São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2008

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Ubatuba faz blitz antidengue em carros de turistas do Rio

Agentes encaminham passageiros e motoristas com sintomas para hospital

"Não temos casos desde agosto. Ação é para que isso seja mantido", diz secretário; para epidemiologista, medida é "antipática e ineficaz"

MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA

Para entrar em Ubatuba (a 224 km de São Paulo) durante o feriado da Páscoa, automóveis que vêm do Rio de Janeiro estão tendo de passar por uma "blitz sanitária" montada pela prefeitura do município paulista. A operação foi iniciada ontem e a previsão é que só termine hoje por volta das 15h. Ubatuba, no litoral norte paulista, faz divisa com Paraty (RJ).
Em um posto da Polícia Rodoviária Federal na entrada da cidade, na BR-101, cerca de 30 funcionários, entre agentes de endemias e de enfermagem, paravam os carros com placas de municípios do Estado vizinho e faziam perguntas aos passageiros e motoristas para tentar identificar turistas que pudessem estar contaminados com o vírus da dengue.
Caso apresentassem sintomas da doença, eram encaminhados à Santa Casa de Ubatuba. Em uma hora, segundo a Secretaria de Saúde, cerca de 200 carros foram parados na blitz. Pelo menos dez pessoas foram encaminhadas ao hospital.
Até ontem, haviam sido registradas no Estado do Rio 48 mortes causadas pela doença. O governo fluminense admitiu a existência de uma epidemia.
Em Ubatuba, segundo o secretário de Saúde, Clingel Frota, a preocupação é que casos da doença fossem registrados no município. Isso poderia acontecer caso o mosquito Aedes aegipty, transmissor da doença, atacasse uma pessoa já contaminada e, em seguida, picasse alguém ainda não infectado.
"Não temos casos de manifestação da doença desde agosto, embora haja focos do mosquito. A ação é para que esse quadro seja mantido. É importante que se saiba quem são as pessoas com os sintomas, as cidades de origem delas e que vieram pra cá com a dengue."

Ineficiência
Para o epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a barreira montada em Ubatuba é "antipática e ineficaz". "Não se pode ter preocupação só com outras cidades. É preciso controlar focos do mosquito transmissor da doença. Se não tiver mosquito, ninguém vai espalhar dengue."
Segundo Medronho, a medida lembra o período em que agentes dos Estados Unidos realizavam testes para identificação do vírus da AIDS em quem entrava no país.
"A pessoa pode estar com o vírus incubador da doença que ainda não se manifestou. Ela vai passar pela barreira sanitária, e a cidade terá a falsa sensação de segurança. Além disso, pode ser que uma pessoa tenha um simples resfriado e seja levada ao hospital com suspeita de dengue. É ineficaz", disse.
A reportagem não encontrou representantes da Secretaria da Saúde e Defesa Civil do Estado do Rio para falar sobre a ação da Prefeitura de Ubatuba.
Segundo Frota, não houve resistência por parte dos turistas que vieram do Rio.


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