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São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2003

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EDUCAÇÃO

Numa mesma rua da zona leste, alguns alunos são atendidos pelo sistema de transporte municipal e outros não

Vai-e-Volta faz vizinho ir a pé para escola

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Criança anda mais de dois quilômetros para ir à escola em Parelheiros, distrito da zona sul de SP


ARMANDO PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das principais vitrines da administração de Marta Suplicy (PT) na Prefeitura de São Paulo, o programa Vai-e-Volta, de transporte gratuito de estudantes, sofre críticas de usuários.
Alunos vizinhos, que moram na mesma rua ou em ruas próximas, entre dez metros e 150 metros uns dos outros, têm tratamento diferenciado no sistema. Com condições similares, alguns são transportados, outros não.
Isso acontece com alunos de quatro a 11 anos da Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Padre Manuel da Nóbrega ou da Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Ayres Martins Torres, uma ao lado da outra, em Itaquera, zona leste da cidade.
Os pais dos alunos sem transporte, que andam até 12 quilômetros por dia para levar e buscar os filhos, não sabem qual é o critério de escolha, já que todos moram perto uns dos outros, têm idades parecidas e não apresentam deficiência que impeça a locomoção.
Além da distância percorrida diariamente, as crianças enfrentam o risco de atravessar a avenida Jacu-Pêssego, movimentada via que corta o bairro e fica entre as escolas e suas casas.

Sem critério
Pais de alunos reclamam do que consideram confusão na escolha de quem será transportado.
"Não dá para entender qual o critério das escolas", diz José Paulino Nogueira, integrante da Associação Comunitária da Zona Leste. Seu filho Marcos Vinícius, 6, conseguiu transporte para a Emef Ayres Martins Torres. Ele mora no número 1.041 da rua Francisco Alarico Bérgamo.
Os três filhos de sua vizinha Joelma Quaresma Dionísio, que vivem a dez metros de Nogueira, no número 1.023, vão a pé. Fernanda, 4, estuda na Emei Padre Manuel da Nóbrega. Alessandra, 7, e Alex, 8, estão na Emef Ayres Martins Torres. Gastam uma hora por dia, ida e volta.
O filho de Eliane Maria da Silva, Bruno, 9, mora quase em frente à casa de Nogueira, no número 996 da rua Francisco Alarico Bérgamo, e estuda na mesma escola, mas não tem transporte.
Na mesma rua, outros dois casos de tratamento diferenciado. Os estudantes Camila, 8, e Cláudio, 6, que moram no número 893, têm perua garantida.
Thiago, 9, filho de Sérgio Pereira dos Santos, morador no número 923, a 20 metros de seus vizinhos, precisa ir a pé para a escola.
Há outros exemplos em ruas próximas. Na av. Padre Gregório Mafra, a 150 metros da rua Francisco Alarico Bérgamo, não têm transporte os filhos de Eliana Brito dos Santos (seis e 11 anos), Maria Cícera da Silva (um de 11 anos) e Ana Regina Firmino dos Santos (um de sete anos).
Em outra localidade próxima, a rua Francisco Rodrigues Seckler, Saulo, 7, e Silas, 10, filhos de Joana Silva Santos, também precisam ir a pé para a escola, apesar de a perua escolar passar por perto.

Problemas desde a criação
O programa Vai-e-Volta enfrenta dificuldades desde o início, em dezembro de 2001. Teve a licitação suspensa em abril do ano passado por "questões técnicas". Mesmo assim, foi anunciado com alarde na propaganda oficial da gestão Marta Suplicy, em junho.
Previa o transporte gratuito de 100 mil crianças, mas até o meio do ano passado atendia apenas 22% dos usuários selecionados. A prefeitura argumentava que faltavam profissionais habilitados para a condução das crianças.
A Secretaria Municipal da Educação afirma que agora já atingiu a meta de 100 mil estudantes transportados na cidade.


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