São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

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Zé Celso reúne 700 pessoas em solidariedade a famílias sem teto

Moradores de prédio na avenida Prestes Maia devem deixar o local até o dia 25

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 700 pessoas -estudantes universitários e secundaristas de bons colégios particulares, camelôs, faxineiros e domésticas- reuniram-se ontem para cantar e dançar com o diretor de teatro José Celso Martinez Correa. O cenário da festa foi o edifício na avenida Prestes Maia número 911 (centro de São Paulo), uma favela vertical de 21 andares, há 52 meses a moradia de 468 famílias sem teto.
José Celso e os atores do Teatro Oficina solidarizavam-se aos 1.724 moradores do prédio da Prestes Maia (315 crianças e 380 adolescentes), que por ordem judicial devem ser expulsos do local até o próximo dia 25 de fevereiro, em uma ação de reintegração de posse em que serão usadas forças da polícia militar. Os sem teto prometem resistir.
Intelectuais como Alfredo Bosi, Ecléa Bosi, Moacyr Scliar, Paulo Arantes, Otília Arantes e Rodrigo Naves, entre outros, assinaram na semana passada manifesto em que apelam aos "poderes públicos" por uma solução urgente que, "em nome da urbanidade, detenha a catástrofe que se anuncia". Referem-se ao fato de o destino provável dos moradores ser a rua.
O edifício da Prestes Maia já foi de uma empresa têxtil. Arrematado em leilão, ficou fechado por 12 anos e nunca foi registrado pelos novos proprietários, que também não pagaram IPTU durante todo esse período, acumulando dívidas com a Prefeitura que já superam o valor venal da propriedade.
Em novembro de 2002, famílias ligadas ao Movimento dos Sem-Teto do Centroi, o Prestes Maia acabou transformando-se em moradia para uma maioria de camelôs e outras profissões de baixa renda -faxineiros, carregadores do Mercado Municipal e bolivianos que trabalham em confecções controladas por empresários coreanos.
Sem elevadores funcionando, os moradores dos andares altos têm de carregar mantimentos e botijões de gás nas costas escadas acima (lembrando: são 21 andares). Quando a bomba d'água quebra, também têm de carregar baldes cheios.
Apesar dos inconvenientes, hoje a maioria dos "barracos" (é assim que os moradores se referem às unidades habitacionais, nunca chamadas de apartamentos) têm televisão, cama, fogão e geladeira.
O condomínio ganhou uma biblioteca com mais de 10.000 títulos, formada por iniciativa do catador de papel Severino Manoel de Souza. No local, realizam-se oficinas de alfabetização e reciclagem, produção de documentários, exposições de arte, concertos (o CoralUSP apresentou-se no local), além de seminários com professores e intelectuais, como Aziz Ab"Saber e Maria Rita Kehl.
Na festa com o diretor José Celso, crianças brincavam com luvas cirúrgicas infladas de ar, enquanto bonecos representando o prefeito Gilberto Kassab e o secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo.


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