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ExcelAire critica a divulgação da transcrição de fitas
Proprietária do Legacy reclamou das traduções do inglês para o português e defendeu inocência de seus pilotos
Em nota, empresa criticou os "esforços para interpretar pedaços" das conversas na cabine do jato fora de contexto
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Em nota divulgada nos EUA,
a empresa ExcelAire, dona do
jato Legacy envolvido no acidente com o Boeing da Gol, criticou a divulgação de conclusões antes do resultado das investigações técnicas. Reclamou, ainda, das traduções do
inglês para o português que
constam dos autos e defendeu a
inocência dos pilotos.
Na nota, a empresa alegou
que, por causa da "natureza
complexa e técnica das investigações", todas as partes envolvidas devem permitir que seja
feita uma análise completa de
todos os fatos pelos investigadores profissionais, antes de se
tentar chegar a conclusões sobre as causas do acidente.
A nota, divulgada após a Folha publicar, no domingo, trechos da caixa-preta do Legacy,
diz que "infelizmente, muitas
das conversações atribuídas
aos pilotos foram traduzidas
incorretamente do inglês".
Além disso, criticou os "esforços para interpretar pedaços" dessas conversas, fora de
contexto, especialmente porque a não-familiaridade com os
assuntos de aviação pode causar incompreensões e erros. "O
perigo só aumenta quando a informação é de natureza altamente técnica e quando envolve tradução", diz a nota.
As transcrições que a Folha
publicou dos diálogos entre os
pilotos norte-americanos Joe
Lepore e Jan Paladino foram
feitas pela NTSB (National
Transportation Safety Board),
de Washington (EUA) e constam dos inquéritos simultâneos das autoridades aeronáuticas e da Polícia Federal já traduzidas para o português.
A Folha copiou os principais
trechos já na versão traduzida
para o português em mãos dos
investigadores brasileiros.
"Complemente falsas"
A nota da empresa diz que a
caixa-preta mostra que são
"completamente falsas" as acusações iniciais de que os pilotos
teriam tentado brincar com o
avião durante o vôo.
Em seguida, discute uma
questão central: o plano de vôo
original previa três níveis, mas
o Legacy manteve-se durante
todo o trajeto em 37 mil pés, altitude em que se chocou com o
Boeing em pleno ar.
De acordo com a empresa, as
transcrições "revelam que o
plano de vôo do Legacy foi modificado pelo controle de tráfego aéreo antes da decolagem e
de novo durante o vôo".
Pelas explicações dadas à Folha, ontem, por telefone, a empresa considera que o avião teve duas autorizações de vôo
("clearance"), uma pela torre
de São José dos Campos (SP),
para voar em 37 mil pés, e outra
pelo Cindacta-1 (centro de Brasília), quando avisou que tinha
atingido aquela altura e não foi
orientado a mudar para outra.
Na alegação da empresa e dos
advogados dos pilotos, quem
determina o nível de vôo é o
controle aéreo.
Pela nota, "todas as autoridades da investigação rejeitaram"
a acusação de que os pilotos teriam desligando intencionalmente o transponder.
A empresa também contesta,
fora de contexto, a informação
publicada pela Folha de que as
autoridades aeronáuticas suspeitam que um dos pilotos estaria usando um laptop e, por
causa da tampa aberta sobre o
painel, não tenha visto o transponder inoperante.
A nota diz que é usar laptops
é prática comum nas cabines
das aeronaves modernas no
mundo todo. Isso é fato. Não
fala, porém, da questão levantada: a possibilidade de o piloto
não ter detectado problema
com o transponder por causa
da tampa do computador.
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