São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

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ExcelAire critica a divulgação da transcrição de fitas

Proprietária do Legacy reclamou das traduções do inglês para o português e defendeu inocência de seus pilotos

Em nota, empresa criticou os "esforços para interpretar pedaços" das conversas na cabine do jato fora de contexto

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Em nota divulgada nos EUA, a empresa ExcelAire, dona do jato Legacy envolvido no acidente com o Boeing da Gol, criticou a divulgação de conclusões antes do resultado das investigações técnicas. Reclamou, ainda, das traduções do inglês para o português que constam dos autos e defendeu a inocência dos pilotos.
Na nota, a empresa alegou que, por causa da "natureza complexa e técnica das investigações", todas as partes envolvidas devem permitir que seja feita uma análise completa de todos os fatos pelos investigadores profissionais, antes de se tentar chegar a conclusões sobre as causas do acidente.
A nota, divulgada após a Folha publicar, no domingo, trechos da caixa-preta do Legacy, diz que "infelizmente, muitas das conversações atribuídas aos pilotos foram traduzidas incorretamente do inglês".
Além disso, criticou os "esforços para interpretar pedaços" dessas conversas, fora de contexto, especialmente porque a não-familiaridade com os assuntos de aviação pode causar incompreensões e erros. "O perigo só aumenta quando a informação é de natureza altamente técnica e quando envolve tradução", diz a nota.
As transcrições que a Folha publicou dos diálogos entre os pilotos norte-americanos Joe Lepore e Jan Paladino foram feitas pela NTSB (National Transportation Safety Board), de Washington (EUA) e constam dos inquéritos simultâneos das autoridades aeronáuticas e da Polícia Federal já traduzidas para o português.
A Folha copiou os principais trechos já na versão traduzida para o português em mãos dos investigadores brasileiros.

"Complemente falsas"
A nota da empresa diz que a caixa-preta mostra que são "completamente falsas" as acusações iniciais de que os pilotos teriam tentado brincar com o avião durante o vôo.
Em seguida, discute uma questão central: o plano de vôo original previa três níveis, mas o Legacy manteve-se durante todo o trajeto em 37 mil pés, altitude em que se chocou com o Boeing em pleno ar.
De acordo com a empresa, as transcrições "revelam que o plano de vôo do Legacy foi modificado pelo controle de tráfego aéreo antes da decolagem e de novo durante o vôo".
Pelas explicações dadas à Folha, ontem, por telefone, a empresa considera que o avião teve duas autorizações de vôo ("clearance"), uma pela torre de São José dos Campos (SP), para voar em 37 mil pés, e outra pelo Cindacta-1 (centro de Brasília), quando avisou que tinha atingido aquela altura e não foi orientado a mudar para outra. Na alegação da empresa e dos advogados dos pilotos, quem determina o nível de vôo é o controle aéreo.
Pela nota, "todas as autoridades da investigação rejeitaram" a acusação de que os pilotos teriam desligando intencionalmente o transponder.
A empresa também contesta, fora de contexto, a informação publicada pela Folha de que as autoridades aeronáuticas suspeitam que um dos pilotos estaria usando um laptop e, por causa da tampa aberta sobre o painel, não tenha visto o transponder inoperante.
A nota diz que é usar laptops é prática comum nas cabines das aeronaves modernas no mundo todo. Isso é fato. Não fala, porém, da questão levantada: a possibilidade de o piloto não ter detectado problema com o transponder por causa da tampa do computador.


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