São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Após um ano, polícia ainda não concluiu investigação sobre trote

Rapaz disse ter sido espancado dentro da sala de aula; 3 acusados foram identificados

CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em seu primeiro dia de aula no curso de publicidade, Márcio Marques da Silva, 25, disse que foi espancado em uma sala da Uninove da Barra Funda (zona oeste de SP) por ter se recusado a participar do trote. Após um ano, o inquérito policial ainda não foi concluído e os agressores não foram punidos.
A delegada Renata Corrêa, que conduz o caso, disse que três acusados da agressão já foram identificados, mas que algumas pessoas ainda serão ouvidas -o rapaz afirma que quatro alunos bateram nele. Ela disse que o inquérito foi para a Justiça no início do mês. O último registro do processo no fórum foi sua devolução para a delegacia em 17 de outubro.
O conselheiro da OAB-SP Ricardo Cabezón diz que "não é normal ter uma dilação de prazo sem fundamento". A lei prevê que os inquéritos sejam concluídos em até 30 dias, prorrogáveis até a prescrição do crime. O ideal, disse, é que não haja prorrogação: "Fica uma sensação de impunidade".
O advogado do estudante, Rogério Honda, que entrou no caso em dezembro, disse que vai apurar a demora junto à Corregedoria da Polícia Civil.
Além do processo criminal, ele também vai mover ação no próximo mês por danos morais e materiais contra a Uninove e os agressores, pelo "abalo psicológico" sofrido por Silva.
O estudante diz que ficou um mês e meio fazendo tratamento psicológico, avaliações médicas e teve que ficar um semestre sem estudar. Ele pedirá cerca de R$ 300 mil de indenização.
Sobre o andamento da ação, ele disse já esperar a demora, porque "a Justiça do Brasil é lenta". Hoje, Silva estuda na UniSant'Anna, onde afirma não haver trote. "É que muitos policiais estudam lá, vão de uniforme mesmo e isso inibe."
Na segunda-feira, primeiro dia de aula dos veteranos da Uninove, não havia sinal de trote em frente à unidade Barra Funda. Policiais militares no local disseram não ter visto trote nem no dia 10 -início das aulas para os calouros.
A Folha falou com dez calouros. Cinco disseram ter visto veteranos pintando rostos de calouros na semana passada. Dois desconfiaram quando a Folha perguntou se eram calouros ou veteranos: "É trote?".
Só um calouro, da administração, descreveu uma recepção mais agressiva. "Saí pelos fundos porque uns veteranos falaram "vocês são calouros, sai [sic] fora, senão vão apanhar"."
Segundo ele, cerca de 20 veteranos forçavam as pessoas a beberem na porta da escola. "Vi algumas meninas chorando, bêbadas e pintadas, no metrô." Com medo, ele não voltou às aulas entre quarta e sexta-feira.
A Uninove disse que neste ano não foram registradas ocorrências de trote dentro e no entorno da universidade. Afirmou ainda que não pode se pronunciar sobre a punição aos supostos agressores de Silva pois o caso está "sub judice".


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: De 40 denúncias contra trote na UEL, oito viram processo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.