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FAB não trabalha com hipótese de sabotagem
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar do alto grau de desconfiança com os controladores e de sucessivas falhas de
equipamentos usados no tráfego aéreo, a suspeita de sabotagem na pane de domingo não
prospera no Comando da Aeronáutica, que trabalha silenciosamente para reestruturar o setor enquanto segue a indefinição do governo federal.
Segundo a FAB, a sindicância
está em fase técnica e os controladores só serão investigados se houver indício de interferência humana na pane, o que
é considerado improvável porque a falha foi no programa do
servidor central e, depois, houve dificuldade no acionamento
do servidor de reserva do sistema de planos de vôo.
A suspeita de sabotagem, citada em reunião no Palácio do
Planalto anteontem, não interferiu na agenda do comandante
da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que esteve ontem em
Santiago, no Chile. Já o ministro da Defesa, Waldir Pires,
passou o dia no gabinete e se
negou a participar de uma entrevista coletiva à tarde ao lado
do presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira.
Questionado por jornalistas,
Pereira disse que o problema
de domingo não foi uma sabotagem. Ele também participou
da reunião de emergência com
o presidente Lula na segunda.
No caso da pane de comunicações de 5 de dezembro no
Cindacta-1, o erro foi humano,
causado por imperícia de um
técnico com patente oficial que
acabou inocentado de dolo.
Sem acesso
Esses equipamentos não são
acessíveis aos controladores.
No Cindacta-1, os equipamentos e servidores ficam no andar
inferior à sala de controle e há
sistema interno de vigilância.
Ao entrar no prédio, os controladores seguem diretamente para um elevador e digitam
sua identificação para acessar a
área onde trabalham e descansam. É onde ficam os consoles,
com supervisores de equipe e
de sala, além do oficial chefe.
Porém, existe a desconfiança
do Comando da Aeronáutica
com relação à conduta dos controladores, que estão insatisfeitos. Há relatos de insubordinação e atritos em salas de controle dos Cindactas.
Por um lado, controladores
dizem que há "perseguição",
"revanche" e ameaças veladas
baseadas no resgate do regimento militar interno. Por outro, a Aeronáutica busca restabelecer a ordem após a insubordinação ligada à crise -de
vazamentos de informações a
ameaças de paralisação.
De fato, havia planos entre
alguns controladores em Brasília para pressionar a Aeronáutica, mas a reportagem não ouviu
menção a interferência direta
com equipamentos.
Operação-padrão
A insatisfação dos controladores levou alguns a planejar
radicalizações baseadas em
aplicações ainda mais rigorosas
das normas de segurança -a
operação-padrão que vigora
desde outubro, quando houve o
acidente com o Boeing da Gol
que matou 154 pessoas.
Segundo a Folha apurou,
houve apenas uma ameaça
mais séria, que quase se concretizou perto do Carnaval.
Um grupo planejou a entrega
coletiva dos cargos de supervisão, que são exercidos por controladores mais experientes.
Sem supervisores, não há controle de tráfego.
O estopim seria a prorrogação do prazo de trabalho do
grupo do governo que propôs a
desmilitarização do setor. Porém, o grupo foi demovido de
ações radicalizadas pelo presidente da Associação Nacional
de Controladores de Tráfego
Aéreo, Wellington Rodrigues.
"São seis meses de crise e não
temos nenhuma sinalização
positiva para o profissionais, só
se fala em equipamentos", disse Rodrigues à Folha.
Para Jorge Botelho, representante da minoria civil de
controladores, a suspeita de sabotagem "é mais uma idiotice".
Os controladores têm dois
receios: perder o ministro aliado, Waldir Pires, na reforma
ministerial e que a Aeronáutica
tome as rédeas de uma "pseudo-desmilitarização", com migração de militares para cargos
civis ou para a Defesa Aérea,
mas sem perder a chefia do
controle aéreo civil.
Para evitar isso, interessa
que o caos permaneça em pauta, mas não há mobilização relativa à CPI do Apagão -que
está em vias de ser enterrada
pelos governistas na Câmara.
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