|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Segundo PF, policial aposentado vendia munição a traficantes do Rio
Quadrilha foi descoberta em operação que teve 6 presos e 41 armas apreendidas
LUISA BELCHIOR
MÁRCIA BRASIL
DA SUCURSAL DO RIO
A Polícia Federal prendeu
ontem seis integrantes de uma
quadrilha acusada de fabricar e
traficar munições para facções
criminosas -principalmente o
CV (Comando Vermelho)-
que controlam a venda de drogas em morros e favelas do Estado. Entre os presos está o escrivão aposentado da PF Cláudio Coelho, que também já foi
policial da DRE (Delegacia de
Repressão a Entorpecentes).
Coelho, que é instrutor de tiro
prático e foi campeão dessa
modalidade em competições da
PF, é suspeito de ser o principal
membro da quadrilha.
Na operação, batizada de Toca, uma alusão a Coelho, a PF
encontrou, em uma área residencial em Vila Valqueire (zona oeste), 41 armas -pelo menos 15 das quais longas, a maioria em situação legal e de colecionadores. A PF afirmou não
saber a origem das armas.
Até a conclusão desta edição,
a PF disse que também havia
contabilizado 1.700 cartuchos
de munição (de calibres 9, 38,
380, 762, 556, .30, .40 e .45),
7.000 espoletas, 1 kg de pólvora, uma máquina de lavar espoletas, 20 carregadores, 2,5 kg de
cocaína e R$ 8.955 em espécie.
A investigação, cujo foco era
o tráfico de munições, durou
cerca de 70 dias, acompanhando a venda de 100 caixas (com
50 munições em cada uma), a
cada três dias, segundo a PF.
Nove mandados de prisão foram expedidos pela Vara Criminal da Comarca de Itaguaí
-sendo que duas pessoas já estavam presas e uma, foragida.
Os insumos (como pólvora,
espoleta e cápsulas) que a quadrilha usava para fabricar as
munições vinham, principalmente, de sobras de campeonatos de tiros, concluiu a investigação. Segundo a PF, Coelho e
Marcelo Vicente Ferreira dos
Santos, o Mister M, eram atiradores e, por isso, tinham autorização para fabricar a própria
munição. Assim, o produto final saía mais barato para os traficantes, informou a PF.
"Existe uma gama muito
grande de atiradores e, nesses
campeonatos, há pessoas que
não utilizam esses insumos na
totalidade, e eles se valeram das
amizades para conseguir esses
insumos", disse o superintendente da PF no Rio, Valdinho
Caetano.
Segundo a PF, a quadrilha
fornecia armas e munição para
os morros e favelas controladas
pelo CV na zona sul, como Pavão-Pavãozinho e Ladeira dos
Tabajaras, e na zona norte, entre as quais Andaraí, Jacarezinho e o complexo do Alemão.
As armas, a munição e o equipamento para recarga foram
localizados pelos policiais, que
tinham mandado de busca e
apreensão, em uma casa de vila,
na rua Ministro Ribeiro Pinheiro, em Vila Valqueire (zona
oeste). Moradores da rua ficaram assustados ao saberem que
um "arsenal de guerra" estava
guardado próximo de suas residências.
"É inacreditável que todo esse armamento estava escondido em uma casa perto da minha. Vila Valqueire é um bairro
pacato, nem favela tem. Meus
filhos brincam na calçada. Imagina se, um dia, esse local explodisse? Morreria todo mundo", disse o advogado Carlos Almeida Fonseca, 39.
A Folha não havia conseguido localizar os advogados dos
acusados até a conclusão desta
edição.
Texto Anterior: Pará: Juíza nega responsabilidade na prisão de garota com homens Próximo Texto: Mortes Índice
|