São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

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BANHO DE LOJA

No Bom Retiro, dizem os empresários coreanos que dominam a moda, não se copia idéias de outros, "adapta-se"

Confecções lançam 5 peças novas todo dia

DA REPORTAGEM LOCAL

Esqueça aquele dogma dos estilistas de que só existem duas coleções por ano: primavera-verão e outuno-inverno. No Bom Retiro, o tempo é mais acelerado: as lojas chegam a colocar até cinco peças novas por dia nas vitrines. É tática de guerrilha, dos ataques inesperados, aplicada à moda.
"Quem tem mais novidade vende mais", ensina a estilista Marisa Kono Chang, 36.
Não é segredo de ninguém que a matriz desse turbilhão de idéias são estilistas europeus, americanos e brasileiros, sem muita distinção -o Bom Retiro copia de Prada a Alexandre Herchcovitch.
Em vez de cópia, os estilistas preferem falar em "adaptação". "Temos de adaptar a roupa ao corpo da brasileira. E aqui não é frio como na Europa", diz Marisa.
Há mais de um método para as lojas colocarem em velocidade relâmpago nas vitrines roupas que acabaram de ser vistas nas passarelas européias. Os empresários mais opulentos viajam duas vezes por ano para Milão, Paris e Londres e trazem revistas e fotos que fazem nas lojas ou nas ruas.

Olheiras
Aqueles que têm menos posses organizam uma espécie de cooperativa -dez deles, por exemplo, pagam a passagem de uma olheira e o material coletado é socializado na volta ao Brasil.
A velocidade espantosa com que o bairro da área central de São Paulo mimetiza a moda européia já virou até anedota internacional. Numa palestra que deu no Brasil a convite da Fenit, a francesa Emanuele Linard, do escritório de consultoria Trend Union, que estuda comportamentos do consumidor, recomendou que os lojistas brasileiros pesquisassem não só os grandes estilistas de Paris, mas a moda mais barata de magazines como Zara (espanhol) e Naif-Naif (francês).
Quem não tivesse dinheiro para ir a Paris, segundo Linard, não precisava ficar desesperado: podia fazer o mesmo tipo de pesquisa de tendências no Bom Retiro.
Vivi Haydar, 54, diretora das feiras têxteis da Alcântara Machado, diz que a rapidez dos lojistas não é lenda. Há um mês, conta, encontrou várias coreanas em Paris. "Dez dias depois da volta, a moda que vi em Paris já estava no Bom Retiro. Os coreanos são inovadores e muito agressivos".


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