cocaína e R$ 8.955 em espécie.
A investigação, cujo foco era o tráfico de munições, durou cerca de 70 dias, acompanhando a venda de 100 caixas (com 50 munições em cada uma), a cada três dias, segundo a PF. Nove mandados de prisão foram expedidos pela Vara Criminal da Comarca de Itaguaí -sendo que duas pessoas já estavam presas e uma, foragida.
Os insumos (como pólvora, espoleta e cápsulas) que a quadrilha usava para fabricar as munições vinham, principalmente, de sobras de campeonatos de tiros, concluiu a investigação. Segundo a PF, Coelho e Marcelo Vicente Ferreira dos Santos, o Mister M, eram atiradores e, por isso, tinham autorização para fabricar a própria munição. Assim, o produto final saía mais barato para os traficantes, informou a PF.
"Existe uma gama muito grande de atiradores e, nesses campeonatos, há pessoas que não utilizam esses insumos na totalidade, e eles se valeram das amizades para conseguir esses insumos", disse o superintendente da PF no Rio, Valdinho Caetano.
Segundo a PF, a quadrilha fornecia armas e munição para os morros e favelas controladas pelo CV na zona sul, como Pavão-Pavãozinho e Ladeira dos Tabajaras, e na zona norte, entre as quais Andaraí, Jacarezinho e o complexo do Alemão.
As armas, a munição e o equipamento para recarga foram localizados pelos policiais, que tinham mandado de busca e apreensão, em uma casa de vila, na rua Ministro Ribeiro Pinheiro, em Vila Valqueire (zona oeste). Moradores da rua ficaram assustados ao saberem que um "arsenal de guerra" estava guardado próximo de suas residências.
"É inacreditável que todo esse armamento estava escondido em uma casa perto da minha. Vila Valqueire é um bairro pacato, nem favela tem. Meus filhos brincam na calçada. Imagina se, um dia, esse local explodisse? Morreria todo mundo", disse o advogado Carlos Almeida Fonseca, 39.
A Folha não havia conseguido localizar os advogados dos acusados até a conclusão desta edição.


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