PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Assistir ao Carnaval de São Paulo é mais ou menos como ir à Fashion Week do Rio.
Aqui, a disputa pela cobertura é tão significativa que o repórter pode se credenciar no último minuto para o sambódromo; do mesmo jeito, no desfile de coleções carioca a produção disponibiliza hotel, transporte e acesso irrestrito aos camarins para conversar com estilistas e modelos.
A animação na arquibancada do Anhembi, por volta das 22h, é mais ou menos como a da Marquês de Sapucaí às 7h do outro dia. Dezenas de lugares vagos, nada de "muvuca".
Está todo mundo sentadinho, ninguém joga nada em quem está na pista nem xinga a mãe; bate até um um ventinho frio na concentração.
Na Sapucaí, a escola vai sair e a animação no aquecimento é grande: gente se pegando suada, bebendo cerveja quente e fazendo xixi no chão. O carioca acha um tesão.
A inesgotável auto-celebração no Rio faz o povo da Fashion Week local chegar as palmas à passagem das modelos.
Se a música é animada, há quem acompanhe e assovie alto, como se fosse um show do Lulu Santos.
No sambódromo do Anhembi, lá vem a monumental Louise Altenhofen, coitadinha, e pouca gente na avenida se dá conta; enquanto isso, no Rio, Preta Gil é rainha da bateria da Mangueira, uma instituição.
O equivalente da filha de Gil, em São Paulo, é a mulher do cantor Belo, Viviane Araújo, uma louraça estilo belzebu, que tem assessora de imprensa distribuindo santinho com foto da cliente na concentração.
No primeiro ano da reportagem no sambódromo paulistano, as celebridades eram Solange Frazão, Olivier Anquier, Frank Aguiar e modelos da... Fashion Week.
Antes da entrada da escola, uma jovem seminua de aparelho nos dentes liga ansiosíssima para a mãe para avisar que foi entrevistada por uma repórter da Record.
"Liga a TV rápido mãe!", ela grita, magrinha, dentro de um biquíni murcho.
No fim das contas, só há uma comparação possível entre o contagiante Carnaval carioca e a poderosa Fashion Week de São Paulo. Basta um para ver todos.