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Ubatuba faz blitz antidengue em carros de turistas do Rio
Agentes encaminham passageiros e motoristas com sintomas para hospital
"Não temos casos desde agosto. Ação é para que isso seja mantido", diz secretário; para epidemiologista, medida é "antipática e ineficaz"
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
Para entrar em Ubatuba (a
224 km de São Paulo) durante o
feriado da Páscoa, automóveis
que vêm do Rio de Janeiro estão tendo de passar por uma
"blitz sanitária" montada pela
prefeitura do município paulista. A operação foi iniciada ontem e a previsão é que só termine hoje por volta das 15h. Ubatuba, no litoral norte paulista,
faz divisa com Paraty (RJ).
Em um posto da Polícia Rodoviária Federal na entrada da
cidade, na BR-101, cerca de 30
funcionários, entre agentes de
endemias e de enfermagem,
paravam os carros com placas
de municípios do Estado vizinho e faziam perguntas aos
passageiros e motoristas para
tentar identificar turistas que
pudessem estar contaminados
com o vírus da dengue.
Caso apresentassem sintomas da doença, eram encaminhados à Santa Casa de Ubatuba. Em uma hora, segundo a Secretaria de Saúde, cerca de 200
carros foram parados na blitz.
Pelo menos dez pessoas foram
encaminhadas ao hospital.
Até ontem, haviam sido registradas no Estado do Rio 48
mortes causadas pela doença. O
governo fluminense admitiu a
existência de uma epidemia.
Em Ubatuba, segundo o secretário de Saúde, Clingel Frota, a preocupação é que casos da
doença fossem registrados no
município. Isso poderia acontecer caso o mosquito Aedes aegipty, transmissor da doença,
atacasse uma pessoa já contaminada e, em seguida, picasse
alguém ainda não infectado.
"Não temos casos de manifestação da doença desde agosto, embora haja focos do mosquito. A ação é para que esse
quadro seja mantido. É importante que se saiba quem são as
pessoas com os sintomas, as cidades de origem delas e que
vieram pra cá com a dengue."
Ineficiência
Para o epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ
(Universidade Federal do Rio
de Janeiro), a barreira montada
em Ubatuba é "antipática e ineficaz". "Não se pode ter preocupação só com outras cidades. É
preciso controlar focos do mosquito transmissor da doença.
Se não tiver mosquito, ninguém vai espalhar dengue."
Segundo Medronho, a medida lembra o período em que
agentes dos Estados Unidos
realizavam testes para identificação do vírus da AIDS em
quem entrava no país.
"A pessoa pode estar com o
vírus incubador da doença que
ainda não se manifestou. Ela
vai passar pela barreira sanitária, e a cidade terá a falsa sensação de segurança. Além disso,
pode ser que uma pessoa tenha
um simples resfriado e seja levada ao hospital com suspeita
de dengue. É ineficaz", disse.
A reportagem não encontrou
representantes da Secretaria
da Saúde e Defesa Civil do Estado do Rio para falar sobre a
ação da Prefeitura de Ubatuba.
Segundo Frota, não houve
resistência por parte dos turistas que vieram do Rio.
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