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Zé Celso reúne 700 pessoas em
solidariedade a famílias sem teto
Moradores de prédio na avenida Prestes Maia devem deixar o local até o dia 25
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 700 pessoas -estudantes universitários e secundaristas de bons colégios particulares, camelôs, faxineiros e
domésticas- reuniram-se ontem para cantar e dançar com o
diretor de teatro José Celso
Martinez Correa. O cenário da
festa foi o edifício na avenida
Prestes Maia número 911 (centro de São Paulo), uma favela
vertical de 21 andares, há 52
meses a moradia de 468 famílias sem teto.
José Celso e os atores do Teatro Oficina solidarizavam-se
aos 1.724 moradores do prédio
da Prestes Maia (315 crianças e
380 adolescentes), que por ordem judicial devem ser expulsos do local até o próximo dia
25 de fevereiro, em uma ação
de reintegração de posse em
que serão usadas forças da polícia militar. Os sem teto prometem resistir.
Intelectuais como Alfredo
Bosi, Ecléa Bosi, Moacyr Scliar,
Paulo Arantes, Otília Arantes e
Rodrigo Naves, entre outros,
assinaram na semana passada
manifesto em que apelam aos
"poderes públicos" por uma solução urgente que, "em nome
da urbanidade, detenha a catástrofe que se anuncia". Referem-se ao fato de o destino provável
dos moradores ser a rua.
O edifício da Prestes Maia já
foi de uma empresa têxtil. Arrematado em leilão, ficou fechado
por 12 anos e nunca foi registrado pelos novos proprietários,
que também não pagaram IPTU durante todo esse período,
acumulando dívidas com a Prefeitura que já superam o valor
venal da propriedade.
Em novembro de 2002, famílias ligadas ao Movimento dos
Sem-Teto do Centroi, o Prestes
Maia acabou transformando-se
em moradia para uma maioria
de camelôs e outras profissões
de baixa renda -faxineiros,
carregadores do Mercado Municipal e bolivianos que trabalham em confecções controladas por empresários coreanos.
Sem elevadores funcionando, os moradores dos andares
altos têm de carregar mantimentos e botijões de gás nas
costas escadas acima (lembrando: são 21 andares). Quando a
bomba d'água quebra, também
têm de carregar baldes cheios.
Apesar dos inconvenientes,
hoje a maioria dos "barracos" (é
assim que os moradores se referem às unidades habitacionais, nunca chamadas de apartamentos) têm televisão, cama,
fogão e geladeira.
O condomínio ganhou uma
biblioteca com mais de 10.000
títulos, formada por iniciativa
do catador de papel Severino
Manoel de Souza. No local, realizam-se oficinas de alfabetização e reciclagem, produção de
documentários, exposições de
arte, concertos (o CoralUSP
apresentou-se no local), além
de seminários com professores
e intelectuais, como Aziz
Ab"Saber e Maria Rita Kehl.
Na festa com o diretor José
Celso, crianças brincavam com
luvas cirúrgicas infladas de ar,
enquanto bonecos representando o prefeito Gilberto Kassab e o secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo.
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