São Paulo, quarta-feira, 21 de março de 2007

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FAB não trabalha com hipótese de sabotagem

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar do alto grau de desconfiança com os controladores e de sucessivas falhas de equipamentos usados no tráfego aéreo, a suspeita de sabotagem na pane de domingo não prospera no Comando da Aeronáutica, que trabalha silenciosamente para reestruturar o setor enquanto segue a indefinição do governo federal.
Segundo a FAB, a sindicância está em fase técnica e os controladores só serão investigados se houver indício de interferência humana na pane, o que é considerado improvável porque a falha foi no programa do servidor central e, depois, houve dificuldade no acionamento do servidor de reserva do sistema de planos de vôo.
A suspeita de sabotagem, citada em reunião no Palácio do Planalto anteontem, não interferiu na agenda do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que esteve ontem em Santiago, no Chile. Já o ministro da Defesa, Waldir Pires, passou o dia no gabinete e se negou a participar de uma entrevista coletiva à tarde ao lado do presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira.
Questionado por jornalistas, Pereira disse que o problema de domingo não foi uma sabotagem. Ele também participou da reunião de emergência com o presidente Lula na segunda.
No caso da pane de comunicações de 5 de dezembro no Cindacta-1, o erro foi humano, causado por imperícia de um técnico com patente oficial que acabou inocentado de dolo.

Sem acesso
Esses equipamentos não são acessíveis aos controladores. No Cindacta-1, os equipamentos e servidores ficam no andar inferior à sala de controle e há sistema interno de vigilância.
Ao entrar no prédio, os controladores seguem diretamente para um elevador e digitam sua identificação para acessar a área onde trabalham e descansam. É onde ficam os consoles, com supervisores de equipe e de sala, além do oficial chefe.
Porém, existe a desconfiança do Comando da Aeronáutica com relação à conduta dos controladores, que estão insatisfeitos. Há relatos de insubordinação e atritos em salas de controle dos Cindactas.
Por um lado, controladores dizem que há "perseguição", "revanche" e ameaças veladas baseadas no resgate do regimento militar interno. Por outro, a Aeronáutica busca restabelecer a ordem após a insubordinação ligada à crise -de vazamentos de informações a ameaças de paralisação.
De fato, havia planos entre alguns controladores em Brasília para pressionar a Aeronáutica, mas a reportagem não ouviu menção a interferência direta com equipamentos.

Operação-padrão
A insatisfação dos controladores levou alguns a planejar radicalizações baseadas em aplicações ainda mais rigorosas das normas de segurança -a operação-padrão que vigora desde outubro, quando houve o acidente com o Boeing da Gol que matou 154 pessoas.
Segundo a Folha apurou, houve apenas uma ameaça mais séria, que quase se concretizou perto do Carnaval. Um grupo planejou a entrega coletiva dos cargos de supervisão, que são exercidos por controladores mais experientes. Sem supervisores, não há controle de tráfego.
O estopim seria a prorrogação do prazo de trabalho do grupo do governo que propôs a desmilitarização do setor. Porém, o grupo foi demovido de ações radicalizadas pelo presidente da Associação Nacional de Controladores de Tráfego Aéreo, Wellington Rodrigues.
"São seis meses de crise e não temos nenhuma sinalização positiva para o profissionais, só se fala em equipamentos", disse Rodrigues à Folha.
Para Jorge Botelho, representante da minoria civil de controladores, a suspeita de sabotagem "é mais uma idiotice".
Os controladores têm dois receios: perder o ministro aliado, Waldir Pires, na reforma ministerial e que a Aeronáutica tome as rédeas de uma "pseudo-desmilitarização", com migração de militares para cargos civis ou para a Defesa Aérea, mas sem perder a chefia do controle aéreo civil.
Para evitar isso, interessa que o caos permaneça em pauta, mas não há mobilização relativa à CPI do Apagão -que está em vias de ser enterrada pelos governistas na Câmara.


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