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Após um ano, polícia ainda não concluiu investigação sobre trote
Rapaz disse ter sido espancado dentro da sala de aula; 3 acusados foram identificados
CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em seu primeiro dia de aula
no curso de publicidade, Márcio Marques da Silva, 25, disse
que foi espancado em uma sala
da Uninove da Barra Funda
(zona oeste de SP) por ter se recusado a participar do trote.
Após um ano, o inquérito policial ainda não foi concluído e os
agressores não foram punidos.
A delegada Renata Corrêa,
que conduz o caso, disse que
três acusados da agressão já foram identificados, mas que algumas pessoas ainda serão ouvidas -o rapaz afirma que quatro alunos bateram nele. Ela
disse que o inquérito foi para a
Justiça no início do mês. O último registro do processo no fórum foi sua devolução para a
delegacia em 17 de outubro.
O conselheiro da OAB-SP Ricardo Cabezón diz que "não é
normal ter uma dilação de prazo sem fundamento". A lei prevê que os inquéritos sejam concluídos em até 30 dias, prorrogáveis até a prescrição do crime. O ideal, disse, é que não haja prorrogação: "Fica uma sensação de impunidade".
O advogado do estudante,
Rogério Honda, que entrou no
caso em dezembro, disse que
vai apurar a demora junto à
Corregedoria da Polícia Civil.
Além do processo criminal,
ele também vai mover ação no
próximo mês por danos morais
e materiais contra a Uninove e
os agressores, pelo "abalo psicológico" sofrido por Silva.
O estudante diz que ficou um
mês e meio fazendo tratamento
psicológico, avaliações médicas
e teve que ficar um semestre
sem estudar. Ele pedirá cerca
de R$ 300 mil de indenização.
Sobre o andamento da ação,
ele disse já esperar a demora,
porque "a Justiça do Brasil é
lenta". Hoje, Silva estuda na
UniSant'Anna, onde afirma
não haver trote. "É que muitos
policiais estudam lá, vão de
uniforme mesmo e isso inibe."
Na segunda-feira, primeiro
dia de aula dos veteranos da
Uninove, não havia sinal de trote em frente à unidade Barra
Funda. Policiais militares no
local disseram não ter visto trote nem no dia 10 -início das aulas para os calouros.
A Folha falou com dez calouros. Cinco disseram ter visto
veteranos pintando rostos de
calouros na semana passada.
Dois desconfiaram quando a
Folha perguntou se eram calouros ou veteranos: "É trote?".
Só um calouro, da administração, descreveu uma recepção mais agressiva. "Saí pelos
fundos porque uns veteranos
falaram "vocês são calouros, sai
[sic] fora, senão vão apanhar"."
Segundo ele, cerca de 20 veteranos forçavam as pessoas a
beberem na porta da escola. "Vi
algumas meninas chorando,
bêbadas e pintadas, no metrô."
Com medo, ele não voltou às
aulas entre quarta e sexta-feira.
A Uninove disse que neste
ano não foram registradas
ocorrências de trote dentro e
no entorno da universidade.
Afirmou ainda que não pode se
pronunciar sobre a punição aos
supostos agressores de Silva
pois o caso está "sub judice".
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