São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2009

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Para especialistas, falta diálogo com morador e diagnóstico de violência

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Três especialistas em segurança elogiam o megapacote anunciado para Paraisópolis, mas fazem ressalvas que consideram importante. Ei-las:
1. Faltou diálogo com a comunidade da favela para elaborar o pacote;
2. Se houvesse um diagnóstico mais preciso da questão da violência, poderia ser criado um programa menos genérico e mais econômico;
3. Usar a cultura para combater a violência pode passar a falsa ideia de que cultura é só isso, e não um direito de todos.
Os autores dessas três ressalvas são, respectivamente, a antropóloga Paula Miraglia, diretora do Ilanud (divisão das Nações Unidas voltada para a prevenção de conflitos), e os sociólogos Cláudio Beato, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), e Renato Sérgio de Lima, coordenador do Fórum Nacional de Segurança, entidade que reúne pesquisadores de violência no país.
"É sempre bom o Estado dar as caras em lugares como Paraisópolis", afirma Miraglia. "Mas isso não suprime a necessidade de dialogar com a comunidade". Essa falha, segundo ela, pode ser facilmente sanada, já que é possível iniciar essas conversas agora.
Beato, coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG, diz que um pacote de 80 itens tem uma probabilidade muito grande de funcionar. "Mas, se tivesse um diagnóstico preliminar mais preciso, a prefeitura poderia ter uma ação mais focada e gastar menos."
O pesquisador diz não ter visto até agora uma análise clara sobre as razões do levante na favela na semana retrasada. "Não dá para saber se o problema principal de Paraisópolis é o crime organizado, as gangues de jovens, a ausência de polícia. Sem essa análise, a violência pode continuar do mesmo tamanho daqui a um ano."
Lima considera esse tipo de pacote eficiente. No entanto, segundo ele, "o Estado não tem gente, recursos e capacidade gerencial para aplicar esse mesmo tipo de programa para outras áreas violentas". Ou seja, é um tipo de política que não pode ser generalizada.


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